Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
O GP do Azerbaijão pode ir para o tapetão? Entenda polêmica da asa flexível
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A Mercedes está ameaçando entrar com um protesto contra o resultado do GP do Azerbaijão antes mesmo de os carros entrarem na pista para a disputa da sexta etapa da temporada. O motivo é a demora da Federação Internacional de Automobilismo de implementar novos testes nas asas traseiras, que vão obrigar pelo menos quatro equipes - incluindo a líder do campeonato, Red Bull - a redesenhar as peças. Do outro lado, a Red Bull questiona por que a rival não faz o mesmo tipo de cobrança em relação às asas dianteiras, em mais uma disputa política que coloca as duas equipes frente a frente na Fórmula 1.
Enquanto eles brigam nas pistas pelo campeonato de 2021 e nos bastidores por profissionais especializados nas complexas unidades de potência da F1, Mercedes e Red Bull também têm outro campo de batalha: as asas flexíveis. Trata-se de um ponto que, vira e mexe, gera polêmica na categoria, e que pode levar o resultado da próxima corrida, em Baku, no Azerbaijão, a ser protestado, como já avisou Toto Wolff.
"Estamos em um vácuo legal e isso deixa a porta aberta para protestos. É uma situação complicada, pode ser que leve semanas até termos um resultado final para a prova", disse Wolff.
A bronca do chefe da Mercedes é com o prazo dado pela FIA para que as equipes refaçam suas asas traseiras a fim de que elas aguentem um novo teste que será feito a partir do GP da França, sétima etapa do campeonato, para determinar seu grau de flexibilidade. A decisão de aumentar a carga desse teste, que é feito em 12 pontos da asa, foi tomada pela federação depois de meses de reclamação por parte da Mercedes. Porém, Wolff entende que Baku será "a pista em que isso será mais relevante em todo o campeonato", e questiona por que foi dado um prazo tão grande para que as alterações fossem feitas.
Do lado da Red Bull, essas ameaças de protesto são vistas com desconfiança pelo consultor Helmut Marko, até porque as mudanças nos testes das asas não afetam somente a Red Bull. "A Mercedes teria que protestar oito carros porque, além de nós, a Ferrari, Alfa Romeo e Alpine têm asas interessantes. Será que eles querem criar um grande escândalo? Acho que não." Marko lembrou ainda que, ano passado, a FIA permitiu que a Mercedes usasse o sistema DAS, mas avisou que ele estava banido para 2021. "Por que a Mercedes não aceita que a mesma coisa seja feita com a nossa asa traseira?", questionou o austríaco.
Como funciona a regra para a flexibilidade das asas
Não é de hoje que a flexibilidade das asas, dianteira e traseira, é assunto na F1, e a Red Bull é o time que mais usou isso nos últimos anos, explorando o limite entre o que diz a regra e o que é possível efetivamente policiar.
O artigo em discussão é o 3.8 do Regulamento Técnico, sobre influência aerodinâmica, segundo o qual qualquer parte da carenagem, a não ser o DRS, "precisa estar assegurado de forma rígida à parte inteiramente suspensa do carro (e assegurado de forma rígida significa não ter nenhum nível de liberdade)". Ou seja, em teoria, nenhuma peça da carenagem do carro deveria ser flexível.
No entanto, com as forças que atuam em um carro de F1, a rigidez total é impossível, então o limite acaba sendo estabelecido pelos testes feitos pela FIA, nos quais uma determinada carga é colocada em alguns pontos da asa, neste caso específico, para checar se ela se movimenta. E é justamente esse teste que será mais duro a partir do GP da França.
Para as equipes, é interessante que as asas tenham certa mobilidade para que elas fiquem um pouco mais paralelas ao solo nas retas, diminuindo, assim, a resistência ao ar sem prejuízo nas curvas, quando ela volta 'ao normal'.
