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Pilotos põem direitos das mulheres e movimento LGBTQIA+ em pauta na Arábia

Sebastian Vettel promoveu evento de kart para mulheres na Arábia Saudita - Divulgação
Sebastian Vettel promoveu evento de kart para mulheres na Arábia Saudita Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

03/12/2021 06h11Atualizada em 03/12/2021 12h05

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Desde que a etapa da Arábia Saudita foi confirmada para estrear no calendário de 2021 da Fórmula 1, várias questões foram levantadas a respeito do real comprometimento da categoria e seus pilotos sobre direitos humanos, algo que, historicamente, esteve longe das discussões do esporte, mas que passou a ser parte integral dele a partir do início do campeonato passado, quando a F1 lançou o movimento We Race as One (nós corremos como um só, em inglês) e passou a permitir que os pilotos se manifestassem por diferentes causas.

Houve pressão para que a prova fosse cancelada e até mesmo que pilotos mais engajados, como Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, boicotassem o evento mas, ao invés disso, os pilotos optaram por uma saída diferente, indo até o país, conhecido pela interpretação ultraconservadora do islamismo e por ser uma ditadura religiosa com punições como apedrejamento, decapitações e amputações, manifestar seu empenho por mudanças.

No caso de Vettel, o foco tem sido entender qual é a real situação atual das mulheres no país. Elas só passaram a poder dirigir em 2018 e a usar a vestimenta que quisessem em 2019, em um movimento de abertura. O alemão organizou um evento de kart apenas com mulheres, usando a experiência para dividir um pouco de seu conhecimento nas pistas e ouvir em primeira mão as opiniões das sauditas. O tetracampeão colheu seus autógrafos e usará a camiseta durante a cerimônia do We Race As One antes da largada do GP da Arábia Saudita. Neste momento, cada piloto pode manifestar-se a favor da causa que escolher.

Seu amigo e, de certa forma, discípulo no paddock, Mick Schumacher, posou com uma camiseta com as cores do movimento LGBTQIA+, que ele também deve usar no grid. Não há leis contra discriminação por orientação sexual na Arábia Saudita e ser LGBT é ilegal no país, podendo levar à execução. Por conta disso, Lewis Hamilton usará novamente o capacete que estreou em outro país com leis severas contra homossexuais, o Catar, palco da etapa anterior da Fórmula 1. O capacete de Vettel também faz menção ao movimento. No primeiro treino livre na Arábia Saudita, o britânico da Mercedes foi o mais rápido, seguido pelo líder do campeonato, Max Verstappen, da Red Bull.

Como tudo na Fórmula 1, essas manifestações foram negociadas com os organizadores locais, o que mostra uma abertura, mesmo que tímida, que a categoria tem testemunhado. Em um país no qual, até pouco tempo atrás, era muito difícil obter um visto de turismo para não muçulmanos, as mulheres que trabalham no evento podem andar desacompanhadas nas ruas, vestir-se como ocidentais (ainda que haja o pedido para não usar roupas curtas e que a grande maioria esteja usando calças e blusas de manga comprida fora da pista), sem a necessidade de cobrir a cabeça e o rosto. Coisas banais do nosso dia a dia, mas que têm sido conquistas para as sauditas nos últimos anos.

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Sebastian Vettel durante evento de kart para mulheres promovido por ele na Arábia Saudita
Imagem: Divulgação

A sensação geral é de ter encontrado um ambiente muito mais aberto do que era esperado, com homens e mulheres sentando juntos à mesa nos restaurantes, algo impensável até pouco tempo atrás no país. Ao mesmo tempo, o quadro que a F1 pode pintar no momento é localizado em uma área mais progressista da cidade de Jeddah, e pode não corresponder ao que ocorre no restante do país.

De qualquer forma, Vettel lembrou da importância da troca de experiências em prol da mudança. "Se você olhar desde uma perspectiva ocidental, há muitas coisas que deveriam ser melhoradas, mas também é verdade que algumas coisas estão mudando. E, para estas pessoas, isso faz uma diferença enorme. Falou-se muito em vir para cá nesta corrida, na primeira vez que corremos na Arábia Saudita. E eu me questionei muito. Estava pensando no que poderia fazer. No geral, nosso foco é muito nas coisas negativas em relação aos direitos humanos, mas eu tento ver o positivo. Fiquei muito inspirado pelas histórias das mulheres que participaram do evento de kart e por sua positividade em relação às mudanças no país."