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Por que a Ferrari deu vexame na Bélgica e o que esperar do GP da Itália

Sebastian Vettel após ser 13º no GP da Bélgica com a Ferrari - Scuderia Ferrari Press Office
Sebastian Vettel após ser 13º no GP da Bélgica com a Ferrari Imagem: Scuderia Ferrari Press Office

Colunista do UOL

31/08/2020 08h13

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A Ferrari esperava sofrer no final de semana de GP da Bélgica devido a uma combinação de características que escancaria as deficiências do conjunto do time italiano. Grande parte delas vem da falta de potência do motor ferrarista neste ano, depois de uma investigação que gerou um acordo sigiloso com a FIA no início do ano. Mas o carro também não ajudou em nada Sebastian Vettel, 13º colocado na corrida, e Charles Leclerc, que chegou a se colocar em oitavo na largada e acabou sendo ultrapassado por vários carros, fez uma parada a mais nos boxes, e fechou em 14º. Foi o pior resultado da Ferrari desde o GP de Abu Dhabi de 2009.

E, pior: a próxima etapa da temporada será justamente na Itália e em outro circuito de alta velocidade, em Monza.

Para Vettel, não há como esperar um milagre. "Acho que há coisas que podemos aprender em relação ao que fizemos na Bélgica e, assim, melhorar. Mas por melhorar não quero dizer brigar pela vitória. Podemos ter um desempenho melhor do que neste final de semana."

Na verdade, é difícil pensar em um rendimento pior que o de Spa: Leclerc só escapou de ser eliminado no Q1 (algo que só aconteceu com a Ferrari por duas vezes, em classificações com chuva, desde que o sistema foi adotado, em 2006) por 87 milésimos, e as duas Ferrari terminaram atrás de um carro que usa o motor italiano, a Alfa Romeo de Kimi Raikkonen que, inclusive, ultrapassou Vettel na pista para ser 12º. Já Leclerc só conseguiu superar outro carro que leva motor Ferrari, a Haas de Romain Grosjean, na última volta. Ou seja, eles só conseguiram ficar à frente das Haas (que, além de usarem motor Ferrari, não serão atualizadas ao longo do ano, além de contarem com um orçamento mais que cinco vezes menor e comprarem grande parte do carro da própria Scuderia), e da Williams de Nicholas Latifi.

Belgica Ferrari - Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images - Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images
Vettel, Raikkonen e Leclerc no Grande Prêmio da Bélgica
Imagem: Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images

E Monza?

Mas há motivos concretos para Vettel acreditar em um vexame menor em Monza? Em Silverstone, a Ferrari conseguiu usar uma configuração de baixa pressão aerodinâmica para compensar a falta de velocidade de reta, que é apenas um dos problemas do carro. Isso deu certo e Leclerc até foi ao pódio, indicando o caminho a ser seguido para remediar parte dos problemas.

Mas esse carro que gera menos pressão aerodinâmica também coloca menos energia nos pneus, o que foi uma vantagem em Silverstone, ainda mais sob altas temperaturas. Na Bélgica, se tornou um problema, já que os pilotos sofriam para colocar os pneus na janela de temperatura adequada, deslizavam muito, e, com todo mundo usando menos asa por conta das longas zonas de aceleração da Bélgica, isso gerava dois subprodutos negativos: mesmo usando pouca carga aerodinâmica, a Ferrari era lenta demais na reta em relação aos demais em grande parte pelo motor, e porque seu carro naturalmente gera mais arrasto, e isso ficou mais visível porque todos usavam configurações semelhantes, ao contrário de Silverstone; e os pneus frios faziam os pilotos deslizarem nas curvas e perderem ainda mais tempo. Sem aderência e sem velocidade, a Ferrari virou time pequeno em Spa.

Em Monza, eles poderão ser mais radicais ao tirar a carga aerodinâmica porque há menos curvas que em Spa, e as temperaturas prometem ajudar, com máxima de 28ºC e sol no sábado e no domingo. Mas é aí que entra o alerta de Vettel: isso só deve fazer o time ir de um vexame para um resultado muito ruim em casa.

"Ferrari focou nas áreas erradas"

A comparação é inevitável: a Ferrari venceu com propriedade os GPs da Bélgica e da Itália, algo que ainda não foi totalmente digerido pelos rivais, como ficou claro após a prova do domingo. Desconfiando desde 2018 que a Ferrari fazia algo irregular com o motor, Red Bull e Mercedes foram fundamentais para pressionar a FIA a analisar a fundo a unidade de potência italiana, com atenção especial ao uso de energia e ao fluxo de combustível. "É uma história que nos deixa com um gosto amargo na boca", disse Christian Horner, chefe da Red Bull. "Todos podemos tirar nossas conclusões sobre o rendimento atual da Ferrari, mas acredito que, ano passado, houve várias corridas que poderíamos ter vencido caso eles estivessem usando o motor atual, que parece ser bem diferente daquele que eles tinham há doze meses."

Horner disse ainda que a situação da Ferrari é difícil porque "nos últimos anos, a atenção deles ficou concentrada nas áreas erradas, e este é o motivo pelo qual hoje eles parecem ter um pouco de dificuldade."

O chefe da Mercedes, Toto Wolff, disse concordar com Horner. Após uma longa pausa, quando perguntado sobre o assunto, o austríaco disse: "A Ferrari é uma marca icônica e uma companhia de pessoas fantásticas, então não quero colocar lenha no fogo. Mas no ano passado e em 2018 ficamos muito estressados e sofremos com essa situação", referindo-se ao fato de a Mercedes ter perdido, momentaneamente, o posto de detentora do melhor motor da F1, que tinha desde que as atuais unidades de potência foram adotadas, em 2014. "Houve algumas pessoas que chegaram no limite da pressão a ponto de terem que cuidar de sua saúde, e é por isso que me alinho ao comentário de Christian."

Após sete etapas disputadas em 2020, a Ferrari está em quinto lugar no Mundial de Construtores e, além do GP da Itália, o time tem pela frente outra prova em casa (essa, literalmente, pois a Scuderia é dona do circuito) em Mugello, na qual vai comemorar 1000 GPs na F1.