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O que golfinhos têm a ver com o problema que afeta os carros novos na F1

Daniel Ricciardo, da McLaren, durante o 2º dia de pré-temporada da F1, em Barcelona - Xavier Bonilla/Getty
Daniel Ricciardo, da McLaren, durante o 2º dia de pré-temporada da F1, em Barcelona Imagem: Xavier Bonilla/Getty

Colunista do UOL

06/03/2022 04h00

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Essa temporada da Fórmula 1 está vendo o retorno de um termo que não aparecia há cerca de 40 anos no vocabulário da categoria: porpoising, que poderia ser traduzido para o português como "golfinhada", já que é a descrição do movimento do animal, mas em um carro de corrida. Quando está em alta velocidade e seu assoalho deixa de funcionar como deveria repentinamente, o carro sobe e volta a descer de novo. É algo que voltou a aparecer junto com a volta do efeito-solo produzido pelos novos assoalhos, e promete ser a palavra da vez no início do campeonato.

Não é difícil evitar o porpoising. Dá para usar o carro mais alto, dá para fazer buracos no assoalho para o ar escapar, dá para remendar a peça como a Mercedes fez nos primeiros testes para diminuir o movimento. Mas tudo isso é prejudicial para o rendimento do carro. A grande dificuldade é se livrar do porpoising sem perder performance. "É algo muito difícil de simular porque tem a ver com o comportamento do pneu também, se ele é mais rígido ou não", lembrou o diretor técnico da McLaren, James Key.

mercedes - Rudy Carezzevoli/Getty - Rudy Carezzevoli/Getty
George Russel, da Mercedes, fez uma volta em 1m19.608s no 3º dia de testes da F1, em Barcelona
Imagem: Rudy Carezzevoli/Getty

Isso explica porque ver a grande maioria dos carros sofrendo tanto com isso no primeiro teste em Barcelona foi uma surpresa para as equipes, que tiveram de rever seu programa de desenvolvimento, já comprometido neste ano com restrições no teto orçamentário e no uso de túnel de vento, entre outras. A preocupação é grande porque isso apareceu de forma muito forte em alguns carros em uma pista bastante lisa, então deve ser um problema ainda maior em circuitos ondulados.

O assoalho é a peça que mais mudou na F1 em relação ao ano passado. Em vez de ser liso na sua parte inferior, agora há túneis para gerar pressão aerodinâmica (daí a volta do termo efeito-solo, famoso nos anos 70 e 80). Calcula-se que até 80% das forças que mantêm o carro estável venham dessa peça no novo regulamento mas, quando o carro vai abaixando na reta com o aumento da velocidade e chega perto demais do solo, ela pode perder o efeito. E é isso que gera o movimento de sobe e desce do carro.

Alfa é time que mais sofre; na McLaren, menos (até agora)

Nem todos sofrem na mesma medida. A Alfa Romeo está em uma ponta e a McLaren está em outra. No caso do time suíço, os movimentos são tão severos que estavam fazendo buracos no assoalho, e esse foi um dos motivos que fizeram a equipe somar apenas 175 voltas em três dias de testes em Barcelona, enquanto a Ferrari deu 439.

O time italiano também sofreu com o porpoising, mas foi um dos que optaram por andar com a asa traseira móvel ativada na reta para mascarar o problema enquanto completava seu programa de testes.

Andar com o DRS aberto diminui a carga aerodinâmica e, por isso, evita que o assoalho fique tão baixo e, consequentemente, o porpoising. Mas é claro que não dá para disputar uma corrida dessa forma, já que só é permitido abrir o DRS quando há um carro a menos de 1s na frente. Então, quem não resolver o problema antes da primeira corrida, no Bahrein, dia 20 de março, poderia ou sacrificar a classificação levantando o carro, ou usar essa questão do DRS para não ter porpoising no sábado e se segurar no domingo. "Na classificação, para tirar o máximo, é preciso que o carro esteja baixo. Mas quando o DRS não está aberto, temos o problema de porpoising. Temos que entender melhor o carro, mas pode ser necessário comprometer muito a classificação", avaliou Sergio Perez, da Red Bull.

Embora o tempo seja curto, as equipes já testarão soluções nesta semana, na segunda parte da pré-temporada, de 10 a 12 de março, no Bahrein.

A McLaren indicou, contudo, que esse é um problema que pode reaparecer ao longo da temporada dependendo dos rumos do desenvolvimento aerodinâmico. Isso porque eles perceberam que, quando retiraram algumas peças que tinham levado para serem testadas em Barcelona, o ligeiro porpoising que eles estavam tendo desapareceu. "Então, embora não tenha sido algo importante para nós até o momento, isso não significa que não vá voltar no futuro devido ao desenvolvimento", disse Key.

Isso quer dizer que podemos ouvir falar bastante de golfinhos nesta temporada da F1.