Por que a Ferrari viveu pior ano desde 1980 e como o time quer virar o jogo
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Nem em seus piores pesadelos a Ferrari poderia imaginar que, depois de três temporadas sendo a única equipe capaz de incomodar a dominante Mercedes, amargaria o pior campeonato em 40 anos, desde que a Scuderia não passou de um décimo lugar em 1980 - curiosamente, depois de ter conquistado o título do ano anterior. Em 2020, a maior campeã ao longo dos 70 anos de história da Fórmula 1 ficou no sexto posto. O time somou 131 pontos, contra 504 do ano passado.
Uma série de eventos ajuda a explicar uma queda tão acentuada. O carro de 2019 da Ferrari era muito veloz nas retas, mas perdia para as Mercedes nas curvas. Tal velocidade vinha em parte da potência do motor, especialmente a potência extra que era usada nas classificações, mas o carro em si gerava pouca pressão aerodinâmica e pouco arrasto (pouca resistência ao ar). Então, para o projeto de 2020, fazia sentido buscar aumentar a pressão aerodinâmica mesmo que isso aumentasse o arrasto e comprometesse um pouco a velocidade de reta. O carro ficaria mais equilibrado e teria um rendimento melhor ao longo da temporada.
No entanto, Mercedes e Red Bull pressionavam fortemente a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) para investigar a fundo o motor ferrarista. E uma série de diretivas técnicas (que servem como esclarecimentos de pontos polêmicos das regras) foi tirando as vantagens da Ferrari no final de 2019. Após o fim do campeonato, depois de uma investigação mais minuciosa, a FIA divulgou apenas que tinha chegado a um acordo com a Scuderia, que apareceu em 2020 com muito menos potência que os rivais.
Era um problema duplo: o motor em si era muito mais fraco e o carro tinha sido desenvolvido imaginando que essa vantagem de potência estaria ali. Pior: o novo projeto gerava, mesmo, mais arrasto nas retas, mas o ganho nas curvas foi menor que o esperado.
Veio a pandemia e a situação se agravou, já que várias medidas foram tomadas para limitar os custos. O motor não poderia ser atualizado ao longo do ano, várias peças do carro estavam congeladas e o desenvolvimento aerodinâmico era permitido, mas com restrições de tempo de trabalho na fábrica.
"Se não fosse o congelamento, o motor seria o primeiro ponto que focaríamos em melhorar. Certamente teríamos feito uma atualização que seria suficiente para não termos a pior unidade de potência do grid", afirmou o chefe Mattia Binotto. "E em termos de aerodinâmica, teríamos trabalhado mais, mas estávamos limitados no tempo de túnel de vento e simulações que poderíamos usar."
Sob pressão, o time ainda cometeu erros estratégicos, colocando seus pilotos no trânsito e tendo de se defender com um carro muito mais lento de reta. Os pit stops também foram muito ruins devido a uma falha de equipamento que foi identificada no meio do ano. Isso sem contar com os desdobramentos internos de um time que já sabia, antes de a temporada começar, que Sebastian Vettel estaria fora em 2021.
Um olho em 2021, outro nas novas regras de 2022
Para o ano que vem, a Ferrari terá um motor praticamente novo. "Acho que não vai ser o pior do grid, ou pelo menos essa é a sensação que os dados que temos no dinamômetro trazem, mas não sei o que os outros estão fazendo. Só vamos saber quando voltarmos à pista. Talvez não sejamos os melhores - esse é o objetivo para o futuro - mas seremos competitivos novamente."
Em relação ao carro, a Ferrari aposta que uma mudança no regulamento de 2021, que prevê o corte de cerca de 10% da pressão aerodinâmica, pode ajudar a diminuir a diferença, já que os carros mais fortes tendem a sofrer mais. Mas Binotto admite que o foco inicial tem de ser vencer a forte briga no meio do pelotão, para depois voltar a pensar em disputar vitórias. "O terceiro lugar não é impossível e acho que tem de ser nosso objetivo mínimo para a próxima temporada".
Mas Binotto reconhece também que, como 2021 é o último ano do atual conjunto de regras, a Ferrari vai, rapidamente, mudar o foco para 2022, quando há uma grande mudança na aerodinâmica dos carros. Na verdade, o time aproveitou 2020 para investir na infraestrutura a fim de garantir que os erros nos carros do passado não se repitam. "Investimos muitas horas no desenvolvimento de nossas simulações, nossas ferramentas, e em um novo simulador que deve ficar pronto na metade do ano que vem."
Em 2021, a Ferrari terá Carlos Sainz como substituto de Sebastian Vettel, ao lado de Charles Leclerc. A temporada da Fórmula 1 está marcada para começar em março, com o GP da Austrália.
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