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Como dobradinha na Arábia Saudita expôs as rachaduras da dominante Red Bull

Sergio Pérez comemora a vitória em Jeddah com integrantes da Red Bull - Peter Fox/Getty Images
Sergio Pérez comemora a vitória em Jeddah com integrantes da Red Bull Imagem: Peter Fox/Getty Images

Colunista do UOL

19/03/2023 18h41Atualizada em 20/03/2023 12h24

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Quem olha o resultado do GP da Arábia Saudita, com a vitória de Sergio Perez e o segundo lugar de Max Verstappen, que ainda por cima largou em 15º, pode imaginar que a Red Bull teve outro final de semana tranquilo. Mas não foi bem assim. Problemas mecânicos, quebras, trocas de componentes e um ar de desconfiança do vencedor Perez marcaram a segunda etapa do campeonato para a equipe. Para a Fórmula 1, foi mais um GP de desgaste, com uma decisão tardia mudou o resultado do pódio duas vezes após a bandeirada.

Fernando Alonso cruzou a linha de chegada em terceiro, e chegou a comemorar seu 100º pódio na carreira. Mas, quando George Russell estava dando entrevistas como quarto colocado, ficou sabendo que o resultado tinha mudado. Alonso não tinha servido corretamente uma punição que levara ainda no início da prova e que tinha pago na volta 19 de 50. Quase quatro horas depois, a decisão foi alterada novamente.

O mais estranho é que a corrida acabou sem nenhuma confirmação de que o espanhol sequer estava sob investigação. A primeira punição é indiscutível, pois ele estava fora da posição de largada (embora há de se questionar se isso dá qualquer vantagem esportiva, uma vez que ele se posicionou ao lado de onde deveria, mas aí é uma questão de rever o regulamento). Por isso, a equipe teria que esperar 5s para mexer em seu carro em sua próxima parada nos boxes. Isso não aconteceu, um equipamento tocou o carro quase imediatamente e, por isso, Alonso recebeu uma punição de 10s.

Inicialmente, o grupo que fica em Genebra, na Suíça, observando se as punições são cumpridas de maneira correta, não percebeu o toque do macaco traseiro no carro. E a informação de que isso tinha acontecido só chegou aos comissários na última volta da corrida. Por isso a decisão às pressas.

A Aston Martin, no entanto, recorreu. O regulamento fala que nenhum trabalho pode ser conduzido no carro, e não que nenhuma peça pode tocá-lo. Por conta disso, a decisão foi revertida. E Fernando Alonso voltou a conquistar o pódio. No final, um resultado justo, uma vez que ele tinha ritmo para ter aberto os 10s caso soubesse da possibilidade de punição durante a corrida.

pódio - RULA ROUHANA/REUTERS - RULA ROUHANA/REUTERS
Verstappen, Pérez e Alonso sobem no pódio do GP da Arábia Saudita de Fórmula 1
Imagem: RULA ROUHANA/REUTERS

A parada de Alonso aconteceu durante o Safety Car provocado pela quebra da outra Aston Martin, de Lance Stroll. Embora ele tenha parado seu carro em um lugar seguro, a direção de prova não tinha clareza disso pelas primeiras imagens que tinham em mãos e, em um circuito perigoso, com poucas áreas de escape e curvas cegas, resolveu acionar um Safety Car imediatamente.

Isso aconteceu em um bom momento para Max Verstappen, que ainda não tinha parado nos boxes. O holandês vinha abrindo caminho no pelotão depois de largar em 15º. Após o Safety Car, ele passou Hamilton, Russell e Alonso e chegou até a segunda colocação. Com pouco mais de 10 voltas para o fim, contudo, começou a reclamar via rádio de um barulho, que pensava ser no eixo de transmissão, o mesmo que quebrou na classificação. Na outra Red Bull, Sergio Perez, que tinha largado na pole, perdido a posição para Alonso e recuperado-a a pista , também ouvia algo estranho na traseira.

Com quebras assombrando a Red Bull, pilotos "ouvem coisas"

Não é por acaso que os pilotos começaram a "ouvir coisas", com as quais a equipe disse que não deveriam se preocupar. Mesmo no Bahrein, em outra dobradinha, houve problemas técnicos no RB19. Tanto, que a central eletrônica de Perez ficou bloqueada e foi trocada para o GP da Arábia Saudita, juntamente da bateria e do câmbio. Na sexta-feira, o carro do mexicano apresentou problemas mecânicos, mudando de comportamento de maneira repentina.

Da sexta para o sábado, a Red Bull trocou o câmbio também de Verstappen. Na classificação, ele atacou uma zebra de forma mais forte, o eixo de transmissão quebrou, e a equipe decidiu voltar ao câmbio usado no Bahrein e na sexta-feira. A menos de duas horas da largada, a traseira do carro de Perez ainda estava aberta, algo que geralmente não se vê no domingo, pois o time checava se estava tudo certo com o carro do mexicano.

Com ambos os pilotos sentindo que poderiam ficar pelo caminho se forçassem o ritmo, começaram as conversas no rádio para que eles andassem em um ritmo pré-determinado, já que a dobradinha estava garantida. Depois, os pilotos aparentemente foram liberados, mas Verstappen disse que preferiu não aumentar o ritmo para não correr riscos.

Perez, que tenta se firmar como mais que um segundo piloto na Red Bull, não gostou muito dessa indecisão. "Acho que forçamos um pouco mais que necessário como equipe. Uma hora eu era um décimo mais rápido, outra eu era um décimo mais lento, o resultado da corrida não ia mudar. Mesmo assim decidimos seguir forçando muito o ritmo e talvez isso tenha me prejudicado no final."

Esse não foi o único motivo para Perez ficar na bronca. Verstappen fez a volta mais rápida no último giro da prova. O mexicano disse que teve "uma informação diferente" e cobrou "informações passadas de uma maneira melhor" por parte da equipe. Ele tinha a volta mais rápida e tinha entendido que Verstappen não estava liberado para tentar tirá-la.

Verstappen explicou que tirou um pouco o pé quando começou a ter "sensações estranhas" com o carro a fim de "levar o carro para a linha de chegada", mas quando soube que não tinha a volta mais rápida, que dá um ponto a mais na corrida, decidiu forçar no último giro.

É justamente por um ponto que Verstappen lidera o mundial, mas o próprio afirmou que uma equipe tão dominante não deveria passar por tanto susto. "Está claro que é entre nós dois, o carro está funcionando muito bem. E é por isso que é até mais importante não ter nenhum problema com o carro, como tivemos neste fim de semana. Temos que ser melhores."