Quatro pilotos fora e 12 advertidos: o que deu errado na relargada da F1?
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O GP da Toscana, vencido por Lewis Hamilton no último domingo, ficou marcado por um acidente de grandes proporções em uma das relargadas, que tirou quatro carros da prova e resultou em advertências para doze dos 18 pilotos que estavam na pista naquele momento. A Federação Internacional de Automobilismo responsabilizou os pilotos pela batida, mas uma série de fatores contribuiu para o acidente.
Os procedimentos de relargada mudaram neste ano
Atrás do Safety Car, os pilotos são obrigados a manterem uma distância equivalente a, no máximo, 10 carros entre si, e isso também vale para o primeiro colocado em relação ao próprio Safety Car. Isso vale até o momento em que as luzes do SC se apagam, o que indica que ele está entrando nos boxes.
Assim que as luzes do SC se apagam, o líder dita o ritmo. Ele pode manter o ritmo que quiser até a linha de chegada, em que a corrida é recomeçada, e a única instrução é que ele não pilote de maneira errática (ou seja, ele precisa manter uma velocidade mais constante).
É importante lembrar que, mesmo antes de a luz do SC se apagar, os pilotos já sabiam que a corrida seria reiniciada naquele momento, pois eles são avisados pelas equipes. Na relargada em Mugello, este aviso tinha sido dado às equipes um minuto antes da relargada.
Neste ano, para tentar aumentar a emoção das relargadas, a FIA tem adotado o procedimento de desligar a luz do SC mais tarde do que antigamente, somente quando ele chega na linha de SC, ou seja, na entrada dos boxes. Isso, para dar menos tempo para o líder abrir espaço e ganhar vantagem. Todos os pilotos sabem que esse procedimento foi alterado e que as luzes estão se apagando mais tarde que o normal, embora Valtteri Bottas tenha revelado que, em Mugello, a Mercedes buscou conversar com a FIA para mudar o procedimento, o que nos leva ao segundo ponto.
A linha de chegada em Mugello fica mais adiante que em outros circuitos
Isso é algo que varia de acordo com o circuito: às vezes a linha de chegada fica mais no início da reta, às vezes fica junto à posição do pole. A Mercedes entendeu que, em Mugello, pela linha de reinício da prova ser muito longe da última curva, esse novo procedimento de demorar para desligar a luz do SC (ou seja, demorar para deixar que o ritmo seja ditado pelo líder) poderia deixar seus pilotos muito expostos. Mas a reclamação não deu em nada.
De qualquer maneira, todos sabiam deste procedimento e onde estava a linha de reinício da prova e também sabiam que o líder esperaria até o último instante, ou seja, até chegar a esta linha, para acelerar, justamente porque seria a maneira mais eficiente de evitar um ataque na primeira curva.
O diretor de provas, Michael Masi, defendeu os procedimentos e frisou que "todos os pilotos foram avisados" sobre onde o SC apagaria as luzes e a partir de qual linha a corrida recomeçaria. "As luzes se apagam quando têm de apagar. O Safety Car entra no pitlane. E temos os 20 melhores pilotos do mundo", disse, cobrando um comportamento melhor dos pilotos no futuro.
Mas este é um ponto polêmico, como Hamilton salientou. "Obviamente, eles estão tentando tornar as relargadas mais emocionantes, mas agora viram que isso coloca pessoas em risco. Então talvez eles tenham de reconsiderar."
Pilotos começaram a tentar abrir "clarões" para acelerar
Na maioria das pistas, a linha de Safety Car fica antes da última curva, então logo que o carro de segurança desliga as luzes e sai da frente, o piloto que está na liderança já começa a acelerar. Como todo esse procedimento acontece em plena reta pelas características da pista de Mugello, é grande a vantagem de quem consegue deixar um espaço para o carro da frente para começar a acelerar antes, no começo da reta. O líder, por outro lado, não consegue fazer isso justamente porque o SC sai muito tarde da sua frente, então manter o ritmo mais lento até a linha de reinício da prova é a melhor estratégia nesse caso.
Na relargada, os pilotos começaram a tentar abrir esses espaços, freando e acelerando. Isso começou a acontecer, de maneira muito sutil, a partir do quarto colocado, Alex Albon. O primeiro que deixou um espaço maior foi Daniil Kvyat, seguido por George Russell. A ideia era deixar um espaço para, quando Bottas acelerasse, eles conseguissem já vir mais embalados.
Isso foi gerando uma impressão nos pilotos que estavam mais atrás de que Bottas já tinha acelerado, lembrando que um carro de F1 vai de 0 a 200km/h em pouco mais de 4s. Quando quem estava mais atrás viu os carros ainda em baixa velocidade, não conseguiu desviar.
"Acho que o acidente foi causado quando alguns pilotos no meio do pelotão deixaram um espaço muito grande e aceleraram tudo para diminuir esse espaço pensando 'agora a corrida vai recomeçar'", explicou Nicholas Latifi, um dos envolvidos.
Por que Bottas não foi culpado?
O finlandês não fez nada errado: assim que o SC apagou as luzes e ele passou a ditar o ritmo, ele manteve sua aceleração constante, assim como os pilotos que vinham logo atrás. "Nós começamos a correr a partir da linha, não antes. Então o pessoal que bateu atrás por conta disso pode olhar nos espelhos deles. Não tem sentido reclamar disso", disse o finlandês.
A luz verde enganou os pilotos?
Não. Os pilotos sequer citaram isso como um fator, uma vez que eles reagem ao que está acontecendo exatamente a sua frente. É por isso, inclusive, que o comportamento de acelerar e frear foi ficando pior no meio do pelotão.
Experiência falou alto
Foi interessante notar que dois campeões do mundo que estavam mais atrás no pelotão não se envolveram no acidente: Kimi Raikkonen e Sebastian Vettel. Isso porque Kimi viu o que acontecia na sua frente e decidiu ficar longe da confusão. Vettel, depois, agradeceu. "Ele estava bem atrás do cara que estava à frente dele. Foi melhor para nós dois." Era Latifi o carro que vinha logo à frente, um dos quatro pilotos, juntamente de Sainz, Magnussen e Giovinazzi, que bateram.
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