F1 vai ter outras confusões como o pódio que mudou duas vezes em Jeddah

É claro que não demoraria para a direção de prova e os comissários da Fórmula 1 roubarem a cena em alguma etapa do campeonato. E as corridas na Arábia Saudita costumam ser propensas a isso, pela natureza perigosa do circuito. Mas não desta vez. O que aconteceu já na madrugada de domingo em Jeddah nada teve a ver com algum piloto abusado na pista.

Fernando Alonso nem estava irritado por ter perdido o pódio minutos depois de ter erguido o troféu. Estava com um sorriso de orelha a orelha, contente por ter comprovado que a Aston Martin não anda bem só em uma pista que traz desafios específicos como a do Bahrein. Mesmo ainda sofrendo nas retas, os pontos fortes do carro são tão fortes que, em uma pista com 70% da volta em aceleração plena (a maior porcentagem do campeonato), eles estiveram atrás apenas da Red Bull. "Esse é um ótimo sinal para o resto do campeonato. Estou otimista para a Austrália", dizia Alonso antes mesmo de recuperar o pódio.

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Sim, a decisão foi mudada duas vezes. Alonso levou uma punição de 5s por se posicionar alguns centímetros para fora de onde deveria na largada. Isso significava que, em sua parada no box, a equipe teria de esperar cinco segundos para trabalhar no carro. Mas o mecânico que levanta a parte traseira do carro encostou no AMR23 antes disso.

O lance passou batido pela equipe que fica analisando os lances em Genebra, na Suíça, no tal "VAR" que a F1 lançou após a polêmica decisão de Abu Dhabi em 2021 e sobre a qual ouvimos falar muito pouco desde então. Foi só depois que os replays começaram a circular que a imagem chegou aos comissários. Na última volta da prova, 31 após o ocorrido.

Na correria, os comissários determinaram que Alonso seria punido porque o texto da regra não diz que o carro não pode ser tocado. E, sim, que nenhum trabalho pode ser conduzido. Ou seja, se o macaco só tocou e não levantou o carro, não tem porque haver punição.

É de se esperar que os comissários saibam qual o texto da regra ou que, pelo menos, confiram o que efetivamente está escrito antes de decidirem. Como foram criticados inúmeras vezes pela lentidão nas decisões, desta vez correram. E erraram.

Não deveria ter havido correria, no entanto, se a turma de Genebra tivesse feito seu papel. Eles tiveram mais de 45 minutos para ver o replay. E olha que, ao contrário de outras edições, foi um GP bem calmo na Arábia Saudita.

O pior é que esse tipo de confusão não surpreende quando você ouve, continuamente, relatos da falta de preparo em vários setores dentro da FIA, que é o órgão regulador da Fórmula 1. Ou seja, dá para apostar que essa não será a única decisão confusa da temporada.

Assim como dá para apostar que teremos mais capítulos na disputa interna da Red Bull, em que claramente Max Verstappen não quer ceder nenhum centímetro para Sergio Perez, enquanto o mexicano vai lutar o quanto puder para ter chances no campeonato. E também que Alonso está certo em sorrir: vamos ouvir falar muito da Aston Martin neste ano.

No mais, talvez ficar fora do pódio seja uma bênção para a Mercedes não se perder novamente, como aparentemente aconteceu após a dobradinha no Brasil, que fez o time acreditar que estava no caminho certo. Toto Wolff disse que não se importa se o carro estiver a cara da Red Bull em alguns meses, contando que seja rápido. Certamente o desempenho em Jeddah foi melhor do que no Bahrein, mas eles também contaram com a colaboração da Ferrari, que ficou arisca quando os pilotos colocaram os pneus duros. O carro vai piorando ao longo da sequência de voltas, o que não é uma notícia nada boa para quem também começou o ano sofrendo com os motores.

Inclusive, nada garante que a Ferrari já não está andando sem toda a potência temendo mais quebras. Leclerc já pagou uma punição na Arábia Saudita após perder duas centrais eletrônicas: uma por erro humano na hora de montar o equipamento no chassi e a outra, será difícil identificar, já que o equipamento queimou de vez.