Como Gasly ganhou e raro erro da Mercedes: 6 lições de uma "corrida maluca"
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O Grande Prêmio da Itália caminhava para mais uma vitória tranquila de Lewis Hamilton, com algumas brigas atrás dele - ou seja, seria mais uma corrida comum da temporada 2020.
Porém, assim como aconteceu no fim do GP da Grã-Bretanha, bastaram detalhes para virar a prova de cabeça para baixo, permitindo a primeira vitória de uma equipe fora do trio Mercedes, Ferrari e Red Bull na era híbrida da Fórmula 1 - ou seja, desde 2014. Pierre Gasly teve sorte e teve ritmo com a AlphaTauri, em prova que deixou algumas lições para a categoria.
Correr "de cara para o vento" é fundamental
"Quando eu vi o ritmo que conseguia adotar pensei 'queria ter mais corridas assim'", disse o vencedor Pierre Gasly. De fato, ele não está acostumado a correr "de cara para o vento", sem nenhum rival à frente, especialmente no meio do pelotão, que tem sido tão competitivo nos últimos anos. O carro de Fórmula 1 depende muito da aerodinâmica e rende melhor quando não há turbulência, algo que já é sentido fortemente se há um carro 5 ou 6s à frente.
Andar na liderança vai ajudando o funcionamento de tudo: os pneus tendem a deslizar menos, as temperaturas ficam mais sob controle, e a vida do piloto é mais tranquila. Não dá para dizer que, correndo "de cara para o vento", até uma AlphaTauri vira Mercedes, mas definitivamente largar na ponta tem sido muito importante para o domínio do time alemão, como também era para a Red Bull, nessa era de pneus de alta degradação da Pirelli.
Mercedes sofre no meio de outros carros
Isso tem relação com o primeiro item e não é novidade, mas como o "roteiro" das corridas dos últimos seis anos tem sido ver as Mercedes desaparecerem na frente, ou pelo menos uma delas, isso gera a impressão de que a vantagem deles é maior do que realmente é.
O carro da Mercedes é projetado para comandar as corridas com "a cara para o vento", principalmente neste fim de semana, em que os pilotos estavam usando configurações com mais asa traseira e estavam mais lentos de reta até que o normal (ainda mais no caso de Bottas, terceiro carro mais lento na classificação).
Foi só o finlandês perder posições na largada que começou até a estranhar como o carro piorou. "Ele disse que estava sentindo algo no carro que não tinha sentido antes, e achamos que era só turbulência, que fez com que o carro perdesse aderência", explicou Andrew Shovlin, diretor de engenharia da equipe.
Como Hamilton é um piloto mais adaptável e estava lutando contra carros mais lentos no fim na corrida no fim do pelotão, ele conseguiu passar nove carros em 14 voltas, muitas vezes focando mais em ganhar na saída das curvas do que tentando passar na reta. Ou seja, ele teve que improvisar porque o carro não é tão bom assim no tráfego.
Detalhes fazem muita diferença
A sorte de Gasly para vencer não teve a ver somente com ter parado antes do Safety Car ou ter visto Hamilton ser punido: depois que o carro andou sempre dentro do top 10 na sexta-feira, eles optaram por usar um pouco mais asa. Ou seja, aceitaram perder um pouco de velocidade na reta para ganhar em estabilidade no contorno de curva, o que ajuda no segundo setor e, principalmente, a cuidar dos pneus. E esse detalhe foi fundamental nas voltas finais: a McLaren tinha um carro mais rápido no geral, mas primeiro Sainz sofria com a turbulência e, segundo, perdia para Gasly no segundo setor e não conseguia chegar colado o suficiente na reta principal e no grande ponto de ultrapassagem da pista.
A Mercedes também erra
O erro em chamar Lewis Hamilton para os boxes sem perceber que eles estavam fechados foi explicado de maneira curiosa pela equipe. "Cada uma das mensagens que a direção de prova coloca no sistema gera um alerta já automatizado no nosso. Mas nós não temos algo do tipo para este tipo de situação", explicou Shovlin.
Precisando que alguém visse a mensagem, a equipe demorou demais para perceber o erro, e Hamilton já tinha parado. Como foi um erro que somente eles e a Alfa Romeo cometeram, mostra que, ainda que seja incomum que os pits estejam fechados (isso só aconteceu porque o carro de Magnussen, que causou o Safety Car, estava parado bem na entrada do box), as outras equipes estavam mais bem preparadas para este cenário que a Mercedes.
Relargada no grid funciona
A opção de fazer relargadas no grid, - ou seja, com os pilotos alinhados da mesma forma que em uma largada normal -, já está nas regras há algumas temporadas, mas essa foi a primeira vez que o diretor de provas Michael Masi usou essa opção. E foi algo que serviu para movimentar a relargada, com os pilotos surpresos pela diferença de largar com muito menos combustível em relação ao que estão acostumados. Foram quase dez trocas de posição apenas na primeira volta após essa relargada, algo muito incomum em um recomeço normal, atrás do Safety Car. Ter passado por essa experiência largando na frente (em terceiro, atrás de Stroll e Hamilton) acabou sendo um dos méritos de Gasly na vitória.
Permitir troca de pneu com bandeira vermelha premia ousadia
Essa regra é polêmica porque sempre há pilotos que vão sair prejudicados por algo que é muito difícil de prever, mas foi uma regra que mudou por questões de segurança, pensando mais em corridas com pista molhada (em que a chance de bandeira vermelha é maior): se a prova é interrompida como aconteceu em Monza, uma vez que a barreira de pneus na Parabólica tinha sido destruída pelo acidente de Charles Leclerc, os pilotos podem trocar de pneu.
Isso acabou premiando Lance Stroll, que não tinha feito sua parada antes da bandeira vermelha. Naquele momento, ele era o grande candidato à vitória, pois era segundo. Mas, na largada, sofreu, assim como Valtteri Bottas no começo da prova, com a falta de aderência da segunda posição do grid, e depois ainda cometeu outro erro logo em seguida. Acabou chegando em terceiro. Sem essa regra que permite a troca de pneu, cairia para último. Há quem acredite que a regra é injusta, mas traz uma pitada a mais de incerteza em casos como este.
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