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Mercedes não tem carro ruim, mas não sabe em quantos GPs disputará vitórias

Hamilton, da Mercedes, durante o GP da Arábia Saudita da F1 - Mark Thompson/Getty
Hamilton, da Mercedes, durante o GP da Arábia Saudita da F1 Imagem: Mark Thompson/Getty

Colunista do UOL

01/04/2022 04h00

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Após duas etapas disputadas no campeonato da Fórmula 1, a Mercedes está a 40 pontos da líder Ferrari e só ocupa o segundo lugar porque a Red Bull não pontuou na primeira prova por um erro primário com o combustível. Mais do que isso, o déficit do melhor tempo obtido pelos octacampeões mundiais para a pole position cresceu entre o Bahrein e a Arábia Saudita, de 0.7% para 1%.

Pode parecer pouco mas, para efeito de comparação, durante todo o ano passado, Sergio Perez ficou a 0.5% dos tempos de Max Verstappen em média e só se classificou uma vez à frente do companheiro.

O carro da Mercedes não nasceu ruim. Isso ficou comprovado pelas velocidades de contorno de curva nos testes, especialmente no Bahrein. Mas trata-se de um projeto com um problema fundamental, que acaba comprometendo a performance em vários níveis: o porpoising, ou as golfinhadas, movimento que faz o carro bater constantemente no asfalto em alta velocidade.

Essas golfinhadas obrigam a Mercedes a andar com o carro mais alto do que seria o ideal, e esse foi o caso especialmente na Arábia Saudita devido às características do circuito de alta velocidade, o que explica a piora do desempenho. Na próxima etapa, na Austrália, em um circuito que fica entre Bahrein e Jeddah em termos de acerto, a diferença deve voltar a cair. Ou pelo menos se o novo asfalto, de fato, diminuir as ondulações na pista. Caso contrário, será outro fim de semana muito difícil para a Mercedes.

De qualquer maneira, não é o suficiente para a Mercedes começar a brigar pelas primeiras posições. George Russell acredita que 99% dos problemas da equipe são decorrentes das golfinhadas e reconhece que não há uma solução fácil para elas. "Estes carros andam melhor quando estão baixos e não conseguimos chegar nem perto do nível que nossos rivais estão usando. Em termos de quanto tempo vai demorar para isso acontecer, não faço ideia."

Russell acredita que, se as golfinhadas ficarem para trás, a Mercedes dará um enorme passo em termos de performance. Isso porque andar com o carro mais baixo faz com que ele produza mais pressão aerodinâmica e também gere menos resistência ao ar nas retas. Além disso, os pneus sofrem menos estresse e o motor pode ser usado com toda a sua potência. No momento, a Mercedes não tem conseguido usar seus modos mais potentes da unidade de potência porque, quando o faz, as golfinhadas aumentam e o rendimento acaba sendo pior.

A questão é que, enquanto a Mercedes tem de se concentrar totalmente em resolver seu grande problema, os rivais de Ferrari e Red Bull focam no desenvolvimento de seus carros e também tendem a dar saltos importantes por se tratar de um carro totalmente novo.

"Nós temos algumas avenidas sendo abertas que podem ser uma boa direção para nós", disse o chefe de engenharia, Andrew Shovlin. "Está demorando um pouco para que as peças cheguem no carro e estamos trabalhando duro. Mas sabemos que as outras equipes estão resolvendo o problema mais rapidamente do que nós e esse não é o padrão que estamos acostumados a ver. Então nosso esforço está concentrado nisso, sem deixar para trás o desenvolvimento do carro, mas precisamos trabalhar muito duro para sairmos desta situação."

A abordagem da equipe tem sido semelhante à do ano passado, quando eles também sofreram com uma mudança de regras que foi mais negativa para o seu carro que dos rivais: estar aberta a ideias diferentes em termos de acerto, testando um pouco de tudo para encontrar o caminho. "Estamos em uma boa posição para fazer isso, porque temos certa vantagem em relação às equipes que vêm atrás, então podemos experimentar", lembrou Russell.

Os desafios da Mercedes, contudo, não param por aí. O carro está acima do peso, embora este também seja um problema para Red Bull e Ferrari, mas o foco nas golfinhadas pode atrasar a solução desta questão. Isso porque as equipes da F1 estão tendo de desenvolver esse carro praticamente desconhecido com limitações financeiras, impostas pelo limite orçamentário de 140 milhões de dólares por ano, e do uso de ferramentas de desenvolvimento aerodinâmico, que dependem da posição do campeonato.

Até o final de junho, a Mercedes será a equipe com menos tempo de túnel de vento e simulações de computador, já que venceu o campeonato do ano passado. A Red Bull tem 5% a mais de tempo à disposição e a Ferrari, 10%.