Como a Red Bull quer que a F1 congele motor para não voltar a ser cliente
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Sem motor depois que a parceira Honda anunciou que não vai mais fornecer unidades de potência a partir de 2022, a Red Bull está pressionando a Fórmula 1 para rever suas regras o mais rápido possível para não correr o risco de perder sua estrela Max Verstappen e até de ter de abandonar o projeto da categoria.
O time não quer voltar a ser cliente de alguma rival - como era cliente da Renault até 2018 - e também sabe que, com o regulamento atual, nenhuma outra montadora tem interesse em entrar na categoria. Por conta disso, faz lobby para que o desenvolvimento do motor seja congelado para poder seguir usando o motor Honda sem perder rendimento em relação aos rivais.
Qual o plano A da Red Bull?
A prioridade da Red Bull é manter o motor Honda. Porém, sem contar com o investimento de desenvolvimento deste motor, já que a montadora decidiu sair da F1 justamente porque os engenheiros que estavam focados neste projeto serão deslocados para outras tecnologias mais verdes dentro da empresa.
Para que esse plano funcione, a Red Bull precisa que o congelamento dos motores seja adiantado de 2024 para 2022, caso contrário, vai ficar muito atrás dos rivais. A Honda seguiria desenvolvendo a atual unidade de potência até o final do contrato, em dezembro de 2021. "Nós não queremos construir uma fábrica como a Honda tem no Japão, nem podemos financiar o desenvolvimento do motor", reconheceu o consultor Helmut Marko.
A Red Bull venceu quatro títulos entre 2010 como cliente da Renault justamente quando os motores, na época, os V8, tinham seu desenvolvimento congelado e todos os motores eram muito similares.
Qual o plano B?
A Fórmula 1 terá três fornecedores de motores a partir de 2022: A Mercedes terá Aston Martin, McLaren e Williams como clientes e não pode ter mais nenhuma. A Ferrari, que é o motor menos potente, terá em teoria Haas e Alfa Romeo, e a Renault não teria clientes. Os franceses, no entanto, já demonstraram que querem firmar parceria com algum time e estão em negociações com os clientes ferraristas. Se isso der certo, as regras obrigariam Renault e Ferrari a equipar Red Bull e AlphaTauri.
Porém, essa saída não é aceita por nenhuma das duas equipes. Afinal, eles precisam ter o mesmo motor para que a parceria técnica que têm entre si valha a pena. Usando outro motor, a AlphaTauri não poderia comprar a transmissão e a caixa de câmbio da Red Bull, por exemplo.
Portanto, se a Red Bull não conseguir o congelamento do motor a partir de 2022, o cenário é bem nebuloso. O chefe da Red Bull, Christian Horner, acenou que a Renault "está muito mudada desde que nossa parceria com eles acabou", referindo-se ao novo comando da montadora, com maior entusiasmo pelo braço de F1 que o anterior, mas ele também deixou claro que "a Red Bull não é uma equipe-cliente comum. As aspirações da equipe são muito altas. Queremos lutar por campeonatos e vencê-los."
Qual o prazo?
Helmut Marko diz que eles querem uma solução até novembro, e há uma reunião marcada para depois do GP de Portugal, na última semana de outubro. O prazo curto tem explicação: a partir do começo do ano que vem, está liberado o desenvolvimento do carro de 2022, que será completamente diferente. E, como os motores são diferentes entre si, é fundamental saber de antemão qual unidade de potência será usada.
Max Verstappen deixaria a Red Bull se não tiver motor competitivo?
Verstappen tem contrato com a Red Bull até o final de 2023. Porém, como todo acordo a longo prazo na Fórmula 1, dificilmente esse contrato não tem cláusulas de performance. Ou seja, se a Red Bull não chegar a determinada posição no campeonato, Verstappen teria o direito de negociar a saída.
O piloto de 23 anos disse que seu foco é pilotar o carro e afirmou estar "aberto" a qualquer decisão tomada pela Red Bull, e brincou que só espera "não acabar virando um Fred Flintstone, tendo que ser o motor do carro, porque acho que seria fisicamente difícil!", referindo-se ao personagem de desenho animado da idade da pedra.
A Red Bull pode sair da F1 se não encontrar uma solução?
Marko vive relembrando que, no Pacto da Concórdia assinado entre as equipes e a F1, é possível sair da categoria ao final de cada um dos cinco anos de acordo, começando em 2021. É uma forma de pressionar os demais a agir, uma vez que isso também significaria a saída da AlphaTauri, que conta, em grande parte, com o financiamento da Red Bull. E perder duas equipes logo depois de ter acertado que qualquer novo time tem de pagar 200 milhões de dólares é algo que a F1 vai evitar a todo custo.
E se outra montadora entrar na F1?
Sabe-se que há anos a Volkswagen faz parte das reuniões sobre o regulamento de motores, mas eles ou qualquer outra montadora só entraria se as regras fossem alteradas, já que a unidade de potência atual é muito complexa e levaria anos para que o novo produto fosse competitivo. Mas, ao mesmo tempo, há resistência para antecipar a mudança que está programada para 2026 por um motivo muito simples: a F1 não sabe qual caminho seguir.
"Não é verdade que, se mudarmos o motor antes, isso seria o certo, porque é muito cedo para entender o que é útil para a indústria automotiva, e pode ser cedo demais para entender isso", defendeu Mattia Binotto, da Ferrari.
"Acho que o que mais importa é que tenhamos definida qual a tecnologia certa para a próxima geração. Há várias tecnologias emergindo. Estamos vendo que o mundo automotivo está cheio de dúvidas. Há alguns anos, nem ouvíamos falar de hidrogênio. E agora é a vedete. Se é adequado para a F1, não sei. Mas acho que é importante parar um pouco e tomar a decisão correta", completou o CEO da Renault, Cyril Abiteboul.
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