Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
F1 faz 73 anos colecionando lucros (e críticas) por foco no espetáculo
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Foi na pista de Silverstone, na Inglaterra, há exatos 73 anos, que Giuseppe Farina cruzou a linha de chegada com uma Alfa Romeo para se tornar o primeiro vencedor de uma corrida válida pelo campeonato mundial de Fórmula 1.
Muita coisa mudou e muita coisa se manteve igual de lá para cá: a categoria segue com a chancela da francesa Federação Internacional de Automobilismo, com muita influência da Inglaterra, palco de sua primeira corrida; e da Itália, país de Farina e da Alfa. Ao longo desses 73 anos, a resistência a mudanças foi enorme em várias áreas, da segurança dos pilotos ao formato de disputa. E ainda é.
A "jovem senhora" F1 de hoje por um lado comemora seus números. Por outro, recebe uma chuva de críticas por estar focando muito no show (e estar devendo em promover o tal show).
Os números apontam para o sucesso da gestão da Liberty Media, que detém os direitos comerciais desde 2017. No último ano de Bernie Ecclestone à frente da categoria, a receita ficou em 1,8 bilhão de dólares. Com a correção da inflação, isso é equivalente a 2,25 bilhões hoje. Ano passado, a F1 arrecadou 2,573 bilhões de dólares. A tendência de crescimento segue neste ano. No primeiro trimestre de 2023, a receita aumentou em 6% em relação ao mesmo período do ano passado.
É verdade que a Liberty também gasta mais. O lucro do primeiro trimestre de 2023 é de 3%, muito em função dos gastos com Las Vegas, prova que a própria empresa norte-americana está promovendo, algo que Ecclestone tentou no passado sem muito sucesso. Porém, as equipes têm recebido mais dinheiro da Liberty (na comparação entre os primeiros três meses de 2022 e 2023, o crescimento foi de 12% no pagamento aos times) e o esporte está crescendo em diversas métricas.
Sem campeonato competitivo, F1 ataca de ?perfumaria?
Por que tantas críticas, então? Os números da própria Liberty apontam que um terço dos torcedores da F1 começou a acompanhar o esporte nos últimos quatro anos. O fato de a categoria ter sido o primeiro campeonato mundial a voltar durante a pandemia, ainda em julho de 2020, é um fator. E o grande campeonato de 2021 é outro. No meio de tudo isso, a série Dirigir Para Viver, da Netflix, conquistou um público mais jovem.
Acontece que a série da Netflix não é exatamente um documentário. Não demorou muito para quem chegou ao esporte por meio dela perceber a dramatização de vários eventos. E eles agora estão percebendo que um campeonato disputado até a última volta como 2021 é exceção em uma categoria em que cada time tem de fazer seu carro e há diferenças de performance muitas vezes grandes entre eles. Ao longo dos 73 anos, a F1 premiou mais vezes a excelência do que a competitividade justamente por conta disso.
A leitura da Liberty é que esse novo público precisa de mais estímulos. Não coincidentemente, o CEO da F1, Stefano Domenicali, apontou no último fim de semana para um aumento do número de sprints na temporada. Trata-se de um formato que estreou em 2021 que visa aumentar o número de sessões competitivas durante o GP. E, na próxima etapa, em Imola, estreia outra novidade, com a obrigação de usar determinados compostos de pneu em cada uma das três partes da classificação (pneus duros no Q1, médios no Q2 e macios no Q3).
Porém, de lá para cá, a F1 mudou o regulamento técnico de maneira radical para promover mais disputas na pista. Quando isso ocorre, como os 73 anos de história mostram, sempre há o risco de uma equipe pular na frente. Dito e feito. A história, porém, também mostra que, mantendo o mesmo regulamento por um tempo, as equipes tendem a se equilibrar. E hoje há mecanismos (o teto orçamentário e o limite de desenvolvimento aerodinâmico de acordo com a posição no campeonato) para acelerar esse processo.
A questão é se esses novos fãs vão ter paciência de esperar. E se os velhos torcedores vão aceitar as mudanças que a Liberty vem promovendo para entreter o público de outras formas.
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