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Como Senna usou fracasso em treino para bater estrelas e fazer nome na F1
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Se houve um primeiro momento em que o mundo da Fórmula 1 percebeu que Ayrton Senna era um piloto especial, foi em um evento "amistoso", a Corrida dos Campeões, realizado na pista alemã de Nurburgring em maio de 1984, no qual um então quase desconhecido Ayrton bateu um grid repleto de estrelas de diferentes gerações: Niki Lauda, Carlos Reutemann, Alain Prost, Keke Rosberg, John Surtees, Phil Hill, Stirling Moss, John Watson, Denny Hulme, Jody Scheckter, Jack Brabham, James Hunt, Jacques Laffite, Elio de Angelis e Alan Jones, todos correndo com carros de rua da Mercedes, idênticos.
Mas um detalhe curioso desta história, e que mostra bem a mentalidade do brasileiro, emergiu no aniversário de 37 anos desta prova.
Em 1984, Senna fazia sua estreia na Fórmula 1, pela Toleman. Tendo sido campeão nas três categorias que disputou na Europa - a Fórmula Ford 1600, Fórmula Ford 2000 e F3 Britânica - Senna já despertava muito interesse e, nas três primeiras corridas, após o abandono na estreia no GP do Brasil, o piloto vinha com um ponto pelo sexto lugar no GP da África do Sul e chegara em sétimo na Bélgica (sendo promovido para o sexto posto depois que os pilotos da Tyrrell foram desclassificados), andando bem por uma equipe que viria a ser apenas a sétima colocada naquele campeonato.
Porém, na quarta etapa, em Imola, Senna não conseguiu se classificar para a prova. Naquela época, devido ao grande número de inscritos, havia uma pré-classificação. E, na Toleman, o clima era de ebulição: o time estava usando o carro do ano anterior e sabia que o modelo novo só ficaria pronto para as provas seguintes. Internamente, Senna pressionava para que a equipe abandonasse os pneus Pirelli e corresse com os Michelin, pois estava insatisfeito com o rendimento da borracha italiana - que, inclusive, tinha provocado seu abandono no Brasil. Alegando "diferenças de opinião" com a Pirelli, a Toleman decidiu não andar na sexta-feira.
No sábado pela manhã, Senna colocou o carro em 20º, com a pista um pouco molhada, e estava tranquilo para entrar na classificação - 26 carros alinhariam no grid, dos 28 inscritos. Mas, quando as condições de pista melhoraram e os tempos caíram, a Toleman teve um problema de pressão de combustível e ficou parada na pista. Sem tempo para melhorar sua marca, Senna não conseguiu se classificar pela primeira e última vez na carreira na F1.
Isso foi em 5 de maio de 1984. A tal Corrida dos Campeões seria exatamente uma semana depois. Chris Witty, assessor de imprensa da Toleman na época, conta que Senna sequer quis assistir à corrida para a qual não tinha se classificado, e revelou como ele aproveitou a 'folga' para se preparar para a prova que acabou vencendo.
"No dia seguinte, ele não quis ver a prova. Nós tínhamos dois (ou possivelmente três) dias de testes marcados para Dijon (França) a partir da terça-feira para testar os pneus da Michelin pela primeira vez com o carro que ainda não tinha ido para a pista, o TG184. Saímos de Imola no domingo de manhã em direção ao aeroporto de Linate, em Milão, esperando conseguir pegar o voo para Paris mas, mesmo com Ayrton ao volante, perdemos o voo. E então decidimos alugar um carro para ir até Dijon. Ele me disse 'por favor, alugue um Mercedes 190'. Perguntei o porquê e ele falou: 'Porque vou correr com um Mercedes 190E na semana que vem em Nurburgring e quero me acostumar com as características gerais do carro'."
Witty alugou o carro pedido por Senna e lá foram eles andando - muito provavelmente, em alta velocidade - pelos mais de 600km que separam Milão da pista de Dijon, que fica no oeste da França. E, logo após o teste com a Toleman, Senna foi para Nurburgring e bateu, aos 24 anos, vários nomes lendários do automobilismo, inclusive os dois pilotos que lutariam pelo título daquele ano na F1, Lauda, que conquistaria seu tricampeonato em 1984, e Prost.
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