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O que falta para Leclerc ser o líder de que a Ferrari precisa para se achar

Charles Leclerc, da Ferrari, antes da largada para o GP do Bahrein de F1 - Divulgação/Ferrari
Charles Leclerc, da Ferrari, antes da largada para o GP do Bahrein de F1 Imagem: Divulgação/Ferrari

Colunista do UOL

25/03/2023 04h00

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Um lance durante o GP da Arábia Saudita foi a síntese do atual momento da Ferrari. Charles Leclerc tinha feito sua parada pouco antes do Safety Car entrar na pista, a exemplo do companheiro Carlos Sainz e ao contrário dos rivais diretos, haja vista a degradação mais acelerada dos pneus na Ferrari. Seu engenheiro de pista, Xavier Marcos Padros, lhe disse para acelerar porque Lewis Hamilton tinha parado. Mas a mensagem chegou tarde demais e Leclerc reclamou: "você precisa me avisar isso antes!".

Mas será mesmo?

Primeiro, cabe a explicação. Durante um período de Safety Car, até que o líder alinhe atrás dele e a fila comece a se formar, os pilotos têm de respeitar um limite de tempo que é mostrado no volante. Mas não entre as duas linhas de Safety Car, que ficam logo antes da entrada do pitlane e logo depois da saída, na pista. Era nesse ponto que Leclerc poderia ter acelerado e foi depois desse ponto que a mensagem chegou, por isso o diálogo.

Então você tem um carro que até é rápido (Leclerc ficou a um décimo da pole, mas largou atrás por uma punição pela troca de componentes de motor, estourando o limite já na segunda corrida), mas desgasta muito os pneus e perde terreno na corrida. Uma operação de pista confusa, dando um aviso tardio ao piloto. E também tem um piloto que precisa desse tipo de informação.

É difícil imaginar que um Fernando Alonso precise que o engenheiro diga que ele tem que forçar entre as linhas de Safety Car.

É claro que Leclerc não desenha as peças da Ferrari, não faz as estratégias, não troca pneu nos pit stops e, logo, não pode ser responsabilizado por tudo o que deu errado para a Scuderia nos últimos anos. Ele, na verdade, muitas vezes foi o elo forte do time. É difícil achar no grid alguém tão rápido em classificação como ele. Ele é forte nas ultrapassagens, consegue lidar com carros mais "temperamentais", como o próprio SF-23. É certamente um piloto muito talentoso e profissional fácil de trabalhar.

Mas sua visão de corrida não está entre suas grandes qualidades. E, quando você tem uma equipe desorganizada como a Ferrari, a última coisa que o time precisa é que seu líder na pista dependa tanto das informações que vêm dos boxes. Porque elas não têm sido precisas. Assim como está faltando no time um norte em termos de desenvolvimento do carro (praticamente nulo desde o início do campeonato, o que foi claramente mostrado pelo ritmo em Jeddah) e também na gestão de corrida, é preciso ter um piloto que tome as rédeas da corrida.

Então embora Leclerc seja um grande talento, um cara muito respeitado em Maranello e comprometido a levar a Scuderia ao título depois de mais de uma década de seca, talvez ele não seja o tipo de líder que a Ferrari precisa no momento.