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Reação da F1 a assédio nas arquibancadas serve de alerta para Interlagos

Fãs invadem Interlagos para comemorar vitória de Hamilton - NELSON ALMEIDA/AFP
Fãs invadem Interlagos para comemorar vitória de Hamilton Imagem: NELSON ALMEIDA/AFP

Colunista do UOL

14/07/2022 04h00

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A Fórmula 1 diz estar "levando muito a sério" as denúncias de assédio feitas por torcedoras durante o GP da Áustria, enquanto Toto Wolff, chefe da Mercedes, e o tetracampeão Sebastian Vettel pediram que os torcedores deveriam ser banidos do esporte se comprovados comportamentos sexistas, racistas e homofóbicos. Infelizmente, ao longo dos anos, isso não é uma novidade no esporte, e inclusive já houve várias denúncias, principalmente de mulheres ao longo dos anos de problemas em Interlagos.

Ou seja, se a promessa de linha dura da F1 se confirmar, ainda dá tempo até novembro, quando acontece o GP de São Paulo, de rever alguns comportamentos que se enraizaram nas arquibancadas ao longo dos anos.

E há motivos para acreditar que, pelo menos, haverá muito mais barulho sobre esse tema do que no passado. A Fórmula 1 vem trabalhando intensamente para ampliar seu público, que está ficando mais jovem, mais feminino e mais inclusivo etnicamente. Para se ter uma ideia, o share de TV do GP da Áustria na emissora local foi 18% mais alto entre o público mais jovem do que o número absoluto. E essa é uma tendência global no esporte no momento.

Um público novo e mais diverso significa que as arquibancadas não podem continuar sendo o velho reduto no qual grupos isolados se sentem à vontade quando estão em bando para chamar qualquer homem acompanhado de sócio, perseguir mulheres na saída do banheiro e outras cenas relatadas por torcedoras ao longo dos anos.

Em Interlagos, Alain Prost ouviu a arquibancada em coro mandá-lo para aquele lugar quando rodou em 1993. Também ouvi um coro do setor A em Interlagos de "Alonso, viado" em 2010, primeiro ano em que ele foi companheiro de Felipe Massa. Fora do Brasil, testemunhei, no auge da rivalidade de Hamilton com Alonso em 2008, gritos de "macaco" quando o inglês ou seu pai apareciam no telão. Exemplos não faltam. O que nunca houve foi uma ação efetiva para combater esse tipo de comportamento.

Arquibancadas mais diversas x invasão holandesa

No domingo, Mercedes e Aston Martin convidaram torcedoras que tinham denunciado os abusos a assistirem a corrida dentro de suas garagens. "Álcool não é desculpa", salientou o chefe da Mercedes, Toto Wolff. "O esporte polariza e gera emoções, e queremos isso. Mas não devemos generalizar, só expulsar alguns idiotas. Não estamos condenando um grupo de fãs. Há algumas amebas - pessoas que só têm uma célula - mas não vamos generalizar."

Vettel foi outro que defendeu que os abusadores sejam banidos para sempre de entrarem nos circuitos, em sistema parecido ao adotado em vários países para hooligans no futebol. "A tolerância tem de ser zero".

No caso da Áustria, os comportamentos denunciados vieram de torcedores de Max Verstappen. De 2018/2019 para cá, o interesse crescente dos holandeses tem gerado um negócio rentável para agentes de viagens do país, que vendem pacotes a grandes grupos, com tudo incluso. São compradas arquibancadas inteiras, muitas vezes pelos próprios Verstappen, para estes grupos, que começaram a ‘invadir’ primeiro a Europa, e hoje também são vistos em grandes números nas provas do Oriente Médio.

Então apostar na febre Verstappen é um negócio bastante lucrativo, e que não deveria ir na contramão de tornar as arquibancadas mais diversas e inclusivas. Até porque, relatos como os da Áustria não são generalizados, ou seja, não é sempre que o "exército laranja" está reunido que isso acontece.

O próprio Verstappen, que já tinha criticado sua torcida por comemorar a batida de Hamilton no sábado, disse no domingo quando perguntado sobre as denúncias de abuso que "essas coisas não deveriam acontecer. Li algumas coisas chocantes, que definitivamente não são ok. E eu nem deveria estar dizendo isso, deveria ser senso comum."

Sentado ao seu lado na coletiva de imprensa, Lewis Hamilton endossou a opinião do rival. "Temos de trabalhar juntos para espalhar positividade, porque essas pessoas deveriam vir para as corridas sentindo-se seguras, elas deveriam sentir-se incluídas. E você deveria poder torcer por quem você quiser. Não importa. E não deveria importar qual seu gênero, sexualidade, a cor da sua pele. Todo mundo deveria estar aqui se divertindo."