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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Como a McLaren usou a pandemia para acelerar expansão para além da F1

A McLaren vem apostando no jovem inglês Lando Norris como estrela do futuro da F1 - Formula 1 via Getty Images
A McLaren vem apostando no jovem inglês Lando Norris como estrela do futuro da F1 Imagem: Formula 1 via Getty Images

Colunista do UOL

14/06/2021 04h00

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Há quem diga que tempos de crise trazem as grandes oportunidades e, no mundo da Fórmula 1, ninguém tem levado essa lição tão à risca quanto a McLaren. Os ingleses estiveram entre os mais diretamente afetados pela pandemia no primeiro semestre do ano passado, e agora têm roubado as manchetes com novas parcerias e, recentemente, anunciaram que terão uma equipe na Extreme E, categorias de SUVs elétricos com pegada ecológica.

E pensar que a situação do Grupo McLaren, formado pelo braço de automobilismo, outro de engenharia aplicada a diferentes áreas e a montadora de superesportivos de rua, não era das melhores há 12 meses. Grande parte de seus funcionários estava parada, com os salários custeados pelo governo britânico, a venda de carros praticamente parou, afetando diretamente o fluxo de caixa, e a McLaren chegou a cogitar penhorar sua coleção de carros antigos. A empresa chegou a ter um pedido de empréstimo negado pelo governo britânico, mas foi resgatada pelo banco ligado à família real do Bahrein, que tem grande participação no conglomerado.

A injeção foi de 150 milhões de dólares, o equivalente a mais de 750 milhões de reais, e serviu para equilibrar as contas da empresa no mesmo mais agudo da crise, além de impedir que as mudanças iniciadas por Brown ficassem pelo caminho mesmo com a queda significativa, de cerca de 50%, do dinheiro pago pela F1 aos times, decorrente da diminuição da arrecadação com a pandemia.

mclaren - Divulgação - Divulgação
Vendas dos carrões da McLaren despencaram com a pandemia
Imagem: Divulgação

Na categoria, a McLaren já vinha em crescimento, depois de ir ao fundo do poço em 2017, sendo penúltima colocada entre os construtores e falhando na tentativa de encontrar um patrocinador master. O novo CEO da empresa, Zak Brown, então iniciou uma estratégia diferente, fazendo parcerias técnicas e apostando em patrocínios menores, mas em mais quantidade, ao mesmo tempo em que reorganizou a equipe de F1, que foi ficando com alguns 'buracos' com a perda de profissionais que foram para times que ofereciam acordos melhores.

A chegada de Andreas Seidl como chefe de equipe, em 2019, pareceu ser a última peça a se encaixar nessa nova McLaren, trazendo uma mentalidade bastante focada em engenharia e na construção de um time coeso, sem apostar em grandes estrelas. Naquele ano, o time voltou ao pódio depois de quase uma década e foi quarto colocado. Em 2020, a McLaren foi um exemplo em termos de aproveitar ao máximo o que tinha em mãos, chegando ao terceiro posto entre as equipes, algo que não alcançava desde 2012.

As boas notícias continuaram no final do ano, quando parte da divisão de automobilismo foi vendida para um grupo de investidores norte-americanos por 260 milhões de dólares (mais de 1.3 bilhão de reais) - negócio que começa com a comercialização de 15% da McLaren Racing e que pode chegar a até 33% ao final de 2022. E a sede da equipe foi vendida logo em seguida e tomada de volta em sistema de leasing também para angariar mais fundos.

E esse dinheiro que vem entrando mesmo na pandemia está sendo investido em uma série de frentes: no projeto da Fórmula 1, o foco é em um novo túnel de vento e em voltar a fazer da McLaren uma equipe vencedora na categoria. O segundo time mais antigo do grid e segundo mais vencedor da história não sabe o que é vencer desde o GP do Brasil de 2012.

Mas a estratégia de Brown não é limitada à Fórmula 1. Desde que chegou ao Grupo McLaren, no final de 2016, em um momento turbulento e de transição para a empresa, com a saída de Ron Dennis, que tinha sido peça central no crescimento da empresa desde os anos 1980, o norte-americano deixou claro que queria aumentar as fronteiras da McLaren, num plano que foi recebido com muito ceticismo na F1 na época, mas que começa mostrar sua cara.

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Zak Brown (esq) posa ao lado de Alejandro Agag, CEO da Extreme E
Imagem: Divulgação/McLaren

Primeiro, a McLaren voltou à Indy, primeiro com um projeto pontual, e ano passado com uma equipe própria. E, na última sexta-feira, eles anunciaram que terão uma equipe também na Extreme E, categoria que estreou neste ano e que já ganhou muita visibilidade por conta do formato inovador: a ideia é dar visibilidade a regiões que sofrem com problemas climáticos por meio de uma corrida (que conta, inclusive, com equipes mistas, com um piloto homem e uma mulher por equipe) com carros elétricos.

"Estávamos observando essa categoria de perto, particularmente porque nos dá a oportunidade de acelerar nossa agenda de sustentabilidade", disse Brown. "Ao mesmo tempo, ela nos permite alcançar uma audiência nova, e nos conectar com uma nova geração de fãs por meio de um conteúdo gerado por diversas plataformas."

Paralelamente a isso, a McLaren continua estudando outros dois projetos: a Fórmula E, também elétrica, e o Mundial de Endurance. A ideia é que a divisão esportiva do grupo, após a injeção de dinheiro norte-americano, seja mais autossuficiente e não sofra tanto com os resultados do restante da companhia como no início da pandemia.