Renovação do GP Brasil de F1 em SP é vista como vitória política para Doria
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Uma novela que durou 18 meses e que foi do âmbito esportivo para o político se encaminha para um momento decisivo em relação ao futuro do GP Brasil. Com o anúncio do governador João Doria (PSDB) de que São Paulo fechou um contrato de cinco anos para manter a Fórmula 1 na cidade, resta apenas a confirmação da Liberty Media, detentora dos direitos comerciais da categoria, para selar o destino do evento, que também era pleiteado pelo Rio de Janeiro. O GP Brasil de 2021 está marcado para o dia 14 de novembro e já constava no calendário divulgado nesta semana pela F1.
O acordo atual tinha duração até este ano, mas a etapa, que seria realizada neste final de semana, foi cancelada devido ao coronavírus. A Fórmula 1 tinha chegado a desistir de fazer a etapa brasileira no ano que vem, depois que ficou claro que seria impossível o Rio construir uma pista a tempo, mas a Liberty Media voltou a conversar com São Paulo no final de outubro e o acordo foi fechado, segundo o governador. A Coluna Pole Position entrou em contato com a empresa norte-americana, que afirmou: "nunca comentamos discussões comerciais e não podemos adicionar nada além disso."
A duração de cinco anos é menor do que os 10 anos que eram negociados inicialmente, mas também é maior do que os três anos que a Liberty Media pleiteava. Às vésperas das eleições municipais, Doria classificou a assinatura como uma "grande vitória", e salientou que São Paulo trabalhou sem fazer promessas de investimentos que não eram possíveis, em referência direta à proposta de levar a prova para o Rio de Janeiro.
Embora receba a Fórmula 1 desde 1990, quando a então prefeita Luiza Erundina (na época no PT, hoje no PSOL) trouxe a corrida, que era realizada no Rio de Janeiro, de volta para a cidade, São Paulo enfrentava alguns obstáculos importantes para a renovação com a Liberty Media. O acordo anterior não previa o pagamento, nos últimos três anos, da taxa para a realização do evento que a F1 cobra de todos os GPs, com exceção de Mônaco, e que fica em torno de 25 milhões de dólares por ano. No caso brasileiro, o acordo tinha sido feito às vésperas de a Liberty Media assumir o controle dos direitos comerciais da categoria, pelo ex-dono, Bernie Ecclestone, em 2017.
Foram anos de desgaste na relação entre a organização da prova paulistana e os donos da Fórmula 1. Além disso, os constantes problemas de segurança no entorno do circuito e uma reforma que melhorou bastante a estrutura onde as equipes trabalham, mas que ainda não colocou Interlagos no mesmo padrão das demais etapas, não são vistos com bons olhos pelas próprias equipes.
Foi dentro desse contexto que o projeto carioca de construção de um autódromo na região de Deodoro, no Oeste da cidade, ganhou força. E também o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que levou a briga ao campo político ao anunciar, em maio de 2019, que estava decidido que a corrida sairia de São Paulo já em 2020. A declaração foi feita após uma reunião com o próprio Chase Carey, CEO da Fórmula 1.
A informação, contudo, nunca se confirmou. A proposta carioca era, na verdade, para receber a etapa por 10 anos a partir de 2021 em um circuito com custo estimado de 700 milhões de reais, que seriam financiados com investimento privado, ainda que a empresa que está por trás do projeto, a Rio Motorsports, não tenha dado mais detalhes. A proposta feita oficialmente para a F1 justamente em maio de 2019, duas semanas após as declarações de Bolsonaro, era muito superior à de São Paulo, de 35 milhões de dólares somados à venda de 5.000 lugares de ingressos VIP, totalizando 65 milhões de dólares por ano. Como revelou o UOL Esporte, estes 35 milhões viriam de renúncia fiscal, usando as leis mais atrativas para eventos desse tipo do estado do Rio de Janeiro.
Com uma proposta financeiramente melhor que SP poderia oferecer e o potencial turístico de uma corrida no Rio de Janeiro, a Liberty Media fez todos os esforços para que o projeto fosse adiante. Porém, a região em que o circuito seria construído, que é de propriedade do Exército, passou a ser um grande entrave, uma vez que trata-se de uma área de Mata Atlântica. Os donos da F1 esperaram até outubro para ter uma sinalização de que a obra poderia seguir adiante e inclusive mandaram uma carta ao governador em exercício do Rio dizendo que o negócio estava fechado, mas o parecer do INEA (Instituto Estadual do Ambiente) do RJ sobre o Estudo de Impacto Ambiental foi negativo, colocando o projeto em xeque.
Ao entender que a pista demoraria mais do que um ano para ser construída, o que significaria que o Brasil, um dos grandes mercados da F1 e de várias marcas que investem no esporte, ficaria de fora do calendário por mais tempo do que eles imaginavam inicialmente, os donos da categoria retomaram as conversas com São Paulo e o Brasil manteve seu GP. Doria não revelou os valores da negociação, mas a última proposta de São Paulo de que se tem notícia rondava os 20 milhões de dólares por ano, vindos prioritariamente da iniciativa privada. Uma das patrocinadoras do evento é a própria Prefeitura de São Paulo, que também é a dona do terreno.
As pressões financeiras devido à Covid-19 também ajudam a explicar a mudança de postura da Liberty Media, que vem tentando fazer caixa com o máximo de corridas possíveis no calendário. Para 2021, estão previstas 23 etapas, com a adição de uma corrida milionária na Arábia Saudita. O calendário ambicioso, uma vez que não se sabe quanto tempo levará para o cenário mundial se estabilizar, foi anunciado dias depois de que foi divulgado o balanço do terceiro trimestre da Fórmula 1, mostrando uma perda de 104 milhões de dólares no período. O buraco nas contas da categoria já supera os 400 milhões de dólares em um ano em que o campeonato tinha 22 provas programadas, mas apenas 17 serão realizadas.
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