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Sob olhar atento da Fórmula 1, GP de SP busca frear abusos contra mulheres

Torcedores durante o GP de São Paulo de 2021 - Buda Mendes/Getty Images
Torcedores durante o GP de São Paulo de 2021 Imagem: Buda Mendes/Getty Images

Colunista do UOL

09/11/2022 04h00

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A organização do GP de São Paulo dará uma atenção maior à segurança das mulheres presentes nas arquibancadas. Será criada uma linha direta de atendimento para denúncias de discriminação e importunação, na tentativa de conter um tipo de comportamento que se tornou tradição entre muitos torcedores.

Serão dois canais de comunicação: um telefone e um site, em moldes parecidos com o que foi feito durante o GP da Holanda, em setembro. Porém, naquela ocasião, o grupo Formula 1 Women, criado por holandesas justamente para ajudar a tornar público esse tipo de comportamento, alertou que o sistema não funcionou tão bem pela falta de sinal de celular nas arquibancadas. Em Zandvoort, quando as mulheres buscavam ajuda de membros da organização, ouviam que se tratava de um caso de polícia. Os policiais, no entanto, estavam do lado de fora do circuito, então poucas denúncias chegaram até eles.

Essa questão da importunação nas arquibancadas acontece há anos, mas ganhou destaque com o relato de algumas mulheres durante o GP da Áustria, em julho. Desde então, a F1 tem pedido aos organizadores que deem atenção especial a este tema, inclusive colocando seguranças à paisana nas arquibancadas.

A categoria vive um momento especial, com o aumento do interesse do público e um crescimento bastante significativo de mulheres nas arquibancadas. A Liberty Media, que detém os direitos comerciais, ao lado da Federação Internacional de Automobilismo, está na fase final de criação de uma categoria somente para mulheres com carros de Fórmula 4 ou 3, começando já ano que vem e servindo de prova de abertura da F1.

Preocupação das torcedoras com a segurança fez movimento nascer no Brasil

Mas, ao mesmo tempo em que existe essa preocupação, as mulheres que vão a Interlagos sabem que precisam tomar certas medidas. Foi pensando nisso que um grupo de amigas decidiu abrir um canal para mulheres que iriam sozinhas ao circuito. O grupo atingiu o limite de 257 membros do Whatsapp e agora está migrando para o Telegram e já tem mais de 400 inscritas. À frente deste grupo está Beatriz Rosenburg, que criou o movimento #RespectWomen depois que foi agarrada pelo braço por um desconhecido que tentava fazer com que ela o beijasse. O movimento começou com a impressão de 30 adesivos em que as mulheres pediam respeito nas arquibancadas. Neste ano, foram produzidos cerca de 1500 adesivos, bancados por meio de financiamento coletivo.

O episódio aconteceu em 2014, mas a economista só relatou isso publicamente anos depois, na esteira de uma postagem em que eu demorei 10 anos para conseguir fazer, relatando a importunação que sofri no Setor A em Interlagos em 2008. Naquela ocasião, um grupo de homens tentou soltar um nó que prendia minha blusa sem eu perceber e posava para fotos com um salame perto do meu corpo. Quando decidi vir a público contar essa história, duas coisas aconteceram: alguns homens falavam que eu tinha inventado o caso e, mais importante, várias mulheres passaram a relatar abusos sofridos.

Foi desses relatos que nasceu o #RespectWomen e é desta maneira, dando visibilidade e evitando normalizar esse comportamento, que mais medidas vão se somando para tornar as arquibancadas de Interlagos um espaço para todos. Espera-se 230 mil pessoas ao longo dos três dias de evento, o que seria um recorde.