Topo

Pole Position

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

SP trabalha para ter F1 com público, mas regra britânica coloca GP em risco

Detalhe do Autódromo de Interlagos na cidade de São Paulo - Duda Bairros/AGIF
Detalhe do Autódromo de Interlagos na cidade de São Paulo Imagem: Duda Bairros/AGIF

Colunista do UOL

12/06/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O GP de São Paulo de Fórmula 1 segue confirmado para entre 5 e 7 de novembro, em Interlagos e, do lado brasileiro, tudo tem caminhado para que a prova realmente seja realizada, desde a aprovação do projeto apresentado pelo novos promotores da Brasil Motorsport (ainda que haja uma pendência judicial) até o pagamento da também nova taxa de 25 milhões de dólares (equivalente a mais de 125 milhões de reais) por parte da Prefeitura de São Paulo aos detentores dos direitos comerciais da categoria, acordada no contrato fechado no final do ano passado e que garante mais cinco corridas em um dos autódromos mais tradicionais do calendário.

A aceleração do programa de vacinação no Estado de São Paulo também anima os organizadores, já que a possibilidade de contar com a presença de público para um evento em novembro é real, e a expectativa deles é de iniciar a venda de ingressos ainda no mês de junho, mantendo o mesmo esquema de parcelamento dos anos anteriores.

Porém, a exemplo de outras corridas da temporada fora da Europa, a etapa brasileira ainda corre o risco de não acontecer neste ano por conta da pandemia e o grande motivo está fora do alcance tanto dos organizadores brasileiros, quanto da própria F1.

Embora a categoria esteja disposta a fazer sacrifícios para se recuperar da queda importante de arrecadação do ano passado, o que refletiu o fato de apenas 17 das 22 corridas terem sido realizadas e, em sua grande maioria, sem público, as regras para viagens no Reino Unido são vistas como um entrave muito difícil de ser contornado pelo esporte.

Como funciona a regra inglesa e por que ela é importante para a F1?

interlagos - Lat Images - Lat Images
Último GP em Interlagos foi disputado em 2019. A prova foi cancelada devido à pandemia em 2020
Imagem: Lat Images

Tais regras funcionam como um semáforo, com menos restrições para quem viaja para países da lista verde e mais para a lista vermelha, na qual o Brasil está desde que o sistema foi implementado, em janeiro de 2021. As viagens a estes países só são permitidas em caso de extrema necessidade e, na volta, todas as pessoas têm de ficar, por 10 dias, em isolamento em hotéis escolhidos pelo governo. Isso acontece até para pessoas que são isentas da quarentena em viagens para outros países (o que é o caso dos profissionais da F1, uma vez que eles entram na categoria de eventos esportivos internacionais).

Foi por conta disso que o GP da Turquia foi adiado. A prova tinha entrado no calendário como substituta do Canadá mas, logo depois, passou da lista amarela para a lista vermelha do governo britânico, o que fez com que a realização da prova se tornasse inviável.

As regras do Reino Unido são fundamentais para a Fórmula 1 porque sete das 10 equipes estão baseadas na Inglaterra, assim como toda a operação da Liberty Media (uma empresa norte-americana mas que, na F1, tem pouquíssimos profissionais do país trabalhando na categoria). A parte de transmissão das provas também é feita por profissionais que saem da Inglaterra, assim como vários dos fornecedores, como a Pirelli, por exemplo.

Isso também quer dizer que, embora haja a expectativa, segundo as estimativas do governo paulista, de que a grande maioria da população adulta já tenha recebido pelo menos a primeira dose da vacina até antes do GP de São Paulo, isso por si só não garante que o status do Brasil como um todo terá mudado no olhar dos britânicos. O governo do Reino Unido faz revisões constantes no status de cada país, então é impossível fazer uma previsão a pouco menos de cinco meses da prova brasileira.

A F1 quer fazer o máximo de corridas possível, especialmente se puder ter público e cobrar a taxa cheia para a realização destas provas, como seria o caso do Brasil. A saída estudada é sempre ter um outro GP no final de semana seguinte à corrida realizada em um país da lista vermelha, para diminuir o período de quarentena na volta ao Reino Unido. Porém, no caso de São Paulo, há empecilhos logísticos para se fazer isso.

Quais as provas que já foram canceladas ou adiadas em 2021?

singapura - Clive Mason/Getty Images - Clive Mason/Getty Images
GP de Singapura foi cancelado recentemente: país também não recebeu a F1 em 2020
Imagem: Clive Mason/Getty Images

O Brasil está longe de ser o único entrave no calendário no momento. A F1 já teve de cancelar o GP do Canadá devido à quarentena obrigatória na chegada, depois de já ter adiado o GP da Austrália para a parte final do calendário, além de China e Turquia sem que as provas fossem remarcadas para outras datas.

A parte europeia do calendário parece estar confirmada, com todos os países atualmente na lista amarela do governo britânico, ou seja, com restrições mais brandas: serão realizadas uma prova na França (dia 20) e duas na sequência na Áustria, antes do GP da Grã-Bretanha, em julho, seguido por Hungria, Bélgica, Holanda e Itália. No final de setembro, o GP da Rússia também está garantido.

Os problemas começam a partir daí: a prova de Singapura acaba de ser cancelada e sua substituta natural, por questões logísticas, seria a Turquia mas, novamente, isso depende do status do país e também da realização de uma corrida logo depois (o GP do Japão está marcado, mas as chances de a prova em Suzuka acontecerem dependem muito do sucesso da operação feita para os Jogos Olímpicos). Uma alternativa à prova japonesa seria o GP da China, mas o governo local segue bastante reticente em permitir a realização de eventos internacionais por lá.

Nas Américas, a prova dos Estados Unidos também está garantida, com a possibilidade de rodada dupla, enquanto a mexicana ainda está ameaçada, embora o país não esteja na lista vermelha do Reino Unido no momento. O mesmo acontece com o GP da Austrália, já que o governo da região de Victoria tem sido muito duro mesmo com focos pequenos de covid-19.

Em novembro e dezembro, a F1 espera fechar seu calendário com provas no Oriente Médio: o Bahrein estaria disponível para sediar mais duas corridas, se necessário, e há GPs marcados para a Arábia Saudita e para Abu Dhabi. Bahrein e Abu Dhabi (como parte dos Emirados Árabes Unidos), no entanto, no momento também estão na lista vermelha do Reino Unido.