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Pilotos saem exaustos da primeira nova sprint, e Max prova que estava certo

Max Verstappen conversou com a imprensa no Azerbaijão nesta quinta-feira. - Francois Nel/Getty Images
Max Verstappen conversou com a imprensa no Azerbaijão nesta quinta-feira. Imagem: Francois Nel/Getty Images

Colunista do UOL

01/05/2023 04h00

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Dava para perceber no semblante dos pilotos no domingo o esgotamento após o primeiro final de semana do novo formato da sprint, e logo em uma pista em que a tensão é sempre alta em Baku. Ter duas classificações e duas corridas, ambas com períodos de Safety Car, ainda mais correndo em carros que não estavam tão bem configurados, foi um desafio e tanto. Mas no GP do domingo isso não se tornou em uma corrida movimentada devido à durabilidade dos pneus.

Costumo acompanhar o trabalho de engenheiros que se debruçam sobre os dados de telemetria para tentar identificar quem está melhor, em que tipo de trecho de pista cada carro está ganhando, etc. E foi curioso ver que eles estavam com dificuldade de encontrar alguma tendência nos números.

É porque o fator humano contou muito o tempo todo. Um bom exemplo foram as duas classificações realizadas com condições de pista mais diferentes (20 graus de diferença entre o final da sessão de sexta, que definiu o grid de domingo, e a de sábado) e pneus distintos também, pelo menos até a segunda parte (por regulamento, é necessário usar pneus médios nas duas primeiras partes da classificação do sábado). Isso gerou muita falta de consistência nos resultados. A não ser de dois pilotos: Sergio Perez venceu as duas corridas do fim de semana. E Charles Leclerc fez as duas poles e otimizou o resultado da Ferrari o tempo todo.

A questão da configuração não otimizada dos carros já era esperada pois só haveria uma sessão de treinos livres, com a pista ainda bem suja. Mas foi ainda pior depois que 1h de treino se tornou 47 minutos após uma bandeira vermelha causada por Pierre Gasly. E a temperatura da pista foi variando bastante, complicando ainda mais a vida de pilotos, engenheiros e mecânicos.

Estavam todos sob pressão. A Aston Martin teve seu primeiro problema mais sério em função de uma nova asa traseira cujo DRS não funcionou logo na classificação. Isso custou só 0s2 por volta, mas a própria configuração da asa não era das melhores, com muito pouca pressão aerodinâmica, complicando a aderência do carro em uma volta lançada. Nas corridas, ficou valendo a baixa degradação de pneus, e Fernando Alonso conseguiu salvar um quarto lugar no GP, até porque uma de suas rivais diretas, a Mercedes, também foi para o fim de semana com um carro que não inspirava muita confiança nos pilotos.

Os mecânicos da Alpine tiveram duas horas para trocar unidade de potência e chassi no carro de Gasly para ele participar da classificação. E depois ele teve problemas de escapamento e o companheiro Esteban Ocon, de suspensão. Não por acaso, vi os chefes da área técnica até rindo ironicamente ao explicar tudo o que tinha acontecido ao assessor de imprensa tudo o que estava dando errado. Naquele tom de rir da própria desgraça porque é o jeito.

O mesmo aconteceu na AlphaTauri, quando os membros do time assistiam a Yuki Tsunoda retornar o carro todo torto aos boxes, após ter batido na sprint. Foi outra equipe que tinha tudo para usar o fim de reta melhor do Red Bull Powertrains-Honda e não conseguiu pela inconsistência de seus pilotos sob pressão intensa.

Aliás, acabaram no muro os suspeitos de sempre. A dupla da AlphaTauri, Logan Sergeant (destruindo tanto o carro que nem deu tempo dos mecânicos aprontarem a Williams para a sprint), Pierre Gasly, que anda sob intensa pressão.

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Sergio Pérez ganhou as duas corridas e foi o nome do final de semana
Imagem: Mark Thompson/Getty Images

No final das contas, Max Verstappen estava certo quando apontou que a sprint em uma pista como Baku só significa mais custos com novas peças para as equipes e, consequentemente, menos dinheiro para o desenvolvimento dos carros devido ao teto orçamentário. Mas aí é problema deles. Para nós, foi um GP com muitas sessões que valiam alguma coisa, em que vimos o pessoal da F1 ser levado ao limite. E olha que esse foi apenas o primeiro fim de semana de uma sequência de cinco GPs em seis semanas.

Pressão na direção de prova continua

Mesmo com os dias atribulados, os pilotos fizeram questão de demonstrar seu ponto de vista na reunião que sempre fazem às sextas-feiras com a direção de prova. Em Baku, essa reunião começou às 20h e durou mais de 1h. Às vezes é uma questão de minutos. Na pauta estavam as bandeiras vermelhas e relargadas da Austrália, e os pilotos não ficaram contentes com a solução apontada pela direção de prova e soltar o Safety Car 30s na frente no procedimento de relargada parada para que eles possam aquecer bem seus pneus. Afinal, foi isso o que causou o strike no final da prova.

Eles sabem que, se o primeiro colocado sentir que é melhor para ele segurar o pelotão, como é ele quem define o ritmo, ele o fará. E o novo procedimento não vai adiantar em nada. Por isso ficou acordado que o procedimento mudaria para este GP, mas será revisado no futuro e não tem poder de regra ainda.

Deu para ver o resultado da pressão dos pilotos na sprint, quando havia detritos na pista e até um pneu e a direção de prova cobriu isso com um Safety Car Virtual primeiramente. É a mesma direção de prova com uma leitura totalmente diferente do que é passível de bandeira vermelha e o que não é. Quem 'adora' isso são os estrategistas, que ficam sem saber se param ou não os pilotos.

Em Miami, o final de semana volta para a programação normal. Com peças que melhoram a performance e três treinos livres para acertar o carro, vai ter muito piloto agradecendo pelo fim de semana de Baku ter ficado para trás.