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Despedida de Vettel da F1 tem pai DJ, jantar com pilotos e corrida (a pé)

Sebastian Vettel em sua Aston Martin celebra com a torcida do GP de Abu Dhabi, o último de sua carreira na Fórmula 1 - LEONHARD FOEGER/REUTERS
Sebastian Vettel em sua Aston Martin celebra com a torcida do GP de Abu Dhabi, o último de sua carreira na Fórmula 1 Imagem: LEONHARD FOEGER/REUTERS

Colunista do UOL

21/11/2022 04h00

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Jantar com os pilotos, a rara presença de toda a família por perto, primeiro macacão exposto na garagem e até a chance de se despedir das pessoas que trabalham no paddock dando uma voltinha correndo na pista. Meticuloso como sempre foi nas pistas, Sebastian Vettel certamente pensou em todos os detalhes para sua despedida da Fórmula 1 e sentiu de volta todo o carinho que a categoria tem por um de seus personagens mais queridos e respeitados.

Foi Lewis Hamilton quem teve a ideia de fazer um jantar para Sebastian, do qual participaram todos os pilotos, o que é raro. Eles se reuniram em um restaurante chinês que ganhou estrela Michelin recentemente, chamado Hakkasan. Não deixa de ser uma mensagem para os outros rivais que teve ao longo dos anos, Fernando Alonso, Max Verstappen e Nico Rosberg que, volta e meia, dão suas alfinetadas, mas fato é que Hamilton era só elogios para Vettel.

Eles se aproximaram bastante pelas pautas em comum fora das pistas, e o inglês repetiu várias vezes nos últimos meses acreditar que Vettel volta ao grid em um futuro próximo. Chegou a dizer até que aposta dinheiro nisso. Mas não quanto.

Isso me fez lembrar da despedida de Alonso, em 2019, no mesmo circuito de Abu Dhabi. Em um vídeo mostrado na festa no paddock, o empresário e amigo de Alonso, Flavio Briatore, se despedia com ar de deboche dizendo algo como "vou fazer esse vídeo aqui, mas sabemos que você vai voltar". Não é a mesma sensação que se tem ao ver Vettel planejando cada passo de sua despedida desde julho, embora o próprio deixe em aberto a possibilidade de voltar ao paddock em algum outro tipo de função, e inclusive ouviu ainda no sábado o convite de Helmut Marko para voltar à Red Bull.

Era clara a felicidade dos outros pilotos com o bom fim de semana que ele vinha tendo, inclusive chegando ao Q3 e repetindo sua melhor posição de largada do ano, em nono. "Abri um sorriso no capacete quando vi seu nome no Q3", disse o ex-companheiro Daniel Ricciardo, que de certa forma parecia invejar toda a programação de Vettel, já que ele não sabia se estava fazendo sua despedida. O australiano será reserva da Red Bull, equipe que tem os dois pilotos sob contrato pelo menos até o final de 2024.

Teve também trocas de capacetes. Com George Russell, que não conseguiu colocar o casco de Vettel por usar um tamanho muito maior, mas tirou a foto mesmo assim, e depois com Max Verstappen, com direito a dedicatória. "Sempre pense por si mesmo e siga crescendo."

Ainda no sábado, Vettel convidou todo o paddock para dar uma volta correndo a pé no circuito de Yas Marina. Correr na pista é uma forma popular de se manter em forma para o pessoal que viaja por todo o campeonato, e é um momento em que todo mundo é igual, do mecânico ao chefe de equipe. E lá estavam umas cem pessoas de várias equipes, da FIA, da Liberty, jornalistas, correndo junto com Seb, que foi generoso como de costume e começou devagarzinho para conseguir ser alcançado por quem não está tão em forma e depois apertou o passo, podendo saudar todo mundo. Mick Schumacher e Charles Leclerc estavam por lá, e também chamou a atenção a quantidade de membros da Ferrari que participaram da festa, todos uniformizados com uma camiseta dada pela F1 com os dizeres "nunca tire o pé, nunca deixe de acreditar".

Tinha até um caminhão igual àquele que os pilotos usam em seu desfile antes da largada, "recolhendo" quem não conseguia completar os 5.2km sob calor intenso mesmo na noite em Abu Dhabi. Em cima dele estava Norbert Vettel, pai do piloto, que vem acompanhando todas as corridas desde que Sebastian anunciou sua aposentadoria, em julho. Foi ele quem escolheu a trilha sonora recheada de sucessos de rock dos anos 70 e 80, ao som da qual dançava animado.

Norbert era a única figura próxima a Vettel mais pública. A esposa, Hanna, e os três filhos raramente são vistos no paddock e, mesmo que estivessem por lá para esta última corrida, não foram filmados por pedido da família.

Para Felipe Drugovich, que fez sua primeira sessão oficial com um carro de Fórmula 1 na sexta-feira (18), foi a chance de absorver um pouco do conhecimento do tetracampeão. "Eu consegui conversar com ele, e as minhas impressões do carro eram parecidas com as dele. É claro que ele consegue compensar melhor as reações do carro, enquanto eu estava ainda um pouco perdido e, por isso, não queria forçar. Mas ele passou informações muito boas para mim, foi muito generoso comigo. Toda vez que precisei ele foi muito legal comigo, e é um prazer fazer parte desse último final de semana dele", disse o campeão da F2 e reserva da Aston Martin.

Depois da bandeirada, ele não conseguia esconder a decepção por uma corrida frustrante, tentando fazer a estratégia de uma parada funcionar. Ele terminou com um pontinho na corrida final, visivelmente cansado depois de todos os compromissos das últimas semanas. E animado para voltar para casa com os filhos. Pelo menos por enquanto.