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Como investimento de atores na Alpine explica 'birra' com times novos na F1

Rob McElhenney e Ryan Reynolds estão investindo na Alpine - Matthew Ashton - AMA/Getty Images
Rob McElhenney e Ryan Reynolds estão investindo na Alpine Imagem: Matthew Ashton - AMA/Getty Images

Colunista do UOL

27/06/2023 04h00

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O anúncio de que a Alpine vai receber um investimento de 200 milhões de euros (equivalente a R$ 1,04 bilhão) ajuda a entender porque as equipes da Fórmula 1 estão tão reticentes quanto à entrada de um novo competidor nos próximos anos, mesmo que a FIA esteja terminando o processo de seleção que começou há alguns meses.

O investimento vem de um grupo formado pela RedBird Capital, que comprou o Milan ano passado, e pela empresa dos atores hollywoodianos Ryan Reynolds e Rob McElhenney, que vêm da aquisição do Wrexham FC, no País de Gales, que acabou de ganhar um campeonato pela primeira vez em 45 anos e subir para a quarta divisão do futebol. Na empreitada da Alpine, eles têm o investimento de outro ator, Michael B. Jordan.

Mas o mais importante dessa história é o valor. Se o investimento do grupo é de 200 milhões de euros para a aquisição de 24% da equipe, isso significa que os americanos estão avaliando que a Alpine vale cerca de 900 milhões de dólares.

Estamos falando aqui somente da equipe de corrida, e não de sua divisão de valores.

Equipes estão recebendo várias propostas como a da Alpine

Quando ouvi pela primeira vez sobre essa transição, no começo de maio, a informação veio com certo desdém porque esse valor seria baixo. Várias equipes estão recebendo propostas semelhantes neste momento, e essa cifra é parecida com aquela que times pequenos estão ouvindo dos interessados. E que estão negando, entendendo que o valor ainda vai subir mais.

Foi por isso que, quando surgiu o boato de que a Andretti estava próxima a fechar a compra da Sauber por 350 milhões de euros em outubro de 2021, isso foi recebido com muito ceticismo no paddock. Principalmente entre os chefes de equipes, que diziam que não era a hora de vender.

De fato, Michael Andretti deve se arrepender de não ter conseguido fechar o negócio na época. Logo depois, o time entrou em negociação com a Audi, e o grupo de investidores suecos que tinha adquirido a equipe em 2016 venderá 75% das ações em uma transação que será finalizada só em 2028. Os alemães se comprometeram a manter a fábrica e os funcionários na Suíça, algo que não fazia parte dos planos de Andretti.

Os valores não foram divulgados, mas são bem mais altos que a última venda de time de F1, em 2020, quando a Williams foi para as mãos de um fundo de investimento norte-americano por menos de 200 milhões de dólares.

Por que a taxa de entrada de 200 milhões de dólares está obsoleta?

É impressionante a rapidez com a qual esses números incharam-se, dentro de um cenário de valorização dessas "franquias" esportivas em várias modalidades no mundo. O próprio valor de mercado da F1, considerando as ações que a Liberty tem no nome da categoria, chegam perto dos 30 bilhões de dólares, muito acima do que eles investiram na compra em 2017. E aí dá para entender qual o problema da entrada de novos times.

Primeiramente, foi acertado em 2020 que qualquer nova equipe que quisesse entrar na F1 teria de pagar 200 milhões de dólares. O problema agora é que esse valor está claramente defasado, e dá a sensação para o mercado de que o valor dos times é, na verdade, muito menor, prejudicando essas avaliações mais otimistas. Até porque, se a Alpine vale 900 milhões de dólares, estamos falando de times valendo 1,2 bilhão mais para a ponta da tabela.

É por isso que os times querem elevar essa taxa de entrada. E também, é claro, porque cada um deles recebe uma fatia dessa taxa, algo que compensaria o fato dos lucros da F1 serem divididos entre mais times se houver algum novato.

Como está o processo para a entrada de novas equipes

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O americano Michael Andretti bateu em várias portas para tentar ter um time de F1
Imagem: Joe Skibinski/Penske Entertainment

Por enquanto, não houve mudança no valor, mas também não sabemos se a FIA vai aceitar alguma das equipes que apresentaram projetos para entrar na F1 nos próximos anos. O processo de seleção está em andamento e fontes dentro da FIA confirmam que não é esperada uma decisão no prazo estabelecido, que seria 30 de junho. Houve uma fase anterior que já foi postergada em 15 dias por questões administrativas.

Sabe-se muito pouco sobre esse processo. Alguns candidatos demonstraram interesse publicamente. A Hitech, que está na F2 e F3 e acabou de receber uma injeção de dinheiro do bilionário cazaque Vladimir Kim, anunciou que está no páreo. Andretti e Panthera Team Asia estão recrutando profissionais para trabalharem em suas respectivas equipes, se aprovadas. E um velho conhecido do paddock, Craig Pollock, ex-BAR, está comandando um projeto chamado Formula Equal, time que pretende ter 50% de homens e 50% de mulheres.

Mesmo depois da aprovação da FIA, as interessadas precisam passar por uma fase de negociações com a Liberty Media. Há duas vagas em aberto, que não precisam necessariamente serem preenchidas, e os novos times começariam a partir de 2025 (cada projeto tem sua data específica, mas já não há tempo de fazer um carro para o ano que vem).