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Por que a Fórmula 1 não deve ir ao Brasil em 2020?

Max Verstappen e Lewis Hamilton dividem a primeira curva na largada do GP Brasil de 2019 - Lat Images
Max Verstappen e Lewis Hamilton dividem a primeira curva na largada do GP Brasil de 2019 Imagem: Lat Images

Colunista do UOL

11/07/2020 07h57

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De questões financeiras a restrições de viagens geradas pelo coronavírus, são vários os motivos que explicam o fato de o GP do Brasil, assim como as corridas dos Estados Unidos e México, não estarem nos planos da Fórmula 1 nesta temporada. A categoria anunciou apenas 10 etapas até o momento, mas deve divulgar o restante do calendário, sem passar pelas Américas, nos próximos dias, apesar das declarações do governador João Doria e do prefeito de São Paulo, Bruno Covas.

Primeiro, é preciso entender a realidade da própria Fórmula 1, que se tornou o primeiro grande evento esportivo a ser realizado na pandemia seguindo um protocolo bastante restrito mesmo estando há mais de uma semana em uma região da Europa, o estado da Estíria, na Áustria, que não tem casos ativos de coronavírus no momento. O país, inclusive, começou a sair do lockdown há quase três meses. Hoje, mesmo que a vida nos vilarejos que cercam o circuito, que é longe de grandes centros, siga normal, os profissionais da F1 são testados a cada cinco dias, trabalham usando máscaras o tempo todo e entram em contato com um número limitado de pessoas.

E, mesmo que a próxima corrida seja em Budapeste, capital da Hungria, todos os profissionais com passaporte britânico (que são maioria na categoria) ou de qualquer outra nacionalidade de fora da União Europeia não poderão deixar seus hoteis e serão escoltados até o circuito. Isso, mesmo que a capital húngara tenha tido apenas 2.000 casos confirmados ao longo da pandemia.

Também há motivos financeiros para a Liberty Media, que gere a F1, não estar considerando fazer corridas nas Américas, mesmo sendo locais comercialmente muito interessantes para a categoria.

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GP dos Estados Unidos, muito importante para a Liberty Media, também deve ficar de fora
Imagem: AFP PHOTO / Jim WATSON

Custos de transporte: O Brasil está sozinho no calendário (sem provas marcadas imediatamente antes e depois). Em um calendário normal, os carros e profissionais voltariam da dobradinha EUA-México para a Europa e seriam enviados ao país por via aérea, com parte dos equipamentos sendo enviada por via marítima, em navio vindo da Ásia. Isso faz com que o GP do Brasil, logisticamente, leve a um gasto maior que em outras etapas. E, embora a etapa brasileira seja de interesse de várias marcas ligadas ao esporte e com grande presença no país, a conta em si do GP sem pandemia já é alta.

Ao contrário das demais provas, Brasil não paga taxa: Isso porque, em um acordo que foi firmado pelo ex-detentor dos direitos comerciais da categoria, Bernie Ecclestone, e que foi muito importante para a manutenção da prova nos últimos anos, o Brasil não paga as taxas milionárias cobradas dos promotores. Hoje em dia, dificilmente uma prova realizada fora da Europa (ou seja, que gere custos mais altos de transporte para a F1) paga menos de 30 milhões para a Liberty Media por ano, dinheiro que vem principalmente da bilheteria e Paddock Club. Ou seja, uma corrida sem público não tem como arcar com essa taxa atualmente, e isso está afetando a possibilidade de a F1 sair da Europa para qualquer corrida. Tanto, que a única prova fora do mapa político da Europa confirmada até agora é a Rússia, que terá pelo menos 50% de público. O contrato do GP russo é um dos mais valiosos do calendário, superando os 50 milhões de dólares. A prova será realizada na região de Krasnodar, que tem menos de mil casos ativos de coronavírus e teve 83 mortes até aqui.

Restrições de viagem: Outro grande entrave no momento e cujo desenrolar é imprevisível são as restrições de viagens entre os países. Mesmo que o governo brasileiro permitisse a entrada dos profissionais da Fórmula 1, eles teriam que, pelo menos, respeitar quarentena na volta à Europa por determinação da União Europeia, algo inviável no meio do campeonato. É isso, inclusive, que está travando as negociações com a China no momento, ainda que a pandemia esteja bem mais sob controle no país em comparação com o Brasil, México ou Estados Unidos.

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Detalhe do Autódromo de Interlagos na cidade de São Paulo
Imagem: Duda Bairros/AGIF

Pista no meio da cidade: Sim, na semana que vem o "circo" da F1 estará na capital da Hungria (ainda que a pista fique em um lugar mais afastado, todos os profissionais se hospedam na cidade). Mas Budapeste não passou de 2.000 casos no total, sendo que o pico de infecções foi em março, e mesmo assim a corrida não terá público. Em São Paulo, a pista fica no meio de uma cidade que, até aqui, teve mais de 8.000 mortes e está chegando perto de 180.000 casos. São números que indicam que a União Europeia deve demorar para liberar totalmente o fluxo de pessoas não só do Brasil, mas de outros pontos do continente americano, da mesma maneira que está agindo com a China. A cidade de Xangai, que recebe a etapa da F1 (o circuito é localizado, na verdade, na Grande Xangai, em Jiading) não chegou a 1000 casos de coronavírus. A cidade está localizada a mais de 800km de Wuhan, o primeiro grande centro da pandemia.

A Fórmula 1 sabe que não será possível ter um calendário com 22 provas, como previsto no início do ano. Já são várias as etapas canceladas (Austrália, Mônaco, Holanda, França, Azerbaijão, Singapura e Japão) e é esperado o cancelamento de pelo menos mais quatro, todas nas Américas (além das três citadas anteriormente, Canadá, que teria oferecido apenas um milhão de dólares para receber a F1 sem público em 2020).

A saída que a Liberty encontrou é negociar com circuitos que estavam originalmente fora do calendário, mas estão localizados na Europa: a estreia de Mugello, na Itália, já foi confirmada, e também é esperado o anúncio da volta de Portugal ao calendário, em Portimão. Imola e Hockenheim estão na reserva caso China e Vietnã não sejam possíveis, e o campeonato terminaria no Oriente Médio, com provas, muito provavelmente com público, no Bahrein e em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, dois dos países que mais testaram sua população na resposta à pandemia.