Em evolução constante, Lewis Hamilton fez das adversidades seu combustível
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Lewis Hamilton é, muito provavelmente, o piloto que mais entrevistei na vida. Em um final de semana normal de corrida, em umas três oportunidades - e com a chance de poder encontrar três Lewis diferentes em cada um delas. Talvez, no futuro, possa colocar Max Verstappen e Charles Leclerc nesta lista. Com todos, o mais fascinante e vê-los crescer diante de seus olhos, ir saindo devagarzinho do script desenhado pelos assessores e se tornarem donos de si. E o processo de transformação de Hamilton é o mais interessante de todos sob esse aspecto.
Nas pistas, Hamilton chegou pronto para vencer. Que o diga sua primeira largada na Fórmula 1, saindo de quarto e pulando para terceiro no GP da Austrália de 2007, passando, por fora, o então todo-poderoso da categoria e bicampeão, Fernando Alonso.
Ele teve uma carreira cuidadosamente planejada e já andando em um nível muito bom, mas o Hamilton de 2007 jamais bateria o recorde de Michael Schumacher e se tornaria o maior vencedor da história. Ninguém chegaria. Era preciso evoluir sob todos os aspectos.
E tendo visto mais de perto essa evolução, a cada entrevista, é que ela foi ajudada pela empatia a qual Lewis sempre teve de ter, quer queira, quer não. Ele sempre precisou de colocar no lugar dos outros, até porque nunca estava em "seu" lugar, fazendo o que os outros meninos do conjunto habitacional da periférica Stevenage estavam fazendo.
Um exemplo obviamente próximo para mim é a maneira como ele trata as repórteres mulheres. Ele parece entender que existe uma pressão extra para nós, uma vigilância maior. E costuma ser bem generoso nas respostas. E somente o primeiro piloto negro da categoria - como imagino que aconteceria com o primeiro abertamente homossexual também - identifica isso com muita facilidade: para ele, também, os erros custaram mais caro. E a diferença muitas vezes foi vista como falha.
Note que disse que ele "costuma ser" generoso. Ele tem, sim, seus dias. A luz da câmera incomoda, as respostas são monossilábicas, ele se posiciona longe do microfone. É geralmente assim quando não tem uma boa classificação. E aí você pode ter certeza que vem vitória no domingo.
É que a personalidade de Lewis foi edificada na dificuldade. Muita gente pega no pé quando ele reclama dos pneus e depois abre uma vantagem de 25s como no GP do recorde. De fato, mesmo ganhando uma corrida atrás da outra, ele sempre destaca o que não deu certo. Ao fazer isso, pôde evoluir constantemente.
Ele precisa ter um obstáculo na frente, criar para ele mesmo uma narrativa de superação mesmo que, olhando de fora, esteja tendo vida fácil nos últimos anos, desde que tomou uma decisão corajosa de trocar a McLaren pela Mercedes. Houve um elemento de sorte nesta decisão, sempre há, mas essa incrível capacidade de o time continuar progredindo ao longo de tanto tempo tem muito a ver com essa mentalidade de Hamilton.
Essa caminhada de evolução, que começou mais pelo lado técnico no começo da carreira, quando Hamilton, quem diria, acabava com os pneus e demonstrava certa impaciência - perdeu, inclusive potencialmente dois títulos assim, um em 2007 e outro com dois erros em sequência quando era líder em 2010 - especialmente após a dolorida derrota para Nico Rosberg em 2016 se transformou em uma caminhada mental.
Como a maioria dos pilotos, Hamilton não teve uma educação brilhante, colocou todas as energias em chegar ao topo da F1. Depois, percebeu o quão vazio isso pode ser. Foi a partir do momento em que ele não estava mais vencendo para ser o melhor da F1, mas sim para construir uma plataforma de mudança fora das pistas, que se tornou praticamente imbatível. Assinando seu contrato, que ainda está em aberto para 2021, continuará assim por um bom tempo ainda. Afinal, se a força e a empatia vêm das adversidades, vencer para promover a diversidade é uma luta muito mais dura do que qualquer outra.
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