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Caras fechadas e dores: Como a Mercedes viveu um GP para esquecer em Imola

Lewis Hamilton, da Mercedes, terminou o GP da Emilia-Romagna apenas em 13º - Clive Mason/Getty Images
Lewis Hamilton, da Mercedes, terminou o GP da Emilia-Romagna apenas em 13º Imagem: Clive Mason/Getty Images

Colunista do UOL

25/04/2022 09h40

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A Mercedes chegou à quarta etapa do campeonato com a esperança de encontrar uma direção mais clara para solucionar seu grande problema neste início de temporada, os quiques do carro no aslfato em alta velocidade. O carro tinha algumas modificações que buscavam melhorar o fluxo de ar, mas o que se viu na pista não foi muito animador. Não demorou para as caras ficarem mais fechadas e as câmeras até flagraram uma conversa mais acalorada entre Lewis Hamilton e Toto Wolff depois que o inglês foi eliminado na segunda parte da classificação na sexta-feira e largou apenas em 13º. Ele terminaria a corrida em 14º, enquanto seu companheiro George Russell conseguiu um quarto lugar, mas deixou claro que "esse não é o lugar do nosso carro".

Hamilton depois explicou que ele cobrava de Wolff "coisas que deveriam ter sido feitas e não foram". Sua frustração era com a dificuldade de aquecimento de pneus, outro problema crônico do carro e que obriga os dois pilotos da Mercedes a fazer duas voltas lançadas na classificação. "Temos tido dificuldades com aquecimento dos pneus com esse carro e, honestamente, não encontramos uma solução", reconheceu o chefe de engenharia Andrew Shovlin.

A questão foi ainda mais acentuada neste fim de semana pela baixa temperatura ambiente, o que foi salientado por Toto Wolff. "Não há nenhuma divisão na equipe e ninguém está culpando ninguém. Nenhum de nós na equipe está nem perto de estar contente com a situação e há muita pressão para acertar as coisas", afirmou a respeito da conversa com Hamilton. "Esta é a quarta corrida e provavelmente é nosso pior momento. Seria bem irreal dizer que temos um lugar entre os que lutam pelo campeonato no momento."

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Toto Wolff (dir) conversa com os engenheiros James Vowles (centro) e Andrew Shovlin
Imagem: Steve Etherington

O problema de aquecimento não aparece tanto na corrida, mas fez com que Russell e Hamilton fossem eliminados na segunda parte da classificação, uma vez que eles não puderam fazer duas voltas lançadas devido a uma bandeira vermelha. Fora de posição e sem velocidade de reta para ultrapassar, eles ficaram bloqueados na sprint no sábado, e Russell só teve uma corrida bem diferente de Hamilton porque largou muito bem do lado emborrachado, pulou de 11º para 6º na primeira volta, fez uma ultrapassagem em cima de Kevin Magnussen, e terminou em quarto. Hamilton ficou preso atrás das AlphaTauri por toda a prova e terminou em 13º.

Das risadas à decepção numa questão de horas

O heptacampeão até chegou animado ao paddock na sexta-feira, respondendo longamente sobre sua tentativa, juntamente da tenista Serena Williams, de comprar o Chelsea. Ele gargalhava ao lembrar como virou torcedor do Arsenal "forçado" pela irmã e como não deu muito certo jogando bola quando era adolescente porque "era meio-campo, mas queria jogar em todas as posições."

Isso foi antes da única sessão de treinos livres antes da classificação. Nela, Russell chegou a ver a haste que várias equipes têm usado para tentar controlar o movimento do assoalho e, assim, os quiques, se quebrar. Os quiques estavam tão fortes neste fim de semana que Russell revelou que estava sentindo as costas e também tinha dores no peito.

E havia ainda os pneus. Entre o treino livre e a classificação, Toto Wolff teve uma longa reunião com Mario Isola, da Pirelli. Essa questão de não conseguir colocar os pneus na temperatura ideal é um problema crônico da Mercedes neste ano, e obriga os pilotos a fazerem duas voltas rápidas na classificação para conseguir o melhor rendimento possível.

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George Russell, da Mercedes, durante o GP da Emilia Romagna
Imagem: LAT Images

A expectativa era de que, com várias voltas em sequência na sprint e no GP, os problemas de aquecimento diminuiriam e o verdadeiro ritmo do carro aparecia. De fato, eles não sofreram mais com isso, mas também não conseguiram evoluir na prova porque, nas palavras de Toto, "a diferença de rendimento para os carros do meio do pelotão não é suficiente para ultrapassar. Se estivéssemos com ar limpo, daria para termos um ritmo melhor."

De fato, nas primeiras corridas do ano, na maior parte do tempo as Mercedes estavam correndo sozinhas porque tinham conseguido se classificar por volta da terceira fila. Assim, com pista livre, conseguiam desenvolver seu próprio ritmo, que vinha sendo o terceiro melhor.

Preso no trânsito, Hamilton não escondeu a frustração. "Não posso fazer nada. Não fizemos um bom carro neste ano", dizia logo após sair do carro na sprint. Na entrevista coletiva que deu mais de uma hora depois, salientou várias vezes que todos estavam unidos dentro da equipe para buscar soluções e que ele não pensa em sair do time.

Sobrou até uma indireta para Mika Hakkinen, que disse após a Austrália que Hamilton já estaria pensando no próximo passo na carreira e que deveria estar reclamando nas reuniões. "Eu vi alguns comentários de certos indivíduos que lembro de respeitar quando era mais jovem, mas ultimamente seus comentários são bobos e um cheio de besteira, cujo objetivo é ganhar as manchetes para que ele se mantenha relevante."

Na corrida, Russell e Hamilton acabaram tendo histórias diferentes basicamente pela largada, em que ele passou três carros e ganhou mais duas posições pelo toque de Sainz e Ricciardo, enquanto Hamilton, a exemplo de todos que largaram do lado par, perdeu posições.

O quarto lugar de Russell foi basicamente a única boa notícia em um fim de semana em que a Mercedes levou algumas atualizações para o carro, embora o novo assoalho, peça fundamental para controlar os quiques, só deva chegar no GP da Espanha, no final de maio.