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Pole Position

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como a temporada mais disputada da F1 em anos virou o ano da politicagem

Lewis Hamilton e Max Verstappen se cumprimentam no pódio do GP dos EUA de Fórmula 1 em 2021 - REUTERS/Brian Snyder/File Photo
Lewis Hamilton e Max Verstappen se cumprimentam no pódio do GP dos EUA de Fórmula 1 em 2021 Imagem: REUTERS/Brian Snyder/File Photo

Colunista do UOL

17/12/2021 04h00

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Em uma das várias idas e vindas à sala dos comissários nas horas que se seguiram à bandeira quadriculada da última corrida da temporada para se defender de um dos dois protestos da rival Mercedes devido à decisão polêmica que deu o título a Max Verstappen, o chefe da Red Bull, Christian Horner, ironizava a presença de um advogado entre os membros do time. "Somos uma equipe de corrida, então não temos um advogado conosco. Porque não viemos aqui para protestar." Mas não era à toa que a rival estava preparada. A temporada 2021 da Fórmula 1 foi tão disputada dentro da pista entre Verstappen e Lewis Hamilton quanto fora dela, e não surpreende que, só quatro dias após a bandeirada em Abu Dhabi, Verstappen tenha recebido seu troféu já sem a sombra da possibilidade de um processo litigioso, após a Mercedes ter desistido de apelar da decisão dos comissários de negar seus protestos do domingo.

Há alguns fatores para se explicar isso: a categoria não tinha um duelo tão parelho —com dois carros ao mesmo tempo tão diferentes e equilibrados, e dois pilotos tão fortes—, há muito tempo. E com algumas particularidades. Devido à pandemia, a F1 adotou ano passado fichas de desenvolvimento, ou seja, havia um limite no número de mudanças permitidas nos carros. Estrearam em 2021, também, restrições de desenvolvimento aerodinâmico baseadas na posição do campeonato (os líderes têm menos tempo de túnel de vento, por exemplo) e, ainda mais importante, agora as equipes têm de respeitar um teto de gastos, também introduzido neste ano. Isso, ao mesmo tempo em que focam no desenvolvimento do carro do ano que vem, que será totalmente diferente.

Com tantos entraves ao desenvolvimento dos carros, o jeito foi ficar de olho no que o rival estava fazendo e pressionar a Federação Internacional de Automobilismo em busca de qualquer possibilidade de achar algo que interferisse negativamente no rendimento.

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Christian Horner (esq), da Red Bull, e Toto Wolff, da Mercedes, conversam durante o GP do Bahrain
Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Pelo que apurou a coluna Pole Position, apenas do lado da Red Bull pelo menos sete protestos foram feitos e abortados, ou seja, não chegaram a ser oficializados, durante a temporada, colocando a declaração de Horner sob perspectiva.

Briga começou com asas traseiras

A primeira briga foi devido à flexibilidade da asa traseira da Red Bull, e a FIA passou a fazer testes mais rígidos a partir do GP da França. Na etapa anterior, no Azerbaijão, a Mercedes ameaçou protestar contra o resultado e a rival contra-atacou reclamando da asa dianteira dos carros pretos. E ficou por isso mesmo.

Depois, a maneira como a Red Bull preparava os pneus passou a ser questionada, quase ao mesmo tempo em que eles pediram à FIA que procurassem irregularidades no motor Mercedes, que não foram encontradas. E, a partir do GP da Bélgica, houve uma mudança no procedimento de pit stop, que feria mais a Red Bull.

No Brasil, a Red Bull reclamou muito da asa traseira da Mercedes, e foi então que teve início a fase mais aguda da judicialização do campeonato: Hamilton foi desclassificado da formação do grid da sprint por uma irregularidade de 0,2mm em sua asa traseira, devido a um parafuso solto. E, na corrida seguinte, no Qatar, foi investigado por duas infrações em um treino livre (desrespeitar uma bandeira amarela dada por engano e atrapalhar Nikita Mazepin) e escapou de punições. Isso depois que a Mercedes pediu a revisão da não punição a Verstappen por ter saído da pista ao se defender de um ataque de Hamilton, sem conseguir levar o caso adiante.

Na prova seguinte, na Arábia Saudita, Verstappen teve de devolver duas posições e levou outras duas punições. A última delas, por ter freado em plena reta sabendo que Hamilton estava logo atrás, foi inclusive ironizada por Lando Norris, por ter sido branda (10 segundos foram acrescidos a seu tempo após a bandeirada, o que não mudou o resultado final).

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Lewis Hamilton acerta a traseira de Max Verstappen na 37ª volta do GP da Arábia Saudita
Imagem: Lars Baron/Getty Images/Red Bull

Não é por acaso, portanto, que a Mercedes levou seu advogado a Abu Dhabi: o clima era tão pesado antes da decisão que o diretor de prova, Michael Masi, incluiu como forma de lembrete que o código desportivo da FIA previa a exclusão de todos os pontos do campeonato se um dos pilotos ou demais membros das equipes tivessem alguma atitude antidesportiva.

No final das contas, foi Masi quem ficou sob os holofotes após a série de decisões que tomou nas últimas voltas do campeonato, optando por não respeitar um procedimento de relargada previsto no regulamento. No meio do fogo cruzado entre os chefes de Red Bull e Mercedes, seus momentos de indecisão e falta de firmeza foram usados por ambos os lados.

A atuação do australiano será avaliada e a mudança dos procedimentos previstos no regulamento será estudada pelo Conselho Mundial de Esporte a Motor, após decisão unânime tomada nesta quarta-feira (15). Não é por acaso que o chefe da Mercedes, Toto Wolff, definiu a luta dos bastidores do campeonato deste ano como algo que "começou como boxe olímpico, virou boxe profissional, e depois MMA."