Topo

Pole Position

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como ouvir Lewis Hamilton foi importante para o crescimento da Mercedes

Lewis Hamilton no pódio do GP da Espanha - Steven Tee/Mercedes
Lewis Hamilton no pódio do GP da Espanha Imagem: Steven Tee/Mercedes

Colunista do UOL

28/06/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Faz alguns meses que Lewis Hamilton reclamou que os engenheiros da Mercedes não tinham ouvido as sugestões que ele tinha dado e, pelo segundo ano seguido, tinham feito um carro com a traseira solta demais, pouco veloz nas retas e imprevisível.

Internamente, a equipe já preparava uma revisão importante no carro, que estreou em Mônaco, e atendia a parte de seus pedidos. Mesmo que fosse uma pista na qual é difícil avaliar novas peças, Hamilton logo de cara sentiu a diferença gerada pela revisão da suspensão dianteira. O carro ainda tem suas deficiências, mas agora está mais previsível, algo especialmente importante para que os pilotos possam forçar o ritmo nas classificações.

O salto visto na corrida seguinte, em Barcelona, era esperado porque o carro da Mercedes já era o melhor entre as três equipes que tentam se aproximar da dominante Red Bull em curvas de alta velocidade. Com a mudança no traçado do circuito e eliminação da chicane, único trecho de baixa velocidade, isso seria ainda mais marcante.

Mercedes se animou mais com o GP do Canadá do que pódio duplo na Espanha

De fato, a Mercedes foi a segunda força em Barcelona. Mas o que surpreendeu os engenheiros em Brackley foi como eles conseguiram se manter perto de Aston Martin e Ferrari na pista seguinte, no Canadá. É difícil avaliar a classificação, pois a sessão foi disputada com chuva intermitente mas, no domingo, a Mercedes teve um ritmo de corrida aquém de Aston e Ferrari (que só não chegou na frente porque Sainz e Leclerc largaram em 10º e 11º e foram obrigados a fazer uma estratégia diferente), mas bem mais próximo do que eles mesmos esperavam.

É por isso que o time vai para a próxima etapa, já neste final de semana, na Áustria, com certa confiança. Trata-se de de uma pista que até tem curvas de alta, mas poucas, e com freadas fortes, ponto em que o carro da Mercedes ainda perde por conta da sua instabilidade na traseira. Mas o rendimento no Canadá aponta que, se eles conseguirem otimizar seu final de semana, sem cometer erros, podem até pensar em pódio. E, logo em seguida, vem o GP da Grã-Bretanha, no qual eles esperam ter um rendimento bem superior devido às características do circuito.

Ainda que os rivais estejam se aproximando, a vantagem da Red Bull ainda é considerável, e é bom lembrar que o time optou por não trazer grandes pacotes com melhorias. Como a Red Bull já tem menos tempo de desenvolvimento aerodinâmico que as demais por estar na ponta do campeonato, e ainda tem um corte a mais na sua alocação pela punição que recebeu por ter quebrado o teto de gastos em 2021, a opção do time foi focar mais cedo no carro de 2024 e administrar a vantagem que construiu no começo do campeonato.

Mercedes ainda pode sonhar com vitória em 2023?

russell - Mercedes - Mercedes
Única vitória da Mercedes desde 2021 foi com George Russell no GP de São Paulo de 2022
Imagem: Mercedes

Mas o fato é que vencer corridas ainda em 2023 é uma meta que a Mercedes só pôde voltar a ter depois que mudou o caminho do desenvolvimento do carro. "Agora o carro é previsível e faz exatamente o que o simulador diz. Isso não aconteceu por um ano e meio", disse Toto Wolff. "Teremos outro grande pacote de mudanças em Silverstone e algo antes da pausa de agosto [ou seja, na Hungria ou na Bélgica]. Após as mudanças feitas no conceito do carro, vamos aprender cada vez mais rapidamente. Se nossa melhora for no mesmo nível das últimas atualizações, depois da pausa de agosto poderemos lutar com a Red Bull."

Novamente, Hamilton tem clareza do caminho que deve ser seguido pela Mercedes. O heptacampeão disse que o trabalho tem de ser no sentido de melhorar a tração, algo que fica evidente principalmente nas curvas de baixa e média velocidades (como as do Canadá e Áustria). E para aumentar a carga aerodinâmica gerada pela traseira do carro. Com isso, a Mercedes pode usar usas traseiras com menos carga e, consequentemente, gerando menos arrasto. Isso é necessário para solucionar outro problema do W14, a falta de velocidade de reta, que vem justamente das asas maiores, usadas para controlar o movimento da traseira.

Mas resolver isso provavelmente só será possível redesenhando a suspensão traseira, e isso esbarra no desenho do câmbio, que não pode ser alterado durante a temporada. Outro problema apontado por Hamilton que dificilmente será retificado em 2023 é a posição mais avançada do piloto, opção feita para que as laterais enxutas funcionassem. Elas já não estão no carro, mas mudar a posição significa homologar um novo chassi, algo muito caro de se fazer durante a temporada em tempos de teto de gastos.

Então é de se imaginar que há limites importantes para o quanto a Mercedes precisa melhorar e sua capacidade de chegar na Red Bull ainda neste ano. E ainda a certeza de que os atuais campeões mundiais têm várias cartas na manga e estão focando em neutralizar os efeitos de sua punição para voltar com tudo no ano que vem.