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Albon mantém relação com a Red Bull e correrá com motor Mercedes. Mas como?

Alex Albon durante os treinos livres do GP do Bahrein - Mark Thompson/Getty Images
Alex Albon durante os treinos livres do GP do Bahrein Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Colunista do UOL

18/09/2021 04h00

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No primeiro GP em que marcou presença desde que sua volta ao grid da Fórmula 1 foi anunciada, o tailandês Alex Albon dava entrevistas usando o uniforme da Red Bull e era cercado por dois assessores de imprensa da Williams. Ele respondia perguntas justamente sobre essa combinação no mínimo interessante entre ser um piloto dos atuais vice-líderes do campeonato e, ao mesmo tempo, ser contratado por um time que usa motores Mercedes.

Não por acaso, a contratação mexeu com os bastidores da Fórmula 1, com o chefe da Mercedes, Toto Wolff, jogando o nome do holandês Nyck De Vries no mercado numa tentativa de atrapalhar as negociações, que já duravam meses, entre Albon e a Williams. Wolff já conseguiu, no passado, colocar Esteban Ocon, um piloto Mercedes, na Alpine, mas os dois times nunca foram rivais na pista, diferentemente dos alemães e a Red Bull.

Tanto, que dias antes de Albon ser confirmado, Wolff ainda declarava à imprensa que ele teria de se desligar da Red Bull para poder ser contratado da Williams. Mas isso não aconteceu. Quando o anúncio foi feito, Albon apareceu vestindo roupas AlphaTauri, marca de roupas da Red Bull que dá nome, também, ao segundo time da empresa de bebidas energéticas na F1. E o comunicado distribuído por eles não deixou dúvidas: "Liberamos Alex para se tornar um piloto Williams em 2022, mas vamos manter uma relação com ele, o que inclui oportunidades futuras".

Restou a Wolff dizer que o contrato de Albon é blindado para que o tailandês não leve informações da Mercedes para os rivais, uma vez que correrá não apenas com a unidade de potência alemã, como também com a caixa de câmbio e sistema hidráulico relacionado a ela, algo que a Williams passa a comprar da Mercedes justamente ano que vem.

"Como sempre, respeitamos a autoridade das equipes escolherem seus pilotos. Quando eu estava na Williams, não gostava de ver interferência nas nossas decisões sobre pilotos. E também não temos o direito, contratualmente, de fazer isso, e sequer utilizaríamos esse direito se o tivéssemos. O que é importante para nós é que, quando um piloto que vem de outra unidade de potência se junta a uma de nossas equipes, haja cláusulas rígidas de confidencialidade de propriedade intelectual", explicou Wolff.

Albon, por sua vez, diz não saber quais são tais cláusulas, pelo menos por enquanto. "Não faço ideia, honestamente", disse o tailandês, quando perguntado sobre as declarações de Wolff. "Não conversamos sobre isso ainda. As coisas ainda estão acontecendo. Vamos esperar para ver o que tais cláusulas são."

O piloto, que estreou pela então Toro Rosso, subiu para a Red Bull e depois foi dispensado pelo time, tornando-se piloto reserva e de testes, ao final de 2020, prefere pensar passo a passo: primeiro, ajudando a Red Bull a ganhar o campeonato de equipes neste ano - contra a Mercedes - e depois em fazer a Williams crescer. "Sinto que tenho que fazer o melhor trabalho possível agora, focar no curto prazo, e ver o que acontece depois", resumiu o piloto, que admitiu poder ter a marca Red Bull no seu capacete ano que vem.

Isso, novamente, contradiz Wolff, que disse que Alex "será basicamente um piloto Williams pelos próximos 12 meses, sem qualquer ligação com a Red Bull."

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Toto Wolff é chefe da equipe Mercedes desde 2013 e venceu sete títulos mundiais à frente do time
Imagem: Steve Etherington/Mercedes

Mas o quanto Albon pode servir como ?espião?? A questão da propriedade intelectual da unidade de potência pode ser vista de duas maneiras: por um lado, a partir de 2022 até o final de 2024 ou 2025, o desenvolvimento dos motores estará congelado, então não há muito o que a Red Bull pode ganhar do conhecimento de Albon imediatamente. Por outro lado, haverá muito desse motor atual na unidade de potência que será adotada em 2025 ou 2026, e que será a primeira que a Red Bull desenvolverá de maneira independente.

A história também mostra uma nova Williams, que está fortalecendo a parceria técnica com a Mercedes, comprando mais peças dos heptacampeões do mundo, mas que já não é mais aquela equipe da qual Wolff se manteve como sócio mesmo depois de assumir a chefia da Mercedes. Sob o comando de Jost Capito e recebendo uma injeção de investimento vinda do grupo que comprou a equipe há pouco mais de um ano e que vem fechando parcerias, a Williams é um time, politicamente, mais independente da influência de Wolff.

Há também a especulação de que a contratação de Albon seja um aceno na direção de uma parceria com a Red Bull no futuro, mas estas já são cenas dos próximos capítulos.