Topo

Pole Position

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Teste da F1 tem quebras, erros, e uma demonstração de força da Mercedes

Lewis Hamilton a bordo do carro de 2022 da Mercedes - Divulgação/Daimler AG
Lewis Hamilton a bordo do carro de 2022 da Mercedes Imagem: Divulgação/Daimler AG

Colunista do UOL

25/02/2022 14h11

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O contraste entre o primeiro e o último dias da primeira bateria de testes da pré-temporada da Fórmula 1 não poderia ser maior. À medida que os pilotos e equipes começam a forçar mais os novos carros da categoria, vimos mais problemas na pista e as primeiras escapadas mais fortes, mostrando a dificuldade de pilotar esses carros perto do limite. O teste acabou com Lewis Hamilton, da Mercedes, com o tempo mais rápido, seguido por seu companheiro George Russell e por Sergio Perez, da Red Bull.

No primeiro dia, metade das equipes passou de 100 voltas completadas, mesmo andando com um carro completamente novo devido a mudanças no regulamento. Nesta sexta-feira (25), o teste foi interrompido por cinco bandeiras vermelhas e três equipes tiveram de encerrar suas atividades antes do previsto. A primeira vítima foi a Alpine, com uma falha de vedação relacionada ao sistema hidráulico causando um pequeno incêndio na traseira do carro. Isso aconteceu logo nas primeiras horas da manhã no Circuito da Catalunha, na Espanha.

Pelo menos a Alpine conseguiu acumular muitas voltas nos dois primeiros dias, ainda que tenha tido alguns problemas menores, no DRS. O mesmo não pode ser dito pela Haas, que teve uma semana turbulenta dentro das pistas, tendo problemas em todos os dias, e fora, devido à relação com os patrocinadores russos. No último dia de atividades, o carro teve um vazamento de óleo e não pôde ser reparado a tempo de voltar à pista.

haas - Eric Alonso/Getty - Eric Alonso/Getty
O russo Nikita Mazepin, da Haas, pilotando o carro da equipe no 3º dia da pré-temporada em Barcelona sem a pintura com referência à bandeira da Rússia
Imagem: Eric Alonso/Getty

Completando a lista dos times que ficaram pelo meio do caminho está a Aston Martin, que também teve um vazamento de óleo, e que também gerou um pequeno incêndio na traseira do carro.

São três falhas que mostram como as mudanças aerodinâmicas das regras de 2022 acabam influindo no carro como um todo, já que o posicionamento das peças internas também teve de ser revisto. Outros problemas menores, como falhas em sensores, como a que a Mercedes teve, também fizeram os times perderem tempo de pista, algo precioso nesta primeira fase dos testes.

Os times ainda seguem sofrendo com o sobe e desce dos assoalhos, gerado pela súbita perda de pressão aerodinâmica quando o carro fica perto demais do solo na reta. A Mercedes chegou a colocar uma espécie de trava para tentar controlar o movimento do assoalho. Soluções mais definitivas são esperadas para o próximo teste, no Bahrein.

Ao mesmo tempo, começamos a ver os pilotos forçando mais e tentando chegar mais perto do limite do carro. Tendo passado da fase de correlacionar os dados das simulações com a pista, as equipes têm experimentado com acertos diferentes, tentando entender qual a melhor direção para seu carro. E é aí que os exageros começam a aparecer: Pierre Gasly tocou o muro com a Alpha Tauri e o estreante Guanyu Zhou rodou.

alpine - Robin van Lonkhuijsen/Getty - Robin van Lonkhuijsen/Getty
Fernando Alonso, da Alpine, teve um problema no sistema hidráulico de carro durante o 3º dia de testes da F1, em Barcelona
Imagem: Robin van Lonkhuijsen/Getty

Quem está na frente depois dos primeiros testes?

A Mercedes terminou o teste de Barcelona com os dois melhores tempos, mas o entendimento entre as equipes é de que a Ferrari começou a pré-temporada de maneira mais sólida. Eles foram os primeiros a superarem as 400 voltas e conseguiram fazer seu programa, além de terem um carro que parece se comportar bem na pista. E tem chamado a atenção dos rivais o nível da unidade de potência ferrarista.

Mas ter um pacote sólido significa que ele também será rápido o bastante? "Tenho certeza de que a Mercedes estará dois ou três décimos na frente quando chegarmos no Bahrein", disse o chefe ferrarista Mattia Binotto.

mercedes - Rudy Carezzevoli/Getty - Rudy Carezzevoli/Getty
George Russel, da Mercedes, fez uma volta em 1m19.608s no 3º dia de testes da F1, em Barcelona
Imagem: Rudy Carezzevoli/Getty

De fato, só saberemos quem terá a melhor performance quando todos tentarem tirar o máximo do equipamento em uma simulação de classificação, e devemos ver isso no próximo teste, no Bahrein, entre os dias 10 e 12 de março.

Além disso, como os carros ainda estão muito crus, ir bem nos primeiros três dias de pré-temporada pode não querer dizer muita coisa, já que se espera um nível de desenvolvimento muito acelerado.

Mas e os tempos rápidos das Mercedes? A marca de Russell foi estabelecida com o pneu C5, o mais macio e mais aderente da gama da Pirelli, que inclusive é macio demais para a pista de Barcelona, no período da manhã. Tudo isso já dificulta qualquer análise.

Porém, Hamilton e Perez estabeleceram suas melhores marcas com o mesmo composto (C4) com menos de 15 minutos de diferença. E o inglês foi quatro décimos mais veloz. E quatro décimos significam o quê? Em uma pista como a de Barcelona, se o carro da Red Bull estava com 10kg a mais de combustível (e supondo que ambos estão usando configurações semelhantes de motor), isso já seria o suficiente para igualar as marcas.

É por isso que é tão difícil julgar testes baseando-se apenas na tabela de tempos. No final das contas, esta sexta-feira serviu para mostrar que as armadilhas das novas regras vão começar a aparecer quando os pilotos apertarem de vez o pé.