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Vettel, Alonso, Ricciardo: GP das despedidas da F1 tem clima de divórcio

Mick Schumacher, da Haas, ao lado de Sebastian Vettel, da Aston Martin - Joe Portlock - Formula 1/Formula 1 via Getty Images
Mick Schumacher, da Haas, ao lado de Sebastian Vettel, da Aston Martin Imagem: Joe Portlock - Formula 1/Formula 1 via Getty Images

Colunista do UOL

15/11/2022 04h00

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"Eu não estou nem aí", responde Sebastian Vettel ao ser perguntado sobre assuntos que não podem ser abordados em entrevista com ele. "Me perguntem o que quiserem". A atitude do tetracampeão, que se despede da Fórmula 1 neste fim de semana, no GP de Abu Dhabi, tem justificativa. Desde o fim do ano passado, sua equipe, a Aston Martin, vinha tentando evitar que ele focasse em pautas especialmente sobre sustentabilidade em suas entrevistas, curiosamente depois da aproximação com a gigante petrolífera Aramco, que agora dá nome ao time. Porém, desde que anunciou sua aposentadoria em julho deste ano, o alemão não se sente mais na obrigação de atender aos anseios da equipe.

Isso não quer dizer que ele não esteja nem aí para o restante da vida como piloto. Vettel segue sendo um dos primeiros pilotos a chegar e últimos a sair, buscando trabalhar com os engenheiros para melhorar o desempenho da Aston Martin. Nas últimas corridas, tem mostrado uma vontade que parecia ter ficado pelo caminho uns meses atrás, gerando no contemporâneo Lewis Hamilton inclusive a sensação de que voltará em breve.

Mas dificilmente seu caminho de volta seria a Aston Martin. No Brasil, ele cedeu a última posição nos pontos para que o companheiro e filho do dono do time, Lance Stroll, pudesse tentar ultrapassar Valtteri Bottas. O canadense não conseguiu e não devolveu a posição.

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Fernando Alonso sorri durante entrevista em Interlagos para o GP de São Paulo de Fórmula 1
Imagem: Peter J Fox/Getty Images

É para este ambiente que Fernando Alonso está louco para ir assim que a temporada 2022 acabar. O retorno 'paz e amor' do espanhol à F1 não durou muito, e ele criticou duramente a Alpine ao longo da temporada, irritado com a falta de confiabilidade do motor. Exagerando o valor de seus feitos como de costume, dizia ele depois do GP de Singapura, no final de setembro, que perdeu cerca de 60 pontos por quebras.

Sua frustração não poderia ter ficado mais clara na primeira volta da sprint em São Paulo, quando ele se tocou em duas oportunidades com o companheiro Esteban Ocon. Entendendo que o segundo toque foi proposital, a chefia da Alpine estava irritadíssima com o piloto, que depois se redimiu e fez uma grande corrida no domingo e saiu de 17º para quinto.

Gasly sai pendurado, e Ricciardo ensaia volta para casa

Aquele que vai ocupar a vaga de Alonso é outro que parece contar os dias para sair. Pierre Gasly tem tido uma segunda metade de ano apagada, com a queda da AlphaTauri, e carregada de frustração, levando a uma sequência de punições que o deixaram pendurado e muito próximo de uma suspensão.

A expectativa era de que ele pudesse "forçar um terceiro amarelo" no Brasil para levar a suspensão em Abu Dhabi. Ele chegou a ser intimado pelos comissários por uma infração no sábado, mas o caso não deu em nada. Agora, Gasly só escapa de uma suspensão automática (algo que seria inédito desde a adoção desta regra, em 2014) se levar somente um ponto daqui até maio do ano que vem.

Gasly vem fazendo visitas frequentes à Alpine no paddock, batendo papos com seu ex-desafeto e novo companheiro Esteban Ocon. Faz tempo, desde que percebeu que não fazia mais parte dos planos de Helmut Marko e Christian Horner para a Red Bull, onde ganhou fama de baladeiro e desinteressado, que Gasly tentava outro rumo para sua carreira. Então mesmo que ele não tenha mágoas com a AlphaTauri, é outro que mal pode esperar para este fim de semana passar rápido.

ricciardo - Joerg Mitter/Red Bull Content Pool - Joerg Mitter/Red Bull Content Pool
Daniel Ricciardo, da McLaren, dá autógrafos na chegada ao circuito de Spielberg para o GP da Áustria, no mês passado
Imagem: Joerg Mitter/Red Bull Content Pool

Daniel Ricciardo até chega animado a cada quinta-feira de entrevistas, mas seu semblante vai mudando quanto mais voltas ele dá em uma McLaren com a qual simplesmente não se entende. Os rumores de uma volta à Red Bull, como reserva, surgiram fortes no paddock em Austin, mas ele garante que nem há "um aperto de mãos, muito menos um contrato". Marko gosta de jogar esses rumores no paddock para afastar os outros possíveis interessados e parece querer deixar Ricciardo sem opção.

É um caminho que faria sentido do lado comercial. Até porque Ricciardo saiu da Red Bull ao entender que jamais teria espaço enquanto Max Verstappen estivesse por lá. E estamos falando de um Max bem menos desenvolvido como piloto do que o bicampeão de hoje.

Seja como for, Ricciardo tem insistido na tecla da necessidade de resetar, de sair dessa maré negativa que o faz duvidar de suas habilidades. Então é outro que estará tentando aproveitar ao máximo Abu Dhabi, mas de certa forma torcendo para que o martírio na pista acabe logo.

Latifi tem despedida em circuito marcante na carreira

Buscando uma saída digna nas últimas posições do grid estarão Nicholas Latifi e Mick Schumacher, que deve ser substituído por Nico Hulkenberg na Haas. O canadense estará em evidência não só por sua despedida, mas também pelo fato de Abu Dhabi estar gravado em sua carreira, e não pelos melhores motivos. Foi por conta do Safety Car causado por ele que o campeonato do ano passado teve aquele final polêmico. Na época, ele chegou a sofrer ameaças de morte, então não deve ter as melhores lembranças da etapa que, em 2022, vai marcar sua despedida da F1.

Por fim, Mick Schumacher faz sua última corrida sem ter dito muito a que veio. Quando ele foi campeão da F2, o paddock se dividia entre o estranhamento por como, de repente, começou a andar muito forte, e a certeza de que, mesmo não sendo brilhante, chegaria à Ferrari de alguma maneira. No final das contas, ele acabou custando tão caro para a Haas por conta de acidentes e chances perdidas que o time já queria livrar-se dele na primeira metade de sua segunda temporada, e outras portas não se abriram como se esperava quando ele estreou no começo de 2021.