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Mercedes de saída da F1? Chefe explica confusão com relatório da empresa

Toto Wolff aumentou sua participação acionária na Mercedes ano passado - Andrej Isakovic/AFP
Toto Wolff aumentou sua participação acionária na Mercedes ano passado Imagem: Andrej Isakovic/AFP

Colunista do UOL

28/05/2021 04h00

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A história de que a Mercedes está se preparando para sair da Fórmula 1 é antiga, embora o chefe dono de um terço da equipe, Toto Wolff, tenha dito recentemente que "as probabilidades de a Mercedes estar saindo da F1 são as mesmas de marcianos estarem pousando na Terra neste momento". Mas a recente divulgação de um relatório voltado aos investidores da Daimler, que controla a montadora alemã, gerou ainda mais confusão neste sentido.

"Nós assumimos o compromisso de sair no primeiro semestre de 2021 e, após isso, esperamos que a Daimler não tenha mais o controle da equipe da Fórmula 1", dizia o tal relatório. Porém, ao invés de ser uma informação nova, isso se refere a um negócio que já foi fechado no final do ano passado, mas que ainda está em processo de consolidação.

Trata-se da venda, por parte da Daimler, de quase metade dos 60% que a empresa tinha da equipe Mercedes de Fórmula 1, anunciada em dezembro do ano passado. No negócio, Wolff aumentou um pouco sua participação, indo de 30 para 33,3%, e um novo parceiro, a gigante de petroquímica INEOS, comprou os outros 33,3%. A equipe, portanto, passou a ser dividida em três, então a Daimler, efetivamente, perdeu o controle do time.

Foi o que explicou Wolff quando perguntado sobre o tal relatório. "Ele se refere àquela venda de 33% para a INEOS e uma parte para mim. A transação está assinada, mas não está concluída. E esperamos que isso aconteça no terceiro trimestre neste ano e era a isso a que o documento se referia."

Na verdade, para a Daimler, agora pode ser justamente o momento de começar a fazer mais caixa com o investimento na equipe, comprada de Ross Brawn em 2010. Há algumas semanas, a equipe mostrou números favoráveis de 2020, mesmo com a pandemia gerando uma queda de US$ 300 milhões no pagamento total às equipes por parte da F1 - e a Mercedes é uma das equipes que mais lucram com esse dinheiro, que vem da divisão dos direitos comerciais da categoria.

Em que pese a queda dos dividendos, o volume de negócios diminuiu em apenas US$ 11 milhões, e a equipe de Fórmula 1 seguiu operando em lucro de quase US$ 20 milhões. Isso significa menos de um milhão abaixo do que foi conseguido em 2019.

A Daimler em si investiu US$ 38 milhões na operação da F1, valor abaixo de 2019. Esse investimento já vinha em queda nos últimos anos, e provavelmente será zerado levando em consideração o que a empresa terá como resultado da venda das ações e também a diminuição de sua participação.

Além disso, a tendência nos próximos anos é que a independência financeira da equipe Mercedes aumente devido ao teto de gastos adotado pela F1 neste ano, que fica bem abaixo dos mais de US$ 400 milhões do orçamento usual do time nos últimos anos. E, na parte dos motores, haverá um congelamento do desenvolvimento entre 2021 e 2024.

Antes disso, é claro, a categoria vai decidir qual caminho tomar com seu novo motor, que estreia em 2025, e é nesse momento que a Daimler vai decidir se trata-se de uma tecnologia em que vale a pena gastar do ponto de vista técnico, assim como do financeiro, como fornecedora de motores. Porém, no novo arranjo de negócio já acertado ano passado, eles se colocaram em uma ótima posição para terem uma participação relativamente pequena na F1 em comparação com o passado recente e um retorno importante em marketing e também financeiro.