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Como Alonso motiva engenheiros a fazerem hora extra para se manter no pódio

Fernando Alonso no paddock de Jeddah no último fim de semana  - Mark Sutton/Aston Martin
Fernando Alonso no paddock de Jeddah no último fim de semana Imagem: Mark Sutton/Aston Martin

Colunista do UOL

23/03/2023 04h00

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Quando Fernando Alonso foi à garagem da Aston Martin após o GP da Arábia Saudita, sua equipe ainda não havia protestado contra o resultado da prova e ele tinha perdido o terceiro lugar por um suposto erro do time ao pagar uma punição durante a prova. Ao invés de esperar 5s para a punição ser paga, um dos mecânicos deixou o macaco, aquela peça que ajuda a levantar o carro, encostar no AM23.

No final das contas, Alonso voltou ao terceiro lugar depois que a equipe mostrou que o regulamento não fala em peças tocando o carro e sim em algum trabalho sendo conduzido. Mas o que importa aqui é a reação do espanhol. A primeira coisa que ele fez ao chegar à garagem foi procurar o mecânico responsável pelo macaco traseiro e lhe dar um abraço.

O piloto mais experiente do grid sabe que o momento é de motivar todos a suarem a camisa por ele. Ele não está lutando pelo campeonato contra uma Red Bull muito mais forte, então os três pontos que ele tinha perdido (e acabou recuperando) não eram tão importantes quanto dar confiança aos mecânicos pensando no resto da temporada.

Até porque o desempenho da Aston Martin em uma pista na qual, em teoria, seu carro não teria vantagens em relação à Mercedes e à Ferrari mostrou que eles são uma realidade. Um raro caso de equipe que conseguiu dar um salto muito significativo, pulando de sexta força no final do ano passado para segunda, sem a ajuda de uma grande mudança de regras.

E, depois de pular de barco em barco, nem sempre acertando seus movimentos, finalmente Alonso fez a aposta certa.

Ele já ganhou o time de pista, que fazia coro gritando seu nome enquanto o piloto dava entrevista antes de subir ao pódio pela segunda vez no ano em duas corridas. Na fábrica, o chefe Mike Krack disse que está tendo de "mandar as pessoas irem para casa porque estão todos tão empolgados e querendo desenvolver mais o carro" que não se importam em fazer hora extra. E o chefe de performance, Tom McCullough, acredita que o fato de Alonso ter andado nos três dias de teste de pré-temporada, já que Lance Stroll estava machucado, ajudou a "acelerar algumas descobertas em relação ao carro".

É claro que o espanhol não tem grande impacto no projeto do carro em si. O time lembra que ele deu algumas sugestões importantes no teste que fez logo após o final da temporada passada, mas as principais (e acertadas) decisões já tinham sido tomadas.

O que Alonso faz de melhor é trabalhar duro e, desta forma, motivar cada membro da equipe para tirar o melhor de si. Quando a fase é boa, como neste começo de ano na Aston Martin, não há piloto melhor para se ter a bordo. Quando as coisas começam a se complicar, o tom se torna um "eu estou fazendo a minha parte" e é sempre aí que as relações de Alonso com suas equipes sempre degringolaram.

Aston Martin foi o segundo melhor carro com sobras

Mas o momento é de lua de mel, e com motivos para isso. Na corrida do último domingo, ele chegou a pular na ponta, mas logo foi informado de sua punição por ter se posicionado fora do colchete no grid. Com isso, sabia que qualquer chance mínima de vitória tinha escapado, e não ofereceu resistência quando foi ultrapassado por Sergio Perez.

O mesmo aconteceu no meio da corrida, quando foi Max Verstappen quem o passou. O grande problema da Aston Martin é a falta de velocidade de reta, e a Red Bull tem voado nas retas neste ano. O que fazia sentido naquele momento era fazer seu ritmo, cuidar dos pneus, e se defender de um possível ataque das Mercedes no final da prova. Afinal, os 9s que ele tinha aberto em relação a Russell nas 17 primeiras voltas haviam sido neutralizados por um Safety Car.

Já em terceiro, Alonso foi bastante conservador com seu ritmo e Verstappen abriu 14 segundos em 13 voltas, forçando ao máximo sua Red Bull para tentar chegar em Perez. Foi quando o holandês começou a ouvir barulhos estranhos na transmissão e foi orientado a diminuir o ritmo. Nas últimas voltas, Alonso ouviu que tinha que acelerar por conta da segunda punição, e foi aí que mostrou que realmente não estava forçando para superar as Mercedes. Na última volta, dando tudo o que o carro tinha ao mesmo tempo em que Verstappen fazia o mesmo na Red Bull para roubar a volta mais rápida de Perez, a diferença entre os dois foi de pouco mais de três décimos.

Então é justo que a Aston Martin comece a olhar para frente. "Há uma corrida de desenvolvimento em marcha", disse Krack. "Temos de ser cuidadosos com as previsões. Podemos diminuir essa desvantagem em relação à Red Bull? Trabalharemos duro, ano passado nós melhoramos ao longo do ano. A referência é sempre o carro mais rápido."