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Como F1 convenceu pilotos a colocarem câmera de alta definição em capacetes
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Faz menos de um ano que a Fórmula 1 usou pela primeira vez a imagem que mostra com o maior nível de realidade possível o que é pilotar um carro da categoria. Depois de anos de testes, foi colocada pela primeira vez, no capacete de Fernando Alonso durante os treinos livres do GP da Bélgica, uma câmera de alta definição de apenas oito milímetros com a capacidade de transmitir ao vivo o que o espanhol via desde dentro de seu capacete.
É bem verdade que não era a primeira vez que um piloto usava uma câmera no capacete: o piloto inglês Mark Blundell foi o primeiro a experimentar a novidade em 1994, e houve outras tentativas no GP do Brasil de 2008, depois 2012 e 2013. Mas nada com a definição e clareza da tecnologia usada pela F1 hoje. E que estará presente, por regulamento, em todos os capacetes a partir da temporada 2023.
Isso só será possível porque a tecnologia desenvolvida pela Zeronoise, que é ligada à fabricante de capacetes Bell, estará disponível para as demais marcas de cascos. E esse é um ingrediente curioso da história porque nem todos os pilotos gostaram, pelo menos inicialmente, da ideia de ter uma câmera mostrando o volante, e potencialmente entregando segredos para os adversários.
Pilotos foram 'seduzidos' por mais tempo na TV
Que o diga Lewis Hamilton, que teria vetado a novidade no final da temporada passada depois que soube que seu rival Max Verstappen não teria a câmera. Isso porque, enquanto Hamilton usa capacetes Bell, assim como a maior parte do grid, o holandês é cliente da Schuberth.
Atualmente, quatro fabricantes de capacete são usados na Fórmula 1: Bell, Schuberth, Stilo e Arai. Leclerc, Zhou, Ocon, Norris, Hamilton, Gasly, Russell, Latifi, Magnussen e Alonso são aqueles que usam Bell e que, portanto, poderiam ter a câmera já nesta temporada.
Então, se só metade do grid pode ter a câmera e muitos não querem entregar seus segredos por meio do volante, que fica bastante visível, especialmente nas corridas com iluminação artificial, como Alonso foi convencido e, logo na corrida seguinte, na Itália, Norris se tornou o segundo a testar a novidade? Trata-se de uma maneira deles conseguirem mais tempo na telinha.
Até porque, desde a primeira aparição da câmera, ficou claro que ela seria um hit entre os fãs. Nada mais justo para uma tecnologia que já era usada em outras categorias, mas que demorou anos para chegar à F1, em que as velocidades podem ultrapassar 350 km/h.
Foram dois os motivos: primeiro, as câmeras teriam que passar pelos testes de segurança da FIA, o que não passaria com o modelo adotado pela Indy nos Estados Unidos, por exemplo. Segundo, quando isso finalmente aconteceu e a câmera passou a ser usada na Fórmula E, que tem chancela da entidade, a qualidade deixava a desejar.
Como funciona a câmera dentro do capacete
A tecnologia implementada na Fórmula E no início de 2020 é a mesma da F1. Trata-se de uma câmera de 2.5 gramas e 8 milímetros colocada dentro da espuma do capacete em uma das laterais. Porém, quando a categoria de carros elétricos começou a usar a novidade, não era possível controlar a íris e o obturador, então muitas vezes a falta ou o excesso de luz repentinos atrapalhava a visibilidade. Outro fator que mudou foi a possibilidade de corrigir as cores remotamente.
Outro problema era simplesmente conseguir que o sinal da câmera chegasse em tempo real para a transmissão, como as outras onboards. Esse, inclusive, segue sendo um fator que limita o uso em larga escala por um motivo simples: há muita informação saindo do carro ao mesmo tempo, desde as imagens, passando pelo rádio do piloto e os dados da telemetria.
"Temos um cabo que sai do carro no qual dá para colocar o sinal de uma câmera, às vezes de duas. Também temos de tirar os dados de telemetria do carro, mas por meio daquele cabo há uma determinada quantidade de dados que pode passar", explicou Dean Locke, diretor de transmissão e mídia da F1. "Alguns dos desenvolvimentos futuros vão permitir pegar mais dados, mais imagens, mais conteúdo do carro enquanto ele está na pista, o que é um grande desafio."
Esses dados que são recolhidos no carro por meio de cabos são transmitidos por antenas colocadas em vários pontos ao longo da pista, em um sistema de wifi que comporta 10 gigahertz.
O mecanismo para transportar a imagem do capacete para o carro é simples: o mesmo plug usado para a comunicação via rádio com as equipes é utilizado para a imagem, então é necessário adicionar, além da câmera, apenas um cabo de vídeo que sai no mesmo lugar do áudio. Esse cabo é conectado pelos mecânicos e tem um mecanismo para se soltar com facilidade quando o piloto sai do carro.
Esse cabo vai até a central que transmite o áudio e vídeo de todas as outras câmeras. Essa central, por sua vez, fica na parte de cima do carro, perto da câmera onboard (aquela que é pintada de preto ou amarelo para identificar cada um dos pilotos da equipe). É essa antena que transmite, via wifi, todas as informações do carro.
Nada de esconder dados no volante
Um ponto interessante da câmera da Fórmula 1 é que as informações do volante ficam visíveis, ao contrário do que acontece na Fórmula E. Ainda que os dados sobre as baterias sejam mais sensíveis na categoria 100% elétrica do que a na F1, que usa uma unidade de potência híbrida, é algo que pode ser visto como uma vitória. Assim, podemos ter acesso a dados como a temperatura dos pneus e vemos mudanças que os pilotos fazem no volante, como jogar o equilíbrio de freio para frente ou para trás ou a mudança de um modo de motor, por exemplo.
E mais. O desenvolvimento dessa tecnologia é importante porque a câmera é tão pequena que pode ser colocada, virtualmente, em qualquer lugar. Prova disso é a imagem que tivemos a partir do GP da Grã-Bretanha, em julho deste ano, filmada atrás dos pedais. Assim como nos primórdios da câmera do capacete, um dos primeiros pilotos a testar a novidade é Lando Norris. Foi uma imagem que a F1 mostrou pela primeira vez em 22 anos, mas com uma qualidade que só nos faz imaginar qual o próximo lugar em que a minicâmera vai aparecer.
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