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Pole Position

F1 2020 ficou entre lavada de Hamilton e as maiores zebras dos últimos anos

Hamilton comemora vitória no GP da Turquia que o consagrou heptacampeão da F-1 - Pool/Getty Images
Hamilton comemora vitória no GP da Turquia que o consagrou heptacampeão da F-1 Imagem: Pool/Getty Images

Colunista do UOL

14/12/2020 12h00

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Quem olhar para os números da temporada de 2020 da Fórmula 1 verá um domínio absoluto de Lewis Hamilton. Foi um ano de consagração para ele, que se tornou o maior vencedor da história e conquistou o sétimo título mundial, empatando com Michael Schumacher como o maior campeão, também, de todos os tempos. De quebra, ele marcou mais pontos do que a vice-campeã entre as equipes, a Red Bull, tamanha a superioridade dele mesmo e do carro da Mercedes.

Espera-se que um piloto do nível de Hamilton, único na história a vencer em todas as temporadas que disputou, seja campeão com uma Mercedes na mão? Sem sombra de dúvidas. Mas as corridas que ele conseguiu ler melhor do que ninguém, como os GP de Portugal ou da Turquia, mostram por que a Mercedes segue disposta a pagar dezenas de milhões de dólares para mantê-lo.

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Lewis Hamilton "voa' após ganhar o GP de Portugal e se tornar, com 92 vitórias, o maior vencedor da história da Fórmula 1
Imagem: Jorge Guerrero - Pool/Getty Images

Mas um olhar mais cuidadoso mostra uma temporada em que as surpresas falaram mais alto do que nos últimos anos. Afinal, foram 13 pilotos diferentes no pódio ao invés de oito de 2019, e cinco pilotos diferentes - Hamilton, Bottas, Verstappen, Gasly e Perez - venceram corridas, na primeira vez na era híbrida (desde 2014) que pilotos fora do trio Mercedes, Red Bull e Ferrari subiram ao lugar mais alto do pódio.

Foram oportunidades que surgiram não pela competitividade em si, mas por erros em uma temporada como nunca se viu na Fórmula 1, com 17 corridas em 24 finais de semana, com direito a uma série de provas em pistas para as quais a categoria não ia há anos - Imola, Turquia, Nurburgring - ou onde jamais havia corrido - Mugello, Portimão e o anel externo do Bahrein. E vimos como detalhes podem mudar a história das corridas.

Quando Hamilton venceu em Silverstone com um pneu estourado na última volta, logo depois de o mesmo ter acontecido com Valtteri Bottas e Carlos Sainz, já deu para perceber que 2020 não seria uma temporada como as outras.

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Francês Gasly comemora com a equipe AlphaTauri vitória no GP da Itália de F1
Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Mas ninguém esperava o que viria no GP da Itália, uma prova dominada por Hamilton até um erro da Mercedes, chamando-o para trocar os pneus com os pits fechados, numa prova em que Bottas já não estava nas primeiras posições e Max Verstappen tinha abandonado. Assim, Pierre Gasly apareceu como líder, seguido por Sainz e Lance Stroll. E esse foi o pódio que iniciou uma segunda fase do campeonato com mais reviravoltas que a primeira.

Em Mugello, na corrida seguinte, um acidente de grandes proporções (mas sem nenhum piloto machucado) numa relargada geraria advertências para mais da metade do grid. Em Portugal e em Istambul, a dificuldade com asfaltos novos levou a McLaren a liderar uma corrida e Stroll a fazer uma pole position totalmente inesperada, e liderar boa parte de uma prova em que os pilotos estavam sofrendo para manter os carros na pista.

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Grosjean é socorrido no meio do fogo após acidente no GP do Bahrein
Imagem: Reprodução/TV Globo

E, por fim, na reta final, o acidente impressionante de Grosjean fica como uma das cenas da temporada, Hamilton pega Covid-19, e o que parecia ser um conto de fadas para George Russell, um piloto de quem se espera tanto, acaba com um erro impensável da Mercedes trocando os pneus entre seus pilotos e com a primeira vitória de uma carreira de 10 anos de Sergio Perez na Fórmula 1.

O extra-pista foi maior do que nunca

hamilton - Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images - Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images
Lewis Hamilton usa camiseta em homenagem a Breonna Taylor no GP da Toscana
Imagem: Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images

Essas contradições também ecoaram para fora das pistas. Se, por um lado, a F1 iniciou uma campanha pela diversidade e teve manifestações antirracismo em todas as 17 etapas, os pilotos foram proibidos de usar camisetas depois que Lewis Hamilton se manifestou pedindo a prisão de policiais em um caso de abuso nos Estados Unidos. Enquanto isso, Kimi Raikkonen estampou em seu merchandising um símbolo que historicamente faz parte da cultura dos povos nórdicos, mas que atualmente é ligado a supremacistas brancos, e por fim um novato russo, que ainda nem estreou, publicou um vídeo comportando-se de maneira inaceitável com uma mulher e, pelo menos por enquanto, mantém a vaga.

Era para 2020 ser um ano de transição mesmo na F1: seria o último antes de uma grande mudança de regulamento, que acabou sendo adiada para 2022. De fato, em que pese o domínio de Hamilton, algumas coisas ainda estão engatinhando, mas começaram a mudar.