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Morre Max Mosley, ex-presidente da FIA marcado por polêmicas na F1

Max Mosley, ex-presidente da Fia - Reuters
Max Mosley, ex-presidente da Fia Imagem: Reuters

Colunista do UOL

24/05/2021 11h03

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O ex-presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) de 1993 a 2009, Max Mosley, morreu aos 81 anos. O britânico, que também foi um dos fundadores da equipe March, ficou marcado por polêmicas e também por ter trabalhado duramente para melhorar a segurança no automobilismo. A morte foi confirmada por Bernie Ecclestone, que por muitos anos dividiu com Mosley o comando da Fórmula 1 e moldou toda a parte comercial que a categoria usa até hoje.

"É como perder alguém da família, como perder um irmão", disse Ecclestone à BBC. "Ele fez muitas coisas boas não apenas para o esporte a motor, mas também para a indústria automobilística, certificando-se de que as pessoas construam carros que sejam seguros."

Mosley morreu após uma longa batalha contra o câncer e dedicou seus últimos anos a lutar para a imposição de limites mais rígidos para a privacidade, após se envolver em escândalo sexual em 2008.

Com Ecclestone, que cuidava dos direitos comerciais da F1, Mosley usou sua habilidade política para conseguir ganhar poder dentro da categoria, sendo muito importante para as mudanças feitas após a morte de Ayrton Senna, em 1994, em prol da segurança dos carros. Mas seus jogos políticos também tiveram resultados menos favoráveis, como quando ele quis implantar um teto orçamentário de 40 milhões de libras (algo em torno de 60 milhões de dólares na época) para as equipes de Fórmula 1 em 2009, o que causou a ameaça de criação de um campeonato paralelo.

Como pano de fundo dessa história, Mosley passava pelo maior escândalo de sua vida, depois que o tablóide inglês News of the World publicou uma matéria dizendo que o então presidente da FIA tinha participado de uma orgia com temática nazista. Mosley processou o jornal e ganhou a causa, mas sua posição como presidente da FIA, tanto pelas polêmicas dentro, quanto fora das pistas, ficou prejudicada e ele não se candidatou à reeleição, saindo no final de 2009. No entanto, ele seguiu trabalhando pela segurança dos carros de rua. O pano de fundo dessa história é o fato de que o pai de Max, Oswald Mosley, fez parte do partido nazista britânico a partir da década de 1930 e o próximo Max também teve envolvimento político na adolescência, fazendo uma tentativa de retorno que não durou muito tempo nos anos 1980, pelo Partido Conservador da Inglaterra.

Mesmo sendo advogado de formação e tendo grande gosto pela política, Mosley sempre teve uma enorme paixão por carros, e chegou a ser piloto depois de se formar na universidade, tendo completado 40 corridas entre 1966 e 1967 e vencido 12 delas, todas no Reino Unido. Em 1968, ele chegou a correr pela equipe de Frank Williams na Fórmula 2, última categoria antes da Fórmula 1, mas acabou desistindo depois de sofrer dois acidentes mais graves, em uma época de muitas fatalidades no automobilismo.

Mas seu caminho para a F1 já estava selado, ainda que trabalhando na parte legal da equipe March, em 1969. Foi aí que ele começou a entrar na parte política das equipes, na mesma época em que Ecclestone fazia o mesmo. Os dois passaram a liderar a associação dos construtores, vendo ali uma oportunidade de tornar a Fórmula 1 um esporte mais lucrativo e organizado e, em 1974, criaram a FOCA, uma associação que representaria os interesses das equipes, especialmente as inglesas, junto à FIA, e também negociaria os direitos de transmissão e os contratos com os promotores das provas.

Não demorou para Mosley deixar a March, em 1977, e atuar apenas na parte legal e política na FOCA, inclusive liderando, sempre junto de Ecclestone uma rivalidade com a FISA, formada por times como Alfa Romeo, Ferrari e Renault. Foi uma briga que chegou a colocar a F1 em risco no começo dos anos 1980, até que o então presidente da FIA, Jean-Marie Balestre, decidiu priorizar a FOCA porque eram eles que tinham os contratos mais lucrativos da F1.

Foi neste momento, em grande parte pelas mãos de Mosley, que surgiu o modelo que a F1 usa até hoje, com a assinatura dos chamados Pactos da Concórdia (devido ao endereço onde fica a FIA, no centro de Paris) por determinados períodos garantindo que os direitos comerciais sejam explorados pela FOCA (hoje, pela Liberty Media, que comprou os direitos de Ecclestone) e que as regras fiquem a cargo da FIA.

Logo depois disso, Mosley fez sua segunda tentativa na política, mas acabou voltando à F1 e se tornando presidente da FIA. Assim, por 16 anos, ele e Ecclestone tiveram o controle da categoria, na época em que o esporte mais cresceu do ponto de vista comercial, se distanciando do passado romântico e perigoso e se tornando mais tecnológico e seguro.