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Como o motor Ferrari deu a volta por cima depois do acordo sigiloso de 2020

Charles Leclerc lidera o campeonato da Fórmula 1 após três etapas - Ferrari
Charles Leclerc lidera o campeonato da Fórmula 1 após três etapas Imagem: Ferrari

Colunista do UOL

17/04/2022 04h00

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Líder do campeonato de construtores e de pilotos em 2022 da Fórmula 1, com Charles Leclerc, a Ferrari não sabia o que era começar o ano andando entre os primeiros desde 2019. Naquele ano, os italianos não chegaram a lutar pelo título, mas incomodaram a Mercedes em várias etapas, especialmente depois que fizeram uma atualização na unidade de potência no meio da temporada, vencendo três provas em sequência.

A história não acabou bem para o time de Maranello. Depois de muita pressão dos rivais, a Federação Internacional de Automobilismo fez uma investigação minuciosa na unidade de potência ferrarista. Ao final da temporada, anunciou que tinha chegado a um acordo com a equipe, cujos termos não seriam divulgados. A Scuderia se comprometeu a ajudar a FIA a criar novos mecanismos para monitorar os motores da Fórmula 1.

Não coincidentemente, a unidade de potência ferrarista já não era tão forte em 2020, e o time foi de segundo colocado em 2019 para sexto no ano seguinte, recuperando-se lentamente até chegar ao patamar de hoje.

Afinal, a unidade de potência da Ferrari era ilegal?

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As suspeitas começaram depois que a Ferrari venceu três corridas seguidas em agosto e setembro de 2019
Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Até hoje os membros da Scuderia fazem questão de salientar que nada de ilegal foi encontrado no motor de 2019. Sabe-se que a vantagem ferrarista tinha a ver com o fluxo de combustível. Eles estavam usando um mecanismo complicado que, acredita-se, conseguia aumentar o fluxo além do limite regulamentar nos milissegundos em que a medição não era feita pelo fluxômetro da FIA.

Então isso cairia na velha discussão da F1 entre o que é o espírito das regras e o que realmente está escrito, aquela área cinzenta do regulamento que a FIA sempre trabalha no sentido de esclarecer.

O fato é que a Ferrari tinha uma vantagem e ela acabou. Quanto à colaboração com a FIA, ela foi focada justamente no controle de fluxo de combustível e levou à adoção de um sistema padronizado que as equipes estão usando a partir deste ano.

Na FIA, acredita-se que hoje é impossível tentar burlar o sistema usando o combustível. Então isso afasta a possibilidade de a Ferrari estar voltando a usar o mesmo sistema de 2019 após dois anos de "gancho". Na verdade, os italianos parecem ter encontrado algo na parte elétrica da unidade de potência híbrida que a F1 usa desde 2014.

Evolução do motor ferrarista começou no ano passado

Para entender a evolução da unidade de potência da Ferrari é preciso voltar ao GP da Rússia de 2021, quando Charles Leclerc estreou a atualização que focou na parte da energia elétrica do motor. A Ferrari tinha optado por um programa diferente para melhorar sua unidade de potência, abdicando de usar todas as suas fichas de desenvolvimento no início da temporada. A tática fazia parte de um programa para ter em 2022 uma UP mais forte, dando mais tempo ao desenvolvimento das novidades.

A tática foi diferente na Honda, por exemplo, que optou por adiantar em um ano o que estava programado para entrar no motor em 2022. E isso acabou sendo fundamental para Max Verstappen conquistar o título ano passado. A Ferrari, por sua vez, estava numa posição diferente e, sabendo que não teria chances de brigar pelo campeonato, focou nesta temporada.

Dentro dessa estratégia, os italianos pediram à FIA que a homologação das unidades de potência fosse dividida em duas partes, o que foi aceito também pelos rivais. Assim, em março, o motor a combustão, o turbocompressor e o MGU-H foram homologados. E o restante ficou para setembro. Essa será a última alteração permitida até o final de 2025, então ela é decisiva.

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A Honda, que equipa a Red Bull, teve uma estratégia de desenvolvimento diferente da Ferrari
Imagem: Bryn Lennon/Getty Images

Essa divisão permitiu à Ferrari seguir focando na parte elétrica, principalmente na central eletrônica e no MGU-K, que ainda não estão homologados. Antes da homologação de março, o foco tinha sido no motor a combustão. "A parte híbrida é muito parecida com aquela do final do ano passado. O resto, especialmente o motor a combustão, é significativamente diferente", explicou Binotto. Agora, o foco é novamente a parte elétrica.

É claro que as outras fornecedoras também vão se aproveitar dessa última chance de melhorarem seus motores. A diferença é que a Ferrari fez seu planejamento desde o final de 2020 já focando nestes prazos.

Outro ponto é a adaptação ao combustível com 10% de etanol, que passou a ser utilizado neste ano. Mercedes e Honda (cujo motor agora leva o nome de Red Bull Powertrains, mas segue sendo feito e operado pelos japoneses) relataram ter tido mais dificuldades do que esperavam com essa mudança.

As mudanças para 2022 foram dentro do motor a combustão e não na arquitetura do motor, como fez a Renault, outra que evoluiu muito em 2022. Agora, para a última atualização antes de setembro, segundo Binotto, dá para esperar mais um passo adiante para a Ferrari.