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Hamilton não vê Mercedes lutando por vitória na estreia da F1, mas por quê?

Lewis Hamilton testa com o carro da Mercedes, com uma nova lateral, nesta quinta-feira no Bahrein - Mercedes
Lewis Hamilton testa com o carro da Mercedes, com uma nova lateral, nesta quinta-feira no Bahrein Imagem: Mercedes

Colunista do UOL

14/03/2022 04h00

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Parece até um repeteco do começo de 2021: a atual campeã Mercedes garante que não está conseguindo extrair o potencial do carro e não se coloca entre as favoritas para o início da temporada, que começa com o GP do Bahrein neste fim de semana. Há 12 meses, o carro ressurgiu bem melhor para a corrida e Lewis Hamilton venceu a prova após uma disputa apertada com Max Verstappen. E muita gente ficou achando que todo o drama dos testes foi só jogo de cena.

É visível que Lewis Hamilton e seu novo companheiro George Russell estavam brigando com o carro nos testes realizados na última semana no Bahrein, da mesma forma que aconteceu na pré-temporada de 2021. E, mesmo que a Mercedes tenha conquistado o título de construtores, ficou claro ao longo do ano que eles sofreram muito mais para se adaptar a regras que mudaram os assoalhos dos carros naquele ano, tendo uma disputa apertada por todo o ano com a Red Bull depois de uma temporada em que foram absolutos em 2020.

Também é verdade que o carro da Mercedes apresentou uma evolução importante entre o último teste e a primeira corrida, o que foi fundamental para Hamilton ganhar aquela prova. E é o mesmo salto que a equipe busca nestes dias que antecedem o início da temporada 2022.

Mas as semelhanças param por aí. O regulamento mudou muito mais do que entre 2020 e 2021 e os octacampeões têm desafios diferentes pela frente. Eles também têm dois rivais, Red Bull e Ferrari, com conjuntos rápidos tendo feito uma pré-temporada com menos solavancos.

Isso, no sentido figurado e literal: o grande problema da Mercedes são os saltos que o carro dá em alta velocidade, que ocorrem quando o assoalho se aproxima tanto do solo que bate no chão e o carro começa a quicar. Isso não apenas é desconfortável para os pilotos, e foi comum ver Hamilton tentando alongar a lombar sempre que entrava e saía do carro nos testes, como também prejudica o rendimento.

O assoalho é a peça principal dentro do novo regulamento técnico da F1, e grande parte da performance do carro é gerada por ele. Como esse sobe e desce, ele não funciona direito.

Uma solução fácil para a Mercedes seria configurar o carro para ele andar um pouco mais longe do solo e isso provavelmente já teria ajudado o rendimento nos testes. Mas isso também gera perda de performance porque estes carros têm de andar o mais próximo possível do solo para funcionar bem. E é justamente por isso que o time insiste em andar com o carro baixo para entender o que está acontecendo e obter uma solução definitiva.

A questão é quanto tempo vai levar para o time conseguir fazer seu pacote funcionar. No momento, ele não está funcionando.

Então, ao mesmo tempo em que, quando Hamilton diz à imprensa que a Mercedes "não deve lutar por vitórias agora", não seria uma surpresa ver um quadro diferente neste final de semana. A frustração do inglês vem de andar com um carro que realmente estava difícil no teste do Bahrein, saltando muito nas retas e com a tendência de sair de frente nas curvas, principalmente as mais lentas. Porém, ao estrear um pacote extenso de mudanças neste segundo teste, a Mercedes teve de primeiro entender o que tinha em mãos, e só poderá testar as soluções para que os dados apontam nos treinos livres do GP do Bahrein. Inclusive, no período da tarde do último dia de testes, quando era Russell quem estava ao volante, o comportamento do carro já parecia um pouco melhor.

Mesmo assim, é uma montanha e tanto para se escalar com tanta coisa para se entender sobre esse carro. Um desafio bem maior que o de 2021. Veremos já neste final de semana se, como diz Hamilton, a Mercedes terá pela primeira vez desde 2013 outras prioridades que não a vitória.