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Por que o verdadeiro teto de gastos da F1 é bem mais alto do que parece

George Russell pula à frente de Max Verstappen na largada em Melbourne - Reprodução/F1 TV
George Russell pula à frente de Max Verstappen na largada em Melbourne Imagem: Reprodução/F1 TV

Colunista do UOL

13/04/2023 04h00

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As equipes finalmente sabem o quanto poderão gastar neste ano na Fórmula 1. O teto orçamentário deste ano vai ficar em 145,3 milhões de dólares (R$ 727,3 milhões), numa conta que inclui basicamente tudo o que tem influência direta e indireta na performance do carro, excluindo os salários dos pilotos e dos três funcionários mais bem pagos do time. O valor é pouco menos de 1 milhão menor do que o do ano passado (cujas contas serão julgadas pela FIA nos próximos meses), mas é bem menor do que os 135 milhões de dólares que o regulamento previa. Mas por que tanta diferença?

As equipes estão pressionando por adaptações no plano inicial do teto e têm ganhado algumas batalhas que, pouco a pouco, vão aumentando o teto real. A primeira ideia era que o teto fosse de 145 milhões em 2021, 140 milhões em 2022 e 135 agora. Mas a conta real tem seus acréscimos:

  • Valor base de 135 milhões (que será mantido daqui em diante)

  • 1,8 milhão de dólares para cada corrida além de 21 etapas no ano (até 2022, era 1,2 mi)

  • 150 mil dólares para cada sprint (são seis nesta temporada)

  • Acréscimo da inflação anual do G7, em 31 de março (4.3%, ou 5.8 milhões))

É por conta da inflação que o valor real só foi definido agora. A regra mudou ano passado depois que os preços dispararam na Europa, surpreendendo os times. Agora, há um ajuste feito levando em consideração a inflação anual do G7 calculada em 31 de março. O interessante é que este número é bem inferior ao do Reino Unido, por exemplo, onde a maioria das equipes está baseada. A inflação nos últimos 12 meses no país ficou em 9.2%.

E ainda há outros poréns. Abandonos por acidentes nas sprints geram compensação financeira maior para as equipes. É permitido que se adicione a diferença entre o gasto com o acidente e 100 mil dólares. Ou seja, se o dano gerado custou 500 mil, a equipe pode adicionar 400 mil ao teto da temporada. Estes gastos têm de ser comprovados para que isso aconteça.

A F1 está aberta a estudar novas mudanças para o teto, após reclamações das equipes menores. A ideia é acrescentar mais pontos que não entram para a conta e que ajudam os times a chegarem mais perto da estrutura dos grandes. Hoje em dia, gastos como o que a Aston Martin está tendo para construir uma nova fábrica ou o da McLaren, que está refazendo seu túnel de vento e simulador, não entram na conta do teto.

Recém-chegado na Williams após anos de Mercedes, James Vowles deu como exemplo um sistema que permite localizar todas as 15.000 peças que formam o carro e suas reservas. É algo que a Mercedes tem e que ele se surpreendeu ao saber que a Williams não possui. Desenvolver esse software é algo que entraria no teto pelo regulamento atual.

É claro que a FIA tem de estar atenta às tentativas das equipes fazerem manobras. Agora que o ano de implementação já passou e pontos importantes foram esclarecidos com os casos da Red Bull e da Aston Martin, que não incluíram tudo o que deveriam em seus relatórios, uma preocupação é o uso de conhecimento de outras áreas que não estariam, em um primeiro momento, ligadas ao time de F1 e não entrariam na conta. Como por exemplo o programa da Ferrari no Mundial de Endurance ou a parceria da Mercedes com a INEOS, dona da SailGP, competição de catamarãs de alta performance.

Uma coisa é certa, essa regra do teto orçamentário é boa para a F1 e já dá para sentir seu impacto. Mas ela também é complexa e ainda vai gerar muita briga entre as equipes.