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Ferrari, Williams, McLaren: donos poderosos viraram peça de museu na F1
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No passado, eles eram entidades que se misturavam com a identidade das equipes: Enzo Ferrari na Ferrari, Bruce McLaren na McLaren, Colin Chapman na Lotus, e por aí vai. E essa mescla entre ser o chefe e ser o dono ou um dos acionistas da equipe perdurou por décadas. Ken Tyrrell, Peter Sauber, Frank Williams, Eddie Jordan, Ron Dennis na McLaren, Bernie Ecclestone na Brabham. Hoje, a Fórmula 1 vive uma transformação no conceito de quem deveria comandar as equipes, com a ascensão dos chefes engenheiros.
Isso ficou claro na movimentação do mercado de chefes de equipe dos últimos meses. Valorizado pelo excelente trabalho à frente da McLaren, o engenheiro Andreas Seidl foi contratado para chefiar o projeto da Audi. No seu lugar, outro engenheiro foi promovido, Andrea Stella.
Algo semelhante aconteceu na Ferrari, que quebrou a preferência por administradores e homens de negócios ao promover seu então diretor técnico, Mattia Binotto, ao cargo principal. O suíço-italiano foi substituído em dezembro por Frederic Vasseur, que era chefe da Alfa Romeo e que também tem formação em engenharia.
A Williams foi pelo mesmo caminho. O time substituiu um administrador de larga experiência no automobilismo, Jost Capito, também por um engenheiro, James Vowles, ex-chefe de estratégia da Mercedes.
Na verdade, isso se reflete até mesmo na gestão da categoria em si. Ainda que os dois maiores representantes da Liberty Media, dona do campeonato, e da FIA, entidade reguladora, não sejam engenheiros (Stefano Domenicali e Mohammad Ben Sulayem têm formação em administração e negócios), ambos são cercados por profissionais com formação técnica, como Nikolas Tombazis e Pat Symonds.
O chefe de equipe tem um papel bastante amplo na Fórmula 1. Ele não coloca a mão na massa no projeto do carro ou nas decisões de estratégia, por exemplo. Seu papel é defender os interesses do time junto à FIA e à Liberty Media, e ter a palavra final em decisões estratégicas como a contratação de pilotos ou a alocação de recursos financeiros. Eles geralmente respondem a um CEO, que pode ter uma atuação mais comercial, mas isso depende do perfil dos membros do time.
Atualmente, apenas três times do grid não têm engenheiros como chefes. E, talvez não coincidentemente, são os três que estão há mais tempo em seus cargos. Christian Horner e Franz Tost, chefes da Red Bull e AlphaTauri, respectivamente, têm histórias parecidas. Eles tentaram a carreira de piloto, não tiveram muito sucesso, e a partir daí tiveram trajetórias de administração dentro de equipes em categorias menores até chegarem à Fórmula 1
O caminho mais diferente é o de Toto Wolff, da Mercedes. O austríaco fez fortuna no mundo dos investimentos, apostando em empresas de tecnologia ainda nos primórdios da internet, e entrou na Fórmula 1 como acionista da Williams em 2009. Foi ganhando poder dentro da Mercedes até se tornar acionista e chefe da equipe de fábrica dos alemães, há 10 anos.
Hoje, Wolff tem um terço da equipe Mercedes e acaba sendo o último dos chefes-acionistas da Fórmula 1. No entanto, sua abordagem sempre foi a de identificar as pessoas mais adequadas para lidar com as mais diferentes necessidades do time. Wolff gosta de ficar por dentro de tudo o que está acontecendo, inclusive em assuntos mais técnicos, mas não interfere.
Um adendo tem de ser feito em relação à Alfa Romeo, que tinha Vasseur como CEO e chefe de equipe, e agora dividiu as funções, com Seidl tomando as decisões estratégicas já focando na transição do time para as mãos da Audi. E Alessandro Bravi atuando como representante da equipe. Então, o advogado italiano acompanha o time nas corridas, vai nas reuniões, dá as entrevistas, mas não toma decisões técnicas, aprovadas em última instância pelo engenheiro Seidl.
Será interessante ver qual o perfil escolhido por Mercedes, Red Bull e AlphaTauri quando seus comandantes forem substituídos ou encerrarem suas carreiras. A opção por Vasseur na Ferrari, Stella na McLaren, Vowles na Williams, Szafnauer na Alpine, Krack na Aston Martin e Steiner na Haas indicam uma direção mais técnica para o cargo que já foi de quem mandava e desmandava.
Embora não coloquem a mão na massa, os chefes acabam tendo a palavra final em várias decisões. Assim, tendo engenheiros com ampla experiência dentro do automobilismo ao invés de donos ou acionistas, as equipes buscam maior precisão na tomada de decisões do dia-a-dia da equipe e do desenvolvimento do carro.
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