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De mês sagrado a furacões: por que a F1 sofre para organizar o calendário

Peça publicitária do GP de Las Vegas, que entrará no calendário da F1 em 2023 - Las Vegas Grand Prix/Twitter
Peça publicitária do GP de Las Vegas, que entrará no calendário da F1 em 2023 Imagem: Las Vegas Grand Prix/Twitter

Colunista do UOL

21/09/2022 04h00

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A Fórmula 1 divulgou, ontem (20), cerca de dois meses depois do que seria normal, o calendário recorde de 24 etapas para a temporada 2023. A China volta, pelo menos oficialmente, e Qatar e Las Vegas entram nos lugares de Rússia e França. Até aí, nenhuma novidade. Mas onde foi parar a meta da categoria de regionalizar o calendário quando se tem sequências como Azerbaijão e Miami em dois finais de semana seguidos ou a etapa canadense "perdida" no meio das europeias?

De fato, a Liberty Media, que detém os direitos comerciais da F1 e negocia os contratos com os promotores de GP, vem propagandeando desde que assumiu o controle da categoria, em 2017, que pretende organizar melhor o calendário por continentes. Afinal, esse bate e volta não ajuda nada na ideia de sustentabilidade que o esporte busca promover. Isso sem falar, é claro, no custo humano, que já vem sendo sentido pelas equipes nos últimos anos, com a rotatividade aumentando bastante e membros das equipes pedindo para serem reenquadrados em postos nas fábricas.

Mas essa tarefa não é nada fácil e o calendário de 2023 é prova disso. Vamos aos problemas:

Fugindo do ramadã: São quatro as provas disputadas no Oriente Médio, em países nos quais o mês sagrado dos muçulmanos é respeitado com mais rigor. Este mês é regido pelo calendário islâmico, ou seja, ele não se repete exatamente nas mesmas datas. Em 2023, ele começa dia 22 de março. E é por isso que a temporada inicia mais cedo do que o normal, com duas etapas justamente no Oriente Médio. Inicialmente, o Qatar entraria na data em que o GP do Azerbaijão está, no final de abril, logo após o fim do ramadã, mas os organizadores pediram tempo para concluir obras no circuito. Por isso, a corrida foi parar em outubro, que não deve ser sua data definitiva. Aliás, esse será um fator muito complicado para a F1 em 2024, quando o ramadã cai entre 10 de março e 8 de abril.

O que vai ser do GP da China? Esse foi o grande problema do calendário. Por conta da rigidez da alfândega chinesa, a F1 entende que tem de deixar essa prova isolada no calendário. Isso, mesmo sabendo que a política de covid zero do país pode fazer com que a prova tenha de ser cancelada pelo quarto ano seguido. Até porque a categoria só vai à China se o governo permitir que as pessoas vacinadas não façam quarentena na chegada. Os organizadores queriam mudar a prova para outubro, mas, com o pedido do Qatar, isso não foi possível.

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Largada do GP de Miami, com Max Verstappen partindo para cima de Carlos Sainz
Imagem: Jared C. Tilton/Getty Images/Red Bull

Quatro viagens à América do Norte: Essa é a grande questão que a Liberty não consegue resolver. O ideal seria fazer duas viagens à América do Norte (para Canadá e Miami, depois Austin, México e Las Vegas, por exemplo) e ir ao Brasil só depois disso. Porém, há algumas questões logísticas, climáticas, e muita resistência dos promotores de terem eventos com datas muito próximas uns dos outros.

A Liberty tentou aproximar as datas de Miami e Canadá. Mas em Montréal faz muito frio em maio. E em Miami a temporada de furacões e a parte mais quente e úmida do ano começa em junho. Além disso, os organizadores da prova da Flórida, que estreou com grande sucesso de público neste ano, foram irredutíveis quanto a uma mudança de data.

A própria F1 está promovendo o GP em Las Vegas e queria colocar a prova perto do feriado de Ação de Graças, no final de novembro. Como a corrida é no sábado à noite, ela não pode ter nenhuma prova no fim de semana anterior por questões logísticas, já que tudo tem de estar pronto mais cedo. E, para completar, os promotores do GP dos EUA em Austin não queriam a concorrência direta da caçula do campeonato.

A maneira como essas provas das Américas no final do campeonato estão distribuídas pode não ser a definitiva, mas pelo menos resolvem um risco que a F1 não quer repetir: deixar o Brasil seguido do GP de Abu Dhabi, que paga a mais para encerrar o campeonato. A distância de mais de 12 mil quilômetros e o fuso contrário de 7h fazem dessa operação um grande desafio logístico. Saindo de Las Vegas mais cedo, pela prova ser no sábado à noite, esse risco diminui.

Aliás, para quem está se perguntando por que o GP de Las Vegas será no sábado: será uma prova noturna. E, pela localização da cidade no oeste norte-americano, isso significa que a corrida será no domingo de manhã na Europa.

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Charles Leclerc em Ímola ao volante da Ferrari F1-75, com as asas dianteira e traseira sem pintura
Imagem: Ferrari

Temporada europeia faz mais sentido: Um ponto melhorou no calendário. Em 2022, a prova da Emilia Romagna, em Imola, estava entre Austrália e Miami. Agora, está agrupada com as outras etapas europeias. Ela faz parte da primeira de duas sequências de três corridas em finais de semana seguidos, algo que as equipes vêm tentando evitar sem muito sucesso.

No calendário original de 2022, seriam dois chamados "triple headers" em sete finais de semana, o que só não vai ocorrer devido ao cancelamento do GP da Rússia, que seria realizado nos próximos dias. Em 2023, há um "triple header" na primeira parte do campeonato (Imola, Mônaco e Espanha), e outro na segunda (Austin, México, Brasil). E a prova da Bélgica não fica mais grudada com a da Holanda, o que era um pedido dos organizadores devido à proximidade das pistas.

Calendário da F1 2023

05.03 GP do Bahrein
19.03 GP da Arábia Saudita
02.04 GP da Austrália
16.04 GP da China
30.04 GP do Azerbaijão
07.05 GP de Miami
21.05 GP da Imola
28.05 GP de Mônaco
04.06 GP de Espanha
18.06 GP de Canadá
02.07 GP da Áustria
09.07 GP da Grã-Bretanha
23.07 GP da Hungria
30.07 GP da Bélgica
27.08 GP da Holanda
03.09 GP da Itália
17.09 GP de Singapura
24.09 GP do Japão
08.10 GP do Qatar
22.10 GP dos EUA
29.10 GP do México
05.11 GP de São Paulo
18.11 GP de Las Vegas
26.11 GP de Abu Dhabi