Pilotos se esquivam de polêmica sobre Racing Point: "Corro com qualquer um"
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A Fórmula 1 tem neste final de semana apenas a terceira etapa do campeonato, mas já convive com uma briga técnica que pode alterar os resultados das provas nos bastidores. Ainda no domingo passado, após o GP da Áustria, a Renault entrou com um protesto contra a Racing Point, alegando que os dutos de freio do carro que ficou conhecido como a Mercedes cor-de-rosa devido à semelhança com o modelo de 2019 dos hexacampeões do mundo são irregulares.
Em Budapeste, no palco da terceira etapa do ano, os pilotos da Racing Point defenderam a equipe. "Não podemos esconder que parece mesmo a Mercedes", admitiu Sergio Perez. "O importante é não tirar o crédito do pessoal que fez um trabalho tremendo na fábrica. Foi o passo lógico para a equipe. Tenho confiança de que o carro é 100% legal."
Já do lado da Renault, Esteban Ocon e Daniel Ricciardo preferiram não comentar. "Não sei se o carro é legal ou não. Disputo com qualquer carro que esteja na pista. É uma pergunta mais para a equipe do que para nós", disse o francês.
Até mesmo Sebastian Vettel foi perguntado sobre o caso, já que está negociando com uma transferência para a Racing Point, que se tornará a Aston Martin ano que vem. O alemão disse que a polêmica não interfere em nada em sua decisão.
Já o chefe da Racing Point, Otmar Szafnauer, demonstrou tranquilidade de que sua equipe vai provar que o carro é legal. "Agora temos três semanas para juntar todas as evidências e provar que nosso carro é legal e é nisso que estamos trabalhando."
Entenda o caso
Mas por que a Renault escolheu justamente o duto de freio para questionar? Há no regulamento da Fórmula 1 uma lista de peças que têm de ser desenhadas por cada construtor, e outra lista de peças que podem ser compradas de outra equipe, como é o caso por exemplo da unidade de potência e do câmbio. Os dutos de freio migraram desta lista de peças que podem ser compradas para a outra justamente neste ano.
A Racing Point tem uma parceria com a Mercedes desde que o time se chamava Force India, e compra várias peças dos alemães. Foi justamente por usar o câmbio da Mercedes, inclusive, que eles decidiram deixar de tentar copiar o carro da Red Bull do ponto de vista aerodinâmico e passar a se inspirar, neste ano, na própria Mercedes. E o duto de freio era uma dos itens que a Racing Point comprava da Mercedes até o ano passado, ou seja, eles sabiam muito bem como ele funcionava.
Os dutos de freio também são parte importante da performance do carro, como explicou o diretor da Renault, Marcin Budkowski. "Eles são uma importante peça tanto na parte aerodinâmica do carro, quanto no controle da temperatura dos pneus, o que sabemos que é muito determinante para o rendimento."
Então, por um lado, o duto de freio não é como uma asa dianteira, por exemplo, que pode ser copiada pelo menos em parte por meio da observação de fotos. Os segredos do duto de freio são internos, então é uma peça muito mais difícil de copiar. Por outro lado, a Racing Point comprava a peça da Mercedes, então tinha mais informações que os outros.
Isso torna difícil separar o que seria o projeto deste ano da equipe e o que é simplesmente uma cópia. De qualquer maneira, a FIA aceitou o protesto e pediu todas as informações sobre o desenvolvimento da peça tanto na Racing Point, quanto na Mercedes.
O que pode acontecer?
Caso a FIA entenda que o projeto da Racing Point é um plágio, eles perderiam os pontos conquistados no GP da Estíria (e nas demais provas, caso haja novos protestos), e teriam de projetar outro duto de freio. No caso da Mercedes, não há motivos para punir a equipe justamente porque era uma peça que eles podiam vender até o ano passado.
Na primeira vez em que representantes da Renault e de outras equipes falaram sobre o caso, nesta sexta-feira na Hungria, ficou claro que o questionamento é importante até para a F1 entender qual seu futuro. Isso porque a queixa vem de uma equipe que não compra peças de outros, a Renault, e defende que a categoria siga sendo um campeonato de construtores, ou seja, em que cada carro é original.
Teoricamente, o regulamento deveria assegurar isso, mas várias peças entraram na lista do que pode ser comprado de outros times nos últimos anos para diminuir os gastos. Prova da eficácia disso é o fato de a única equipe que entrou no campeonato de 2010 para cá, a Haas, usar ao máximo este regulamento para comprar peças da Ferrari.
Embora este seja um modelo positivo para algumas equipes, ele é visto como injusto por outras, como a Renault e também a McLaren, como explicou o chefe Andreas Seidl. "O protesto é chave para termos algumas explicações, por parte da FIA e da F1, sobre o que eles querem que a categoria seja no futuro: eles querem um campeonato de cópias? Ou um campeonato com duas ou três montadoras? Nós definitivamente achamos que este seria o caminho errado para a F1, e não é um modelo sustentável para nós".
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