Topo

Pole Position

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Sensação da F1, Aston está sob pressão para melhorar o carro até junho

Fernando Alonso, Aston Martin, no pódio do Grande Prêmio da Austrália - Qian Jun/MB Media/Getty Images
Fernando Alonso, Aston Martin, no pódio do Grande Prêmio da Austrália Imagem: Qian Jun/MB Media/Getty Images

Colunista do UOL

18/04/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O chefe da Aston Martin, Mike Krack, chegou a dizer que estava tendo que pedir para seus engenheiros que trabalham no desenvolvimento do carro na fábrica irem para casa, tamanha a empolgação para encontrar mais performance para o AMR23 depois do começo surpreendente desta temporada.

De fato, não é todo dia que vemos uma equipe pular do sétimo lugar no campeonato anterior para começar o ano como a segunda força no campeonato. Mas a pressa dos engenheiros não é só pura motivação. Eles sabem que a Aston teve uma vantagem importante desde o começo do ano passado e já sabem que isso vai acabar em julho.

Tudo tem a ver com uma regra que estreou na Fórmula 1 em 2021 e à qual as equipes ainda estão se adaptando: quanto mais na frente você estiver no campeonato, menos tempo tem à disposição para levar novas peças ao túnel de vento ou para fazer cálculos de computador que ajudam a medir o fluxo aerodinâmico.

Essas quantias são decididas duas vezes por ano, usando a posição do campeonato de construtores daquele momento. A próxima leva em consideração a ordem entre as equipes em 30 de junho, ou seja, depois do GP do Canadá.

"Teríamos 25% a menos se formos segundos. Sim, é algo substancial", disse Krack. "São coisas que estamos discutindo no momento. Mas temos de ser realistas também. Podemos ser terceiros ou quartos. As coisas podem mudar rapidamente."

De qualquer forma, a Aston Martin já sabe que terá uma queda brusca na sua alocação de desenvolvimento aerodinâmico, fruto de seu sucesso. Quando o diretor técnico Dan Fallows chegou na equipe e logo adotou um plano de revisão completa do carro, na primeira metade de 2022, eles eram a quarta equipe com mais tempo de desenvolvimento aerodinâmico à disposição. A partir de 1º de julho, passaram a ser a terceira com mais tempo, e a partir do começo de 2023 voltaram a ser a quarta, fruto do sétimo lugar no campeonato de 2022.

Para se ter uma ideia do tamanho da diferença, vale a comparação com a Red Bull, que começou 2022 em segundo, depois passou para o primeiro lugar e agora ainda tem uma diminuição em 10% de sua alocação como punição por ter passado do teto orçamentário em 2021.

No ano passado, a Red Bull teve direito a 2.496h de túnel de vento e 12.480 cálculos de CFD (aqueles computadorizados que medem os fluxos aerodinâmicos). A Aston Martin teve 3.660h de túnel de vento e 18.300 cálculos. Esses números da Aston eram os limites para todas as equipes antes da adoção dessa regra, então há a vantagem de não ter de adaptar a maneira de trabalhar.

De janeiro de 2023 até 30 de junho, a diferença segue elevada: a Red Bull tem 252 horas de túnel de vento à disposição e 1.260 cálculos de CFD a cada período de quatro a seis semanas. A Aston Martin tem 400h de túnel de vento e 2000 cálculos.

Se a equipe seguir como segunda força até o GP do Canadá, vai perder 100h de túnel de vento e 500 cálculos a cada período de quatro a seis semanas a partir de julho. E isso vai refletir talvez nem tanto no projeto deste ano, mas nas decisões de quanto já focar no projeto do ano que vem. As equipes costumam começar o carro do ano seguinte assim que lançam o modelo atual, e o que vai mudando ao longo do ano é a porcentagem de trabalho no projeto novo.

Terceiro no campeonato, Fernando Alonso diz que o campeonato "está entrando em um momento interessante, em que veremos quem vai desenvolver melhor o carro. Temos que aproveitar todas as oportunidades para crescermos enquanto equipe, até porque Red Bull, Mercedes e Ferrari estão acostumadas a esse ritmo de desenvolvimento", lembrou o espanhol. Mesmo com a próxima corrida sendo um final de semana de sprint em Baku, já é esperado que alguns times tentem experimentar novas peças no único treino livre. Mas a maior parte das atualizações chegará em Miami e em Imola, as duas corridas seguintes. Para a Aston, é importante que essas novas peças funcionem principalmente para reduzir o arrasto gerado pelo carro, o que vem sendo o grande ponto negativo do AMR23 até aqui.

Então dá para apostar que, até 30 de junho, vai ter muito engenheiro motivado para fazer hora extra na fábrica em Silverstone.