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Honda pode ser o que a Aston Martin precisa para lutar por títulos na F1

Integrantes da Aston Martin celebram o terceiro lugar de Fernando Alonso no GP do Bahrein - Zak Mauger/Aston Martin
Integrantes da Aston Martin celebram o terceiro lugar de Fernando Alonso no GP do Bahrein Imagem: Zak Mauger/Aston Martin

Colunista do UOL

20/04/2023 04h00

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Esse começo da temporada da Fórmula 1 ao mesmo tempo mostrou para a Aston Martin que o time tomou decisões acertadas nas contratações que fez nos últimos 18 meses e conseguiu usar a vantagem que tinha no tempo de desenvolvimento aerodinâmico. Mas, ao mesmo tempo, deixou claro qual o entrave, a médio prazo, para lutar por títulos como almeja o presidente-executivo do time Lawrence Stroll: a dependência da Mercedes. Como a Red Bull, McLaren e Williams já descobriram faz tempo, é difícil vencer como equipe cliente na categoria.

Do outro lado, está a Honda. Eles buscam um parceiro para usar seus motores a partir de 2026, quando acaba o acordo costurado com a Red Bull Powertrains quando os japoneses decidiram sair da F1 como fornecedora direta em 2021. A partir de então, a Red Bull "assinará" seu motor junto com a Ford.

A Honda confirmou junto à FIA sua intenção de voltar em 2026, quando a F1 terá uma nova unidade de potência, 100% renovável (metade energia elétrica e metade com biocombustíveis). E agora buscam um parceiro. As opções realistas são Aston Martin, McLaren, Williams e, possivelmente, AlphaTauri por meio de aquisição.

É óbvio que a melhor opção é a Aston Martin. Não só pelo salto que eles deram no começo deste ano, mas pelos profissionais que atraíram e principalmente pela nova fábrica que será entregue ainda neste ano e promete ser a mais avançada da F1. Financeiramente, a montadora também parece bem ancorada pelo grupo de investidores de capital gigantesco que Stroll construiu.

Mercedes é mais do que uma fornecedora de motores para a Aston

Há, no entanto, alguns poréns, que vêm da relação bastante próxima com a Mercedes. Atualmente, a Aston Martin é cliente dos motores alemães, usa seu túnel de vento, e compra toda a parte traseira do carro - da suspensão ao câmbio. Segundo o chefe Mike Krack, o time avalia deixar de comprar essas peças, mas não é uma avaliação simples.

"Estamos comprando muitas peças no momento, precisamos avaliar como vamos nos estruturar para que façamos essas peças", disse Krack, salientando que eles estão contentes com os produtos da Mercedes. No entanto, sempre que você compra algo tão importante como o câmbio de outra equipe, você limita seu desenvolvimento tanto do ponto de vista mecânico como também aerodinâmico. Um bom exemplo é como a Red Bull tem suspensões bastante diferentes que são fundamentais para o comportamento aerodinâmico do carro.

A questão é que a Aston Martin precisa primeiro terminar sua fábrica para conseguir fazer peças melhores do que as da Mercedes. E também, é claro, para se livrar da dependência do túnel de vento. Ao que tudo indica, isso teria que esperar até 2025, até porque o desenvolvimento do próximo carro já começou a essa altura. E o próximo passo seria se livrar da dependência em relação aos motores.

Nesse cenário, a Honda também aparece como uma opção muito tentadora para a Aston Martin. Foram eles que deram o maior salto antes do congelamento do desenvolvimento em 2022 e especialmente a parte de recuperação de energia (que será ainda mais importante em 2026) tem ajudado a Red Bull na velocidade de reta superior que eles têm tido desde então.

Um casamento perfeito para 2026, com tempo de sobra para a Aston resolver a questão da dependência da Mercedes em outros setores? É aí que as coisas se complicam um pouco.

Poderia haver uma separação entre a fabricante Aston e a equipe de F1?

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Lawrence Stroll, dono da Aston Martin
Imagem: Charles Coates/Getty Images

A Mercedes controla 20% das ações da montadora Aston Martin, da qual inclusive Toto Wolff também é acionista minoritário. Wolff e Stroll são bastante próximos politicamente nos bastidores da F1, com o austríaco se tornando uma espécie de conselheiro do bilionário canadense quando ele ainda buscava entender as entranhas da categoria.

A F1 já teve casos difíceis de explicar em que montadoras sem conexão entre si acabaram juntas, como a BMW Sauber-Ferrari, ou até mesmo agora que a Ford trabalha dentro da Red Bull Powertranis enquanto são os motores Honda que estão sendo usados pela equipe. Mas tudo vai depender de qual é a estratégia da Mercedes nesse caso. Por um lado, o sucesso do time de F1 pode aumentar o valor das ações e movimentar as vendas da Aston Martin, mas também pode significar que a própria Mercedes terá vida mais difícil nas pistas.

Também é verdade que a Aston Martin montadora não é dona da Aston Martin equipe. Na verdade, foi Stroll quem comprou o time de F1 e formou uma holding que adquiriu a fabricante de carros e fez essa conexão para usar o time como plataforma comercial para a marca.

Ou seja, para a Honda, o caminho de "retorno" à F1 pela Aston Martin tem seus obstáculos e eles são menores do que com a McLaren, por exemplo. A dependência do time de Woking em relação à Mercedes se deve apenas ao fornecimento de motores. Mas sabemos o que aconteceu da última vez que Honda e McLaren tentaram uma parceria: a falta de comunicação e insistência dos ingleses de querer que o motor se adequasse ao projeto aerodinâmico deles gerou um projeto desastroso para ambas as partes.