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Como a Red Bull pode ter quebrado regra da F1 e por que a FIA adiou decisão

Max Verstappen (Red Bull) e Charles Leclerc (Ferrari) disputam posição na Fórmula 1 - Dan Mullan/Getty Images
Max Verstappen (Red Bull) e Charles Leclerc (Ferrari) disputam posição na Fórmula 1 Imagem: Dan Mullan/Getty Images

Colunista do UOL

05/10/2022 12h32

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A Federação Internacional de Automobilismo anunciou que vai precisar de mais tempo para decidir quais equipes quebraram o teto orçamentário de 148,6 milhões de dólares (pouco menos de 780 milhões de reais). Dependendo da maneira como o cálculo for feito, a própria Red Bull admite que pode ter quebrado o limite, que foi estabelecido justamente no ano passado. A Aston Martin também teria ficado acima. O novo prazo é na segunda-feira, dia 10 de outubro.

Mas a infração da Aston Martin teria sido menor. A grande discussão é em relação à Red Bull e tem a ver com a maneira como a equipe interpretou de que forma as contas entram no limite de gastos. E a decisão desse caso é, inclusive, importante para o futuro de uma regra que nasceu ano passado após décadas de discussões.

Há quatro empresas que atuam com o nome da Red Bull e têm alguma relação com a Fórmula 1. A Red Bull Racing é a empresa que faz a gestão da equipe em si. A Red Bull Technologies faz o carro. A Red Bull Advanced Technologies cuida de outros projetos fora da F1, mas ainda assim é uma empresa voltada à engenharia. E também há a recém-formada Red Bull Powertrains se dedica ao projeto do motor para 2026. O que está em jogo é como calcular os custos quando se compra preças desenvolvidas por fornecedores, dentro dessa configuração em que não é a Red Bull Racing em si que faz o carro. Isso leva a outras questões de equipes que têm parcerias técnicas que podem lhes dar vantagem de performance. Para fugir do teto de gastos, as equipes poderiam, cada vez mais, terceirizar o desenvolvimento de peças, e o limite orçamentário perderia força.

Outro ponto importante é que um gasto superior em 2021 tem tudo para trazer uma vantagem duradoura, uma vez que pouquíssimas peças do carro antigo puderam ser reaproveitadas devido a uma mudança de regras. E tais regras vão se manter relativamente estáveis nos próximos anos.

O que também foi levantado pelas equipes é a previsão de punições menores para quem estourar o teto em até 5%, ou seja, em pouco mais de 7 milhões de dólares. Laurent Mekies, diretor da equipe Ferrari, explicou que esse dinheiro permitiria, por exemplo, a contratação de 70 engenheiros. E isso pode dar uma grande vantagem na pista. Toto Wolff, da Mercedes, deu outro exemplo. "Estamos gastando 3.5 milhões de dólares em peças que trazemos para o carro, então se alguém disser que dá para gastar mais 500 mil, a diferença é grande. Não produzimos peças mais leves para diminuir o peso do carro simplesmente porque não temos dinheiro", disse ele, em referência à Red Bull, que conseguiu tirar cerca de 20kg do carro desde o início do ano, o que foi fundamental para que eles superassem a Ferrari, que começou melhor a temporada, e caminhem a passos largos para conquistar ambos os títulos de 2022.

Por que o teto de gastos é importante na F1?

O desequilíbrio financeiro entre as equipes sempre foi um vilão para a competitividade da Fórmula 1, categoria que obriga cada time a construir seu próprio carro, diferentemente de outros campeonatos de automobilismo. É por isso que a adoção do teto orçamentário em 2021, juntamente de outras medidas que diminuem o tempo de desenvolvimento aerodinâmico dependendo da posição no campeonato, é tão importante para o futuro do esporte.

Mas uma coisa é entender a necessidade de um teto que diminua esse desequilíbrio. Outra é criar um regulamento que faça isso efetivamente. Uma das grandes dificuldades é justamente esse caso da Red Bull. As equipes são organizadas de maneiras diferentes. Há quem compre muitas peças de fornecedores e não gaste com desenvolvimento, e há quem, como a Red Bull, está desmembrada em várias sub-empresas que prestam serviço à equipe.

O regulamento financeiro que estreou em 2021 tem 54 páginas e é bastante complexo justamente para tentar fechar todas as brechas e não ser injusto com nenhum tipo de organização.

Metade das equipes não tiveram de fazer grandes adaptações para entrar no limite de 148,6 milhões de dólares do ano passado. Mas especialmente o trio Mercedes, Ferrari e Red Bull sofreu para encolher um orçamento que chegava nos 400 milhões de dólares (embora esse valor considere também os salários dos pilotos e gastos com marketing, que são algumas das exclusões do teto).

Não é por acaso, portanto, que as rivais ficaram se marcando de perto, buscando calcular quanto estava sendo gasto. E logo Mercedes e Ferrari começaram a desconfiar da Red Bull. Embora o time campeão do ano passado com Max Verstappen tenha entregue um relatório com gastos abaixo do teto à FIA em março, eles acreditavam que nem tudo o que deveria estar na conta tinha sido registrado, e pediram uma revisão à entidade. A Red Bull, inclusive, ainda não sabe como essas informações chegaram ao ouvido dos rivais.

Um ponto curioso desse novo prazo da FIA é que, neste fim de semana, Max Verstappen pode conquistar seu segundo título mundial. Ele só precisa marcar oito pontos a mais que Charles Leclerc (ou seja, ele é campeão se vencer e fizer a volta mais rápida) e seis a mais que o companheiro Sergio Perez.