Mercedes e McLaren reclamam de demora. Red Bull e Alfa, de custo
A Mercedes tem o apoio da McLaren, o que não é uma surpresa uma vez que suas duas rivais diretas - Ferrari e Alpine - terão de adaptar suas asas traseiras. "A Diretiva Técnica (documento que determina a mudança nos testes) é bem-vinda por nós mas, ao mesmo tempo, discordamos fortemente do prazo. Para nós, eles estão correndo claramente fora do regulamento porque o teste que existe hoje não é o único critério que você tem de respeitar em relação às regras", afirmou Andreas Seidl, chefe do time inglês.
Do outro lado, estão as equipes que terão de gastar muito dinheiro - segundo a Red Bull, até meio milhão de dólares - para refazerem suas asas. E quem mais se irritou com a medida não foi o chefe dos líderes do campeonato, Christian Horner. Mas, sim, Frederic Vasseur, da Alfa Romeo, equipe que tem um orçamento muito menor. "Isso vai nos custar uma fortuna. Estamos lutando para economizar dinheiro e isso é uma piada."
Já na Red Bull, a bronca não é em relação à mudança nos testes em si. Eles questionam a real intenção da Mercedes em querer apressar a alteração, e também se eles concordariam em aumentar a rigidez dos testes da asa dianteira, já que isso afetaria o carro alemão. "Não dá para esperar que peças novas apareçam como mágica, até pelos gastos implícitos. Nosso carro esteve dentro do regulamento em vigor nos últimos 18 meses com esses testes de carga, e se o teste ou a regra muda, é preciso que tenhamos tempo para mudar", explicou Horner.
"Veremos se agora eles também farão mais testes com as asas dianteiras, seria justo desta forma. Até porque a asa dianteira da Mercedes é a mais trabalhada neste aspecto. De qualquer maneira, há potencial para protesto", completou Marko.
As outras duas equipes que já confirmaram que terão de mudar suas asas - Ferrari e Alpine - preferiram não entrar na briga. "Acho que todas as equipes estão explorando o que é possível e o que acreditamos ser o certo. A Diretiva Técnica dá um pouco mais de clareza. Nós precisamos nos adaptar, mas não acho que isso vai ter um impacto muito grande na Ferrari", disse Mattia Binotto, posição semelhante à do CEO da Alpine, Laurent Rossi.
O que pode acontecer em Baku?
O mais provável é que a Mercedes, ao invés de protestar, como ameaçou Wolff, apareça com uma asa mais flexível no GP do Azerbaijão, uma vez que o time entende que é possível diminuir a rigidez da sua peça atual e, ainda assim, ficar dentro dos novos limites, impostos, na prática, pelos testes que serão endurecidos a partir do GP da França.
"Já faz tempo que estamos nesse limbo", reclamou Wolff. "Nós já apontamos essa questão no meio do ano passado, e não tivemos nenhuma resposta. Vamos modificar a nossa asa, precisamos que ela seja menos rígida. Esse novo teste é uma solução que fica no meio do caminho e nos dá a oportunidade de que ela possa se curvar mais no futuro."
Mas as asas flexíveis geram tanta diferença assim?
Isso vai depender do circuito e, em Baku, um traçado travado em algumas partes, mas que também tem uma longa reta, a diferença é muito mais significativa do que foi em Mônaco, por exemplo. O que é difícil dimensionar é o tamanho da diferença, até porque há asas mais flexíveis que outras.
No caso da Red Bull, Lewis Hamilton chegou a falar que a asa usada no GP da Espanha deu três décimos de vantagem, o que foi recebido com ceticismo pelos rivais. Segundo a Alfa Romeo, eles fizeram um teste comparando a asa menos com a mais flexível e "a diferença não foi enorme". Mas é claro que há uma vantagem, caso contrário, as equipes não estariam usando-as. E isso vale tanto para as asas traseiras, que estão sendo o alvo dos novos testes agora, quanto das dianteiras, que podem vir a ser, em breve, o novo foco de discussão.
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