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Como 'dieta' de quase 20 kg fez da Red Bull um carro quase imbatível no ano

Max Verstappen, da Red Bull Racing, durante treino livre para o GP da Bélgica da F1 - Dan Istitene/Getty
Max Verstappen, da Red Bull Racing, durante treino livre para o GP da Bélgica da F1 Imagem: Dan Istitene/Getty

Colunista do UOL

26/09/2022 04h00

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Quando vemos Max Verstappen colecionando vitórias mesmo quando está largando mais atrás por conta de punições, como aconteceu em três das últimas quatro etapas, é fácil esquecer que a Red Bull nem sempre foi tão superior assim. Na comparação direta com a Ferrari, o carro do holandês sempre foi mais forte nas retas, mas começou o ano gastando mais pneu, sendo mais lento em classificação e, por várias oportunidades, vencendo mais por execuções perto da perfeição no domingo do que pelo rendimento em si.

O principal alvo de Adrian Newey e companhia desde o início da temporada foi o peso do carro. Estima-se que a Red Bull só não fosse mais pesada que a Aston Martin no começo do ano, e quilinhos a mais, na F1, são sentidos diretamente no cronômetro. Em um circuito como o de Barcelona, por exemplo, 10kg a mais correspondem a cerca de 0s4 por volta. Em 66 voltas de uma corrida, lá se vão mais de 25s!

E não é só isso. O peso adicional também vai desgastar mais os pneus. E o comportamento do carro nas curvas também tende a piorar.

Red Bull tirou quase 20kg do carro

Lá foi a Red Bull começar sua dieta, que já tirou quase 20kg do carro. É difícil ter os números exatos, já que as equipes não os divulgam e eles dependem da configuração do carro (uma asa maior, por exemplo, pesa mais). Mas o que circula no paddock é que, agora, o RB18 está só dois quilos acima do mínimo de 798kg previsto no regulamento. Isso coloca o carro em pé de igualdade com a Ferrari, que já estava bem mais leve desde o início da temporada, embora também tenha "emagrecido".

Essa dieta salientou duas características fortes do conjunto: o RB18 é um carro com aerodinâmica muito eficiente, que prende o carro nas curvas e não gera tanto arrasto quanto a Ferrari nas retas. E a velocidade final ainda é ajudada pelo motor Honda (batizado de Red Bull Powertrains), que consegue gerar energia elétrica por mais tempo.

Essas características se juntaram ao menor desgaste de pneus, que vem tanto da diminuição do peso, quanto de todas as modificações feitas principalmente no assoalho e nas laterais para tornar a pressão aerodinâmica mais constante. Assim, o carro se movimenta menos, diferentemente do comportamento dianteiro que era a marca na primeira parte da temporada. E que, por sinal, agradava mais a Sergio Perez do que a Max Verstappen. Quando isso foi corrigido, o holandês começou a voar e o mexicano ficou perdido na temporada.

O que foi feito até aqui deu tão certo que a Red Bull desistiu de homologar um novo chassi, temendo a reação dos rivais, que já andam questionando como eles conseguiram mudar tanto o carro e ainda assim respeitar o teto orçamentário em um ano de inflação nas alturas na Europa. Isso quer dizer que o peso do RB18 ainda não está distribuído da maneira mais eficiente, ou seja, a equipe que está dominando o mundial já sabe como tirar mais do carro no ano que vem.

Ferrari não entende por que carro piorou desde julho

frança - Reprodução/F1 - Reprodução/F1
Leclerc, da Ferrari, rodou sozinho e precisou abandonar o GP da França
Imagem: Reprodução/F1

Verstappen liderava o campeonato com 38 pontos à frente de Charles Leclerc antes do GP da França, que é considerado um divisor de águas no campeonato. A Ferrari estreou um assoalho que alterou o comportamento do carro, e começou a ter um desgaste de pneus mais acelerado do que antes.

É claro que você tem, ao mesmo tempo, o crescimento da Red Bull, mas essa mudança colaborou para principalmente Leclerc ficar desconfortável ao volante. Como Verstappen, ele gosta que a traseira esteja mais solta e a Ferrari tinha esse comportamento no começo do ano. Mas isso mudou a partir de Paul Ricard, quando Leclerc, tentando forçar demais, acabou errando e batendo quando liderava.

A Ferrari chegou a testar o assoalho pré-França nos treinos livres na Itália, para saber se a atualização era a fonte do problema. E comprovou que, em termos de rendimento, é o caminho certo. A questão é fazer o assoalho trabalhar bem com o restante do carro.

Outra suspeita recai sobre a diretiva técnica que obriga as equipes a controlarem os saltos dos carros. Isso porque a grande vantagem da Ferrari vinha nas curvas de média e baixa velocidade, e isso tinha a ver com o acerto mecânico mais "macio" que eles conseguiam usar. Isso não seria mais possível por conta da diretiva.

Essa equação de Red Bull se tornando mais leve e Ferrari ficando mais dura e nervosa vai ser colocada à prova mais uma vez na volta da F1 neste fim de semana, em Singapura. Trata-se de uma pista que, com os carros do começo do ano, o favoritismo era vermelho. Agora, pode ser difícil segurar Max Verstappen mais uma vez.