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Como a Williams, 2ª maior vencedora da F1, virou lanterna e está à venda?

Carro de George Russell, da Williams, durante teste de pré-temporada em fevereiro - Williams Racing
Carro de George Russell, da Williams, durante teste de pré-temporada em fevereiro Imagem: Williams Racing

Colunista do UOL

07/06/2020 04h00

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A notícia de que a Williams foi colocada oficialmente à venda no fim de maio não chegou a ser uma novidade no mundo da Fórmula 1. Afinal, a equipe vinha com resultados muito negativos dentro das pistas, e a chefe em exercício, Claire Williams, admitia que as finanças também não vinham bem. Mas o que fez com que a segunda equipe mais vencedora da história da categoria chegasse a esse ponto?

Os primeiros títulos da Williams na Fórmula 1 foram no começo dos anos 1980, mas a maioria das conquistas aconteceu nos anos 1990, quando o time contava com a dupla formada pelo projetista Adrian Newey e pelo diretor-técnico Patrick Head e com os motores Renault. Mas o domínio que o time teve em 1992, 1993, 1996 e 1997 foi sendo perdido. Mesmo tendo vencido corridas de lá para cá e conseguido um campeonato especialmente forte em 2003, a equipe nunca mais foi a mesma e ainda perdeu uma chance de ouro de dar uma guinada em sua história.

Newey Head - Arquivo - Arquivo
A dupla vitoriosa Newey e Head
Imagem: Arquivo

Colocar o time à venda não foi uma decisão fácil para a família que comanda o time, formado nos anos 1970, mas tem tudo para ser um passo positivo. O diretor-administrativo da Fórmula 1, Ross Brawn, declarou que há "pessoas sérias" interessadas na compra das ações da equipe, e o ex-acionista e hoje chefe da Mercedes, Toto Wolff, já adquiriu 5% da escuderia. Uma série de chances perdidas explica como o segundo maior vencedor da história da categoria hoje passa por dificuldades.

Williams perdeu chance em era de "gastança"

williams montoya - Reprodução/AP Photo/Rick Rycroft - Reprodução/AP Photo/Rick Rycroft
Montoya chegou a lutar pelo título em 2003
Imagem: Reprodução/AP Photo/Rick Rycroft

A primeira década do ano 2000 foi marcada pela enorme evolução na infraestrutura das equipes, muito em função do investimento de empresas de tecnologia e, principalmente, das grandes montadoras. Para se ter uma ideia, ainda que as escuderias que mais gastam hoje em dia - Ferrari, Mercedes e Red Bull - tenham orçamentos maiores que os líderes de antes da crise de 2008, o total gasto jamais chegou novamente ao que era investido na primeira década dos anos 2000. Isso, mesmo sem a correção da inflação.

Mas a Williams não se beneficiou dessa "gastança". O time chegou a ter uma parceria com a BMW, o que foi fundamental na campanha de 2003, mas Frank Williams não aceitou que a relação com os alemães se estreitassem a ponto de eles tomarem o controle da equipe, encerrando o acordo.

A BMW acabou comprando a Sauber em 2006 e a vendeu de volta a Peter Sauber em 2009, se tornando uma das montadoras que deixaram a Fórmula 1 em decorrência da crise de 2008. O time suíço não conseguiu manter o nível de investimento por uma série de motivos, mas teve uma herança muito importante: a fábrica de Hinwil foi totalmente reformulada pela BMW, que inclusive deixou para trás um excelente túnel de vento novinho.

Instabilidade foi a marca de 2006 a 2014

Maldonado Williams - AP Photo/Victor R. Caivano - AP Photo/Victor R. Caivano
Williams começou a depender do dinheiro trazido por pilotos como Maldonado
Imagem: AP Photo/Victor R. Caivano

Se o que marcou os anos dourados da Williams foi a constância de seu corpo técnico e da sua fornecedora de motor, no período do fim da parceria com a BMW, em 2005, até o início do contrato com a Mercedes, em 2014, a instabilidade tomou conta da equipe. Patrick Head deixou a direção técnica, várias reestruturações foram feitas no corpo técnico, e houve um vai-e-vem de fornecedores de motores. Foi durante essas temporadas que o time deixou de ser candidato a pódios e passou a estar mais tempo na segunda metade do grid, sendo oitavo ou nono colocado em cinco dos nove anos que se passaram até muita coisa mudar na Fórmula 1 em 2014.

Como a falta de resultados nas pistas implica em queda do interesse de patrocinadores e do dinheiro vindo dos direitos comerciais da categoria, o time começou a ficar mais dependente de pilotos pagantes, que ajudaram a manter as contas da equipe em dia, mas não trouxeram ganhos a médio prazo.

Time escolheu motor certo em 2014, mas não aproveitou

Massa Williams - Lars Baron/Getty Images - Lars Baron/Getty Images
Massa deixou a Williams no fim de 2017; desde então, nenhum brasileiro disputou a Fórmula 1
Imagem: Lars Baron/Getty Images

A Williams escolheu os motores Mercedes para começar a era híbrida da Fórmula 1, e os alemães fizeram, de longe, os melhores do grid. Com isso, a equipe voltou a figurar no pódio, na época em que Felipe Massa chegou ao time. Foram dois terceiros lugares nos campeonatos de 2014 e 2015, mas, como o piloto brasileiro costumava dizer, o carro começava o ano bem e terminava de forma mediana, deixando claro que as temporadas de menos investimento cobravam seu preço, já que o desenvolvimento aerodinâmico deixava a desejar.

Com o crescimento dos rivais, tanto no lado do chassi quanto do motor, uma vez que a Mercedes perdeu a vantagem que tinha no início da era híbrida, a Williams foi caindo no mundial de construtores até chegar ao décimo e último posto em 2018.

Stroll era luz no fim do túnel. Mas relação não deu certo

A Williams ainda teve outra chance de ressurgir a partir de 2016, quando começaram as negociações com o bilionário Lawrence Stroll, pai do piloto Lance Stroll. O projeto do canadense era adquirir o time, mas mais uma vez a família Williams se opôs, e a relação foi se desgastando com o tempo por uma série de decisões tomadas pelo comando da equipe que desagradaram o ex-parceiro.

O bilionário, então, liderou um consórcio para comprar o espólio da Force India, que entrou em processo de falência em 2018. Na "nova casa", Stroll está construindo outra fábrica e, usando o apelo da marca Aston Martin, novo nome da equipe em 2021, buscará aumentar o poderio comercial do time, que se tornou uma ótima aposta para o futuro, especialmente depois da série de medidas que foram tomadas para aumentar a competitividade do esporte pós-pandemia.

stroll williams - REUTERS/Maxim Shemetov - REUTERS/Maxim Shemetov
Investimento do pai de Lance Stroll acabou durando apenas duas temporadas
Imagem: REUTERS/Maxim Shemetov

E agora?

Após a saída dos Stroll, a Williams iniciou a relação com outra família bilionária canadense, a dos Latifi. Uma das empresas de Michael Latifi, pai do estreante do ano Nicholas, fez um empréstimo milionário para a empresa, tomando como garantia a coleção de carros e a fábrica.

Latifi, contudo, também tem ações na McLaren, e não é claro se o bilionário tem a intenção de comprar o time de Grove ou mesmo de ter o controle acionário, mantendo a família Williams no negócio.

Se, por um lado, a pandemia pode afastar possíveis interessados, por outro a Fórmula 1 está tentando criar um ambiente financeiro e técnico no qual a recuperação de um time como a Williams seja facilitada. Isso porque, a partir do ano que vem, a diferença de gastos entre as equipes será menor devido à imposição de um teto orçamentário, novos e mais igualitários contratos de divisão de dinheiro entrarão, em vigor e os últimos colocados do mundial vão ter o direito de desenvolver mais o seu carro. Essas medidas dão esperança para a escuderia voltar aos velhos tempos.