Por que protesto contra Racing Point pode ser decisivo para o futuro da F1?
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Os protestos que a Renault fez contra os dutos de freio do carro da Racing Point após os GPs da Estíria e da Hungria podem parecer uma briga técnica entre duas equipes do meio do pelotão à primeira vista, mas é a ponta do iceberg de uma série de questões que vêm sendo discutidas há anos na Fórmula 1. O que os franceses buscam é esclarecer qual o limite da cópia de peças, ou seja, de colaboração técnica entre uma equipe e outra.
O momento do protesto não é por acaso. As equipes estão negociando as extensões de seus contratos para continuar na Fórmula 1 além de 2020, em negociações que já estão levando muito mais tempo que o ideal. Os times dizem que, financeiramente, tudo está acertado, mas "faltam alguns detalhes". O chefe da Ferrari, Mattia Binotto, chegou a dizer no último final de semana que "a Ferrari está pronta para assinar, outros não". E, ao que tudo indica, é justamente o resultado desta briga que será decisivo, como indicou Marcin Budkowski, da Renault.
"Acho importante para nós ter clareza do que é permitido. Para esta temporada, a próxima e também para a F1 que queremos no futuro. Qual é o modelo que queremos? Queremos um modelo em que temos dez equipes lutando de forma independente uma com a outra, especialmente de um contexto mais justo em termos de orçamento [com a adoção do teto de gastos em 2021]. Então acho que há uma grande oportunidade, juntamente com as novas regras técnicas, de termos carros que possam seguir um ao outro de perto, ultrapassar, ter corridas melhores. E achamos que há uma grande oportunidade para o esporte ter dez equipes, talvez mais, em condições iguais. E para nós é importante esclarecer qual o nível de colaboração é permitido."
O que a Racing Point teria feito de errado?
Há vários motivos para a Renault ter escolhido protestar justamente o duto de freios, peça importante para resfriar os freios e que também traz ganhos aerodinâmicos: ela é difícil de ser copiada por observação, já que sua parte mais importante não é visível. E ela passou da lista de peças que podia ser comprada de uma equipe pela outra para a lista de equipes que cada equipe tem de projetar.
Na imagem abaixo, os dutos de freio da Red Bull, posicionados entre os freios e os braços da suspensão:
O chefe da Racing Point, Otmar Szafnauer, garante que "o projeto é único e a propriedade intelectual é totalmente nossa" e disse ainda que "o carro é 100% legal, não descumprimos nenhuma regra. Acho que vai ser inútil ficar discutindo a mesma coisa o tempo todo."
Embora pudesse ter comprado os dutos da Mercedes ano passado, a Racing Point não o fez, de acordo com Szafnauer. Ele se mostra tranquilo que os projetos de CAD entregues à FIA vão provar que todo o desenvolvimento das peças foi feito pela Racing Point, e não usando o projeto da Mercedes.
Esse é o limite, tecnicamente falando, que a Renault quer esclarecer: se uma equipe teve, legalmente (lembrando que isso era permitido até o ano passado), ao projeto de uma peça de outra equipe, o quanto ela pode se inspirar nisso? De quem é a propriedade intelectual neste caso?
Renault não está sozinha nos questionamentos
Está claro para quem é interessante que a FIA decida que uma equipe pode, sim, usar o projeto da outra em uma peça que antes poderia ser comprada legalmente. A Haas compra todas as peças que pode da Ferrari - e sua continuação na F1 passa pela possibilidade, inclusive, de ampliar essa parceria. Isso também é interessante para a AlphaTauri, de propriedade da Red Bull, e para Racing Point/futura Aston Martin, técnica e politicamente relacionada com a Mercedes. A Alfa Romeo é outra parceira da Ferrari.
Do outro lado, estão equipes que desenvolvem a maior parte de seus carros, mas que não têm lutado por vitórias nos últimos anos - Renault, McLaren e Williams. Com a definição do teto orçamentário e um regulamento completamente novo entrando em vigor em 2022, elas poderiam ter uma boa chance de mudar essa situação, mas se equipes tiverem acesso a projetos especialmente de um time tão vencedor como a Mercedes, eles podem repensar sua estratégia no esporte ou mesmo seu futuro.
Do lado da F1, Ross Brawn indica preferir permitir colaborações até mais amplas, já que existe a preocupação a respeito da saúde financeira dos times. "Na minha visão, copiar na F1 é o padrão. Toda equipe tem fotógrafos no pit lane tirando milhares de fotos de cada carro para os times analisarem e copiarem as melhores ideias. Costumávamos dar uma lista de compras para eles. A Racing Point só levou isso para outro nível", disse o diretor-técnico da F1.
É esperada uma decisão sobre o caso da Racing Point já no mês que vem. Se isso acontecer depois de alguma outra corrida, muito provavelmente a Renault repetirá o protesto, já que a reclamação visa excluir os resultados do time em cada etapa.
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