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As portas da F1 estão se abrindo para o americano Herta. Só falta a 'CNH'

Colton Herta comemora vitória na segunda etapa da Indy, no último domingo - IndyCar
Colton Herta comemora vitória na segunda etapa da Indy, no último domingo Imagem: IndyCar

Colunista do UOL

07/09/2022 04h00

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Em um ano de mercado de pilotos cheio de reviravoltas, um nome cotado para assumir o cockpit da AlphaTauri vem causando polêmica entre as equipes: o norte-americano Colton Herta, de 22 anos, e já na sua quarta temporada na Fórmula Indy. A dúvida é se o piloto poderia ter a superlicença necessária para correr na F1, uma vez que não preenche os pré-requisitos para tal.

O interesse do grupo Red Bull, que é dono da AlphaTauri, em ter um piloto norte-americano não é de hoje. Eles chegaram a colocar Pato O' Ward em seu programa de jovens pilotos, entendendo que ele poderia conseguir a superlicença em 2019, mas a FIA voltou atrás e os austríacos acabaram abortando o projeto, mesmo depois de tentar colocá-lo na F2 por uma corrida e na Super Fórmula japonesa.

O'Ward acabou indo para a McLaren e corre pelo time na Indy. O piloto de 23 anos, inclusive, chegou a ser cotado para os planos futuros do time inglês na F1 e testou um carro da categoria. Meses depois, foi a vez do próprio Herta também testar uma McLaren.

Mas a equipe acabou optando por contratar o australiano Oscar Piastri, deixando o "sonho norte-americano" de lado no momento. O interesse em pilotos dos Estados Unidos é grande atualmente na Fórmula 1 uma vez que todos querem lucrar com o aumento da popularidade da categoria no país. No próximo ano, serão três GPs nos EUA e outros dois (Canadá e México) na América do Norte.

Na Red Bull, o interesse é grande porque a empresa entende que o mercado norte-americano é importante para que a marca atinja a meta de ser uma das mais reconhecidas do mundo. E ter um piloto de lá faria muito sentido nesse contexto.

De onde vem o interesse em Herta?

Colton Herta chegou a fazer dois anos no automobilismo europeu, em 2015 e 2016, então ee tem certo conhecimento de como tudo funciona. O piloto chegou cedo à Indy e venceu duas corridas logo em sua temporada de estreia, em 2019. Isso despertou o interesse da McLaren, que fechou com ele um acordo para testar o carro do time neste ano, com opções de ter outros papéis dentro da equipe nas duas próximas temporadas.

Qualquer tentativa de levar Herta para a AlphaTauri só poderia começar com a liberação da McLaren, o que aconteceu a julgar pelas declarações de Zak Brown no último final de semana. "Nós jamais gostaríamos de segurar um piloto. Pilotos têm de correr", disse ele, claramente aproveitando para dar uma alfinetada na Alpine por deixar Piastri como reserva neste ano.

gasly - Peter Fox/Getty Images - Peter Fox/Getty Images
O francês Pierre Gasly sairia da AlphaTauri para dar lugar a Herta
Imagem: Peter Fox/Getty Images

O segundo passo para a AlphaTauri é abrir um espaço dentro de seu time. Pierre Gasly não esconde que gostaria de sair, até porque já entendeu que não será promovido novamente à Red Bull (que por sua vez será por muito tempo a casa de Max Verstappen), e a Alpine precisa de um piloto para a vaga que é de Alonso.

Porém, ao mesmo tempo, eles não podem liberar Gasly (o que em teoria só aconteceria com o pagamento de multa, uma vez que o contrato dele vai até o final de 2023) sem ter a certeza de que contarão com Herta. E é nesse pé em que a situação se encontra.

De acordo com Helmut Marko, consultor da Red Bull, está tudo fechado entre eles e o norte-americano, enquanto o filho de Bryan Herta não confirma e nem nega a informação. Mas falta um detalhe importante: a tal superlicença.

Como funciona a superlicença da F1?

Essa espécie de CNH para pilotos de F1 foi adotada para incentivar os pilotos a passarem pelos degraus de formação da F1 (F4, F3, F2, todos campeonatos chancelados pela Federação Internacional de Automobilismo) e para dificultar que endinheirados com pouca experiência comprassem facilmente vagas na F1.

Por meio desse sistema, o piloto vai acumulando pontos por três anos dependendo da posição que ele consegue no campeonato e, quando atinge 40 pontos, uma equipe de F1 pode pedir sua superlicença.

Herta só tem 32 desses 40 pontos necessários, em grande parte porque não está disputando campeonatos em que os carros são iguais pois se tratam de competições para a formação dos pilotos, mas sim uma categoria em que há diferenças de equipamento e pilotos muito mais experientes do que ele.

Então é como se o sistema da superlicença não fosse pensado para casos como o dele. Porém, ao mesmo tempo, ele não preenche os pré-requisitos. Chefes de outras equipes, como Mercedes, Haas e Alfa Romeo já se posicionaram contra.

"O esporte precisa respeitar as regras. É claro que pilotos americanos e outros são importantes. Se ele preencher os requisitos para vir para a F1 porque ele tem os pontos, seria uma notícia fantástica. Mas há uma progressão a seguir, um protocolo a respeitar, e essa é a situação. É o que eu vejo como o certo de se fazer", disse o CEO da F1, Stefano Domenicali.

Mas a decisão não cabe às equipes ou à própria F1, mas sim à federação internacional.

Não que a superlicença seja o único motivo que gere certa reserva em relação à chegada de Herta. O fato dele conhecer poucas pistas e não estar acostumado com os sensíveis pneus Pirelli, que a FIA utiliza desde a base na Europa, são outros fatores que podem dificultar sua adaptação. Ele também só fez um teste até aqui com um carro de F1, então não é por acaso que Marko está com pressa para conseguir a liberação do piloto e poder prepará-lo para estar no grid de 2023 com a AlphaTauri.