Pole Position

Pole Position

Opinião

10 vitórias seguidas: como explicar o domínio sem precedentes de Verstappen

O chefe da Mercedes, Toto Wolff, bem que tentou diminuir a importância do recorde de dez vitórias seguidas de Max Verstappen dizendo que era "coisa pro Wikipedia e ninguém lê". Mas, se ninguém conseguiu um feito desses nos mais de 70 anos de história da F1, não é bem assim. Existe um conjunto de fatores que funcionaram para que o holandês e a Red Bull batessem essa marca histórica (que, aliás, já pertencia à equipe).

A resposta atravessada de Wolff tem a ver com a pergunta, uma comparação com os anos de domínio de Mercedes. Eles venceram oito títulos seguidos de construtores, o que também é um recorde. Mas a maior sequência de vitórias com um mesmo piloto foi de Nico Rosberg, com sete triunfos entre o final de 2015, quando o campeonato já estava decidido a favor de Lewis Hamilton, e o início de 2016.

Disse Wolff que, quando a Mercedes estava colecionando títulos, havia competição entre seus pilotos, e por isso eles não têm marcas melhores que essa. Mas mesmo em 2020, campeonato amplamente dominado por Hamilton, o inglês não venceu mais do que cinco provas seguidas.

É inegável que Verstappen e a Red Bull estão fazendo algo especial. Mas por quê?

As armas do carro da Red Bull

O RB19 é construído e acertado para ganhar corridas. Não necessariamente para ser o carro mais rápido. Na prática, isso significa um projeto baseado em tirar a carga dos pneus para ajudar na degradação e em um DRS poderoso para ajudar nas ultrapassagens (e, de quebra, na classificação).

As suspensões têm um papel fundamental nesta primeira parte, e também ajudam o carro a manter uma distância regular em relação ao solo, em vários tipos de curva. Assim, o assoalho pode funcionar melhor para "sugar" o carro para baixo e dar confiança para os pilotos acelerarem.

As armas de Verstappen

Mas há um porém: se o carro não desgasta muito os pneus, isso também quer dizer que ele coloca menos temperatura neles, e isso pode ser ruim para uma volta lançada na classificação. De fato, o carro da Red Bull é melhor aos domingos do que aos sábados, principalmente pela dificuldade em colocar temperatura nos pneus dianteiros.

Continua após a publicidade

É aí que entra Verstappen. Ele consegue compensar isso. Fez oito poles positions em 14 corridas, sem contar as sprints. Algumas delas em condições particularmente difíceis para um carro com as características do RB19.

Nas corridas, Verstappen já há alguns anos é o piloto mais decidido na hora de ultrapassar. Já era assim antes de ter o DRS poderoso da Red Bull (que as outras equipes ainda não entendem totalmente como funciona e não conseguem reproduzir), trata-se de uma combinação perfeita.

As falhas de Perez

Sergio Pérez após o GP da Espanha, em que foi o quarto colocado
Sergio Pérez após o GP da Espanha, em que foi o quarto colocado Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Tudo isso ajuda a entender por que o domínio é só de Max Verstappen desde o começo de maio, quando ele iniciou a sequência atual ultrapassando o companheiro Sergio Perez no final da corrida depois de se recuperar de um erro na classificação. Diz o holandês que, na prova anterior, vencida por Perez, ele foi mexendo nas configurações do volante e na sua pilotagem e encontrou algo que o fez levar o RB19 a outro patamar.

Antes disso, embora a Red Bull tenha vencido todas as provas, Verstappen também era mais suscetível a ter dificuldades com a frente ?teimosa? do carro, especialmente em classificação. E isso ajuda a explicar por que ele teve seus altos e baixos no começo da temporada, andando às vezes atrás de Perez.

Continua após a publicidade

Seus experimentos na corrida de Baku mudaram essa tendência, e deixaram Perez com os altos e baixos. E esses baixos tendem a ser piores quando a temperatura cai, quando chove. E a F1 teve, a partir do Canadá, uma série de sábados com os termômetros perto (e muitas vezes abaixo) dos 20ºC, muitas vezes com chuva.

É uma condição que seria mais difícil para o carro da Red Bull e que Verstappen aprendeu a contornar.

As falhas dos rivais

As duas últimas corridas mostram bem o cenário da temporada: na Holanda, McLaren e Mercedes estavam mais próximas da Red Bull na classificação. Na Itália, foi a Ferrari. E isso tem ocorrido desde o início da temporada. As outras equipes têm muitos altos e baixos, dependem muito da característica de cada pista para andar bem.

E também ainda estão tateando para mudar seus carros sem passar do teto de gastos, que dificulta virar o jogo. Não é por acaso que tem muita equipe trabalhando em projetos significativamente diferentes para 2024.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes