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GP de Miami mostra diferença entre o que a Fórmula 1 é e o que ela quer ser

Sergio Pérez à frente de Max Verstappen antes de seu primeiro pit no GP de Miami - Mark Thompson/Getty Images
Sergio Pérez à frente de Max Verstappen antes de seu primeiro pit no GP de Miami Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Colunista do UOL

08/05/2023 04h00

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Não foi uma corrida ruim em Miami. Max Verstappen foi muito superior por todo o final de semana, mas teve de remar para vencer saindo da nona colocação. Alonso começou mal os treinos livres e terminou no pódio, e houve disputas por posição até o final, com Hamilton ganhando posições no final com uma estratégia diferente, em um dia em que a performance da Mercedes surpreendeu.

Ok, não foi nenhuma reviravolta, foram resultados que foram sendo construídos ao longo das sessões, ao longo das voltas. E isso é o que a F1 é. Mas não é o que ela tem vendido ser.

É aí que entra o conflito, principalmente em Miami, que pelo menos até Las Vegas é o símbolo dessa F1 que tenta vender um drama que não é uma constante na categoria. É claro que, ao longo de uma temporada, há reviravoltas. Mas também há corridas que parecem um 0 a 0 com poucas chances de gol, como aconteceu no Azerbaijão, e um 2 a 0 que teve movimento, mas que não será lembrado como um clássico. Quando você tem uma categoria em que cada equipe tem de fazer seu próprio carro, não dá para esperar uma corrida em condições iguais.

Após a prova em Miami, foi curioso mergulhar na reação dos americanos nas mídias sociais e ler reclamações como "não teve nenhuma bandeira amarela". Aí dá para perceber que existe uma distância entre o produto que a F1 realmente é e aquele que ela está tentando vender.

Miami é um exemplo extremo, mas durante a corrida havia pouca gente prestando atenção às telas no paddock. As arquibancadas estavam bem vazias até o início da classificação. Nos treinos livres, os torcedores aproveitavam para curtir as atividades ao redor da pista, dando a impressão de que Miami não tinha nem conseguido vender os ingressos de arquibancada e a F1 estava já em crise com os americanos, o que não era verdade.

Esse tipo de comportamento só incentiva falas como a de Domenicali neste fim de semana, no sentido de aumentar o número de sprints. Ele quer com uma expansão de seis para dez, até chegar à temporada inteira com o formato que foi criado para dar mais emoção ao final de semana, com mais sessões que realmente valem alguma coisa.

No cenário atual, será difícil ver isso passar. As equipes vão pedir mais dinheiro para o teto orçamentário, vão pedir para usar mais motores ao longo da temporada, e isso vai comprometer as metas de sustentabilidade da categoria. Isso, sem falar que pilotos e equipes até não torcem o nariz para a sprint, mas não querem que ela se torne norma.

Às vezes parece até um desespero para aproveitar o momento de crescimento da popularidade da F1 entre fãs mais jovens sabendo que a onda não vai durar muito tempo porque o produto não se sustenta. Daí a necessidade de criar maneiras de aproximar o que é vendido da realidade, e a sprint é um caminho nesse sentido, assim como eventos como Miami e Las Vegas, que estreia neste ano.

Miami melhorou no segundo ano, mas deu escorregadas

Miami aprendeu algumas lições com a corrida do ano passado em termos de organização. Que o asfalto tinha de ser refeito, era claro. Mas também houve mudanças nos ingressos comercializados e na área de paddock, que passou a ocupar também o gramado do estádio do Miami Dolphins.

Os resultados foram variados. Os ingressos que permitiam se deslocar por várias áreas, inclusive nas arquibancadas do estádio, mas sem visão da pista, encalharam. Eles começaram a ser vendidos a pouco menos de 3 mil reais, e depois passaram por várias promoções. Havia muitas opções de alimentação para quem estava no paddock, ao contrário do ano passado, quando chegou a faltar comida para os convidados. Mas a ideia de um gramado sintético no paddock não deu lá muito certo, com muito calor e eletrostática, que fez o cabelo de muito VIP ficar espetado, o que é de se imaginar que não é exatamente o que as dezenas de influenciadores que estavam por lá queriam para seus vídeos e fotos.

Muitos deles não sabiam muito sobre o evento, mas são parte da estratégia da Fórmula 1 de crescer nas mídias sociais. Afinal, há uma preocupação da categoria com a estagnação de seus números. No final, foi mais um evento lotado de famosos, de Tom Cruise a Roger Federer, passando por Vin Diesel e Shakira, e uma corrida com alternativas, mas que acabou com o conjunto piloto e equipe mais rápidos do final de semana na frente. Porque essa é a F1